Espacios. Vol. 35 (Nº 2) Año 2014. Pág. 17 |
Indicadores de Desempenho Propostos em Pesquisas Nacionais e Internacionais para Avaliar Redes de Pequenas e Médias Empresas (PMEs)Proposed Performance indicators in national and international paper to evaluate Small and Medium Enterprises (SMEs) networkSandro César BORTOLUZZI1, Sandra Rolim ENSSLIN 2; Leonardo ENSSLIN 3; Leonardo Correa CHAVES 4 Recibido: 25/09/13 • Aprobado: 12/01/14 |
Contenido |
RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoA Avaliação de Desempenho (AD) é um instrumento de gestão importante para determinar o sucesso de redes de Pequenas e Médias Empresas (PMEs) (CAMARINHA-MATOS e ABREU, 2007; CARPINETTI, GALDÁMEZ e GEROLAMO, 2008; WEGNER e MISOCSKY, 2010; CASSANEGO JUNIOR e MAEHLER, 2010). Um componente essencial dos sistemas de Avaliação de Desempenho é o desenvolvimento de Indicadores de Desempenho (ID) (NEELY e GREGORY, 1995; KAPLAN e NORTON, 2004). No entanto, a literatura aponta que as pesquisas relacionadas à proposição de ID para redes de PMEs são restritas (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008). Adicionalmente, argumenta-se que os Indicadores de Desempenho propostos servem, em sua maioria, para avaliar aspectos econômico-financeiros (WEGNER e MISOCSKY, 2010) e para avaliar as empresas individuais, e não a rede de PMEs (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008). Dessa forma, entende-se que os IDs propostos para avaliar o desempenho de redes de pequenas e médias empresas (ADRPMEs) devem considerar medidas financeiras, não financeiras, qualitativas e quantitativas (WEGNER e MISOCSKY, 2010). Além disso, devem ser construídos de acordo com os objetivos dessas organizações, respeitando os objetivos da rede e também das empresas individuais (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008). Sendo assim, construir ID para redes de PMEs é uma atividade complexa, pois envolve diferentes atores, tais como: gestores da rede, gestores das empresas individuais, entidades de apoio; diferentes elementos, como aspectos financeiros, não financeiros, quantitativos, qualitativos, objetivos e subjetivos; entretanto, é uma interessante linha de pesquisa que deve ser estimulada (CASSANEGO JUNIOR e MAEHLER, 2010). Nesse contexto, emerge a pergunta de pesquisa que orienta o presente trabalho: Quais ID são propostos nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais e internacionais para avaliar redes de Pequenas e Médias Empresas? Para responder à pergunta de pesquisa, determinou-se o seguinte objetivo geral: identificar e categorizar os ID propostos nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais e internacionais sobre redes de PMEs. Justifica-se a realização da presente pesquisa em função da importância, originalidade e viabilidade (CASTRO, 1977). Entende-se que a pesquisa é importante por sua contribuição teórica ao tema ADRPMEs, pois consegue consolidar os principais ID propostos para avaliar redes de PMEs e agrupar esses Indicadores em categorias de análise, que, futuramente, podem servir de base para avaliar essas redes de cooperação e para elaborar futuros trabalhos acadêmicos sobre o tema. O trabalho é caracterizado como original, pois não se identificou na literatura iniciativas no sentido de mapear um portfólio bibliográfico de artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, com o objetivo de consolidar os principais IDs propostos para avaliar redes de PMEs. E, por fim, o trabalho é viável, pois as informações utilizadas na pesquisa são de acesso livre para pesquisadores no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A pesquisa apresenta as seguintes limitações: (i) a busca foi realizada apenas em artigos publicados em periódicos científicos nacionais e internacionais; (ii) foram considerados apenas os periódicos disponíveis no portal de periódicos da CAPES; (iii) foram excluídos Indicadores que não estavam claros no nome e/ou descrição o que pretendia avaliar. 2. Referencial TeóricoAs empresas buscam alcançar objetivos e, em função disso, os gestores necessitam de IDs e ferramentas de AD que permitam comparar os objetivos estipulados com os alcançados, a fim de mensurar a eficácia de suas estratégias (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008). No que se refere às redes de cooperação empresarial, a questão da AD abrange os objetivos das empresas individuais e os objetivos da rede. Dessa forma, além dos IDs para medir os objetivos das empresas individuais, faz-se necessário que a rede e os objetivos da rede de cooperação sejam de alguma forma avaliados (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008). Medir o desempenho de uma rede colaborativa, bem como o desempenho individual de cada um de seus membros, poderia representar um importante reforço para a gestão da rede (CAMARINHA-MATOS; ABREU, 2007). No entanto, cabe salientar que os modelos de AD encontrados na literatura privilegiam as empresas individuais, em detrimento da AD da rede de cooperação (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008), sendo importante destacar que é difícil fazer com que IDs construídos para empresas individuais sejam úteis para redes (CAMARINHA-MATOS; ABREU, 2007). Percebe-se, dessa forma, que os modelos de AD e a proposição de Indicadores para avaliar redes de PMEs são pouco estudados na literatura (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008). As principais limitações e dificuldades para elaborar medidas de desempenho e sistemas de Avaliação de Desempenho dizem respeito à cultura das empresas que fazem parte da rede e à falta de recursos (CARPINETTI, GALDÁMEZ e GEROLAMO, 2008). Apesar de poucos trabalhos abordarem a proposição de ferramentas e IDs para ADRPMEs, as pesquisas científicas sugerem que as redes: (i) adotem IDs e que esses devem ser utilizados de acordo com o escopo dessas organizações (que sejam atendidos os objetivos coletivos propostos pela rede) (ADAM, OLIVEIRA e SCHMIDT, 2008); e (ii) considerem elementos importantes, tais como: (a) usar medidas financeiras e não financeiras, sendo que, na prática, percebe-se uma tendência dos gestores em argumentarem a favor de medidas financeiras, por serem mais fáceis de serem mensuradas, em detrimento de medidas não financeiras (CARPINETTI, GALDÁMEZ e GEROLAMO, 2008); (b) medir aspectos objetivos e subjetivos (WEGNER e MISOCSKY, 2010); (c) mensurar variáveis qualitativas e quantitativas (WEGNER e MISOCSKY, 2010); (d) envolver todos os atores da rede e das empresas individuais na definição dos objetivos e ID, ou seja, a presença dos principais stakeholders para a definição dos indicadores é importante para a correta definição de quais medidas devem ser consideradas no modelo de avaliação (CARPINETTI, GALDÁMEZ e GEROLAMO, 2008), e, (e) fazer com que as medidas de desempenho originem-se do posicionamento estratégico da rede (CARPINETTI, GEROLAMO e GALDÁMEZ, 2008). Na literatura, percebem-se esforços para desenvolver alguns modelos para atender às exigências das redes de empresas que possibilitem avaliar dimensões relevantes e específicas da prática de cooperação entre as empresas. A preocupação tem sido avaliar o sucesso da rede, os resultados da cooperação entre as empresas, o relacionamento entre os gestores das empresas individuais participantes da rede, o relacionamento dos gestores da rede com os gestores das empresas individuais participantes (WEGNER E MISOCSKY, 2010). No entanto, apesar de existirem iniciativas de pesquisas sobre os fatores que contribuem para o sucesso de redes, aponta-se a ausência de IDs para avaliar os resultados gerados (BITITCI et al., 2004). Sabe-se que as empresas aderem a redes de cooperação e trazem consigo diferentes recursos e avaliam o resultado da cooperação em função dessa contribuição. Entretanto, a literatura não consegue explicar como mensurar todos os ganhos da colaboração e também não sabe como definir quais IDs devem ser construídos para avaliar a complexidade do relacionamento entre as empresas, apesar de saber que o sucesso da rede está diretamente ligado à qualidade desse relacionamento (BITITICI et al., 2007). Percebe-se, no contexto apresentado, que construir ferramentas e IDs para avaliar redes de cooperação não é uma tarefa simples. Dessa forma, os autores do presente artigo entendem que a construção de modelos de AD e IDs para redes de PMEs deve considerar os seguintes paradigmas: (i) ser construído em forma personalizada para representar os valores e preferências de seus gestores associados às especificidades do ambiente que se propõe avaliar; (ii) reconhecer que os gestores, mesmo vivenciando o contexto diariamente, não têm claros seus objetivos; perguntar a eles quais são seus objetivos para o contexto irá gerar respostas desalinhadas que os próprios gestores posteriormente questionarão; o processo utilizado deve reconhecer essas limitações de conhecimento e ajudar os gestores a construir seu entendimento segundo seus valores e preferências; (iii) os objetivos contidos no modelo de AD são frutos não só dos valores individuais do gestor, mas também de como este é influenciado pelo contexto onde opera; (iv) a construção do modelo de AD requer a participação contínua do gestor, para assegurar a construção de seu conhecimento sobre o problema e ter legitimidade; (v) para dar fundamentação e validade às mensurações realizadas, estas necessitam atender aos requisitos da Teoria da Mensuração; (vi) o modelo deve, em cada uma de suas etapas de construção e uso, ter o reconhecimento do gestor quanto à legitimidade do conhecimento construído e sua representação no modelo explícito, assim como garantir que todos os instrumentos utilizados tenham reconhecimento científico (ENSSLIN et al., 2010; BORTOLUZZI et al., 2010; 2011). Para destacar os paradigmas, cabe salientar a filiação teórica dos autores sobre o conceito de Avaliação de Desempenho Organizacional (ADO). Para a presente pesquisa, os autores se baseiam no conceito de ADO que preconiza que é o processo de gestão utilizado para construir, fixar e disseminar conhecimentos por meio da identificação, organização, mensuração e integração dos aspectos necessários e suficientes para medir e gerenciar o desempenho dos objetivos estratégicos de um determinado contexto da organização (ENSSLIN et al., 2010). 3. Metodologia da pesquisa3.1. Enquadramento metodológicoA presente pesquisa é de natureza descritiva (GIL, 1999), pois busca mapear os Indicadores propostos para avaliar redes de PMEs. Para realizar esse mapeamento, buscaram-se os artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais sobre o tema de pesquisa. Após a seleção do portfólio bibliográfico, buscou-se descrever e analisar criticamente os Indicadores propostos pelos autores e criar categorias (grupos) de análise. Em relação à abordagem do problema, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa (RICHARDSON, 2008), pois foram buscados, nos artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, os Indicadores para avaliar redes de PMEs e, posteriormente, classificaram-se esses Indicadores em categorias de análise, sendo que, para o presente artigo, essas informações não foram analisadas por meio de ferramentas estatísticas. No que se refere à natureza do artigo, a pesquisa caracteriza-se como teórico-conceitual, pois busca consolidar a literatura sobre os Indicadores propostos para avaliar redes de PMEs (ALAVI e CARLSON, 1992). 3.2. Procedimentos para busca bibliográficaA busca bibliográfica foi realizada em periódicos nacionais e internacionais por meio de dois processos estruturados que deram origem aos Portfólios Bibliográficos utilizados. Primeiro, apresenta-se o processo Knowledge Development Process- Constructivist - ProKnow-C (TASCA et al., 2010; CHAVES et al., 2013) utilizado para selecionar o Portfólio Bibliográfico (PB) de pesquisas publicadas em periódicos internacionais. Para formar o PB do tema de pesquisa, o processo divide-se em duas fases principais: (i) seleção do banco de artigos bruto, e (ii) filtragem do banco de artigos. A primeira fase é subdividida, por sua vez, em três etapas, quais sejam: (a) definir palavras-chave; (b) definir bases de dados, e (c) buscar artigos nas bases de dados com as palavras-chave. A segunda fase é subdividida, por sua vez, em cinco etapas, quais sejam: (a) eliminação de artigos repetidos; (b) alinhamento pela leitura do título; (c) alinhamento quanto ao reconhecimento científico; (d) alinhamento pela leitura do resumo, e (e) alinhamento pela leitura integral. Para atender à fase de seleção do banco de artigos bruto para formar o PB sobre redes de PMEs, inicialmente definiram-se os eixos de pesquisa e palavras-chave para cada eixo. Donde, todas as possíveis combinações entre as palavras-chave dos eixos de pesquisa foram formadas. Cabe salientar que a busca foi realizada por meio das 90 possíveis combinações entre as palavras-chave, com o uso da expressão booleana AND, que indica que o retorno de artigos acontece quando as três palavras-chave aparecem nos campos de busca. No desenvolvimento da segunda etapa, inicialmente, definiram-se as Bases de Dados (BDs) para a realização da pesquisa. Como critérios para seleção das Bases de Dados estabeleceram-se os seguintes aspectos: (i) as BDs deveriam constar no Portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); (ii) para ser escolhida, a BD deveria estar em uma das seguintes três grandes áreas da CAPES: Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias e Multidisciplinar, pois essas três grandes áreas são as mais alinhadas com o tema ilustrado na pesquisa; (iii) as BDs deveriam disponibilizar ferramenta de busca com a possibilidade de uso de expressões booleanas; (iv) as ferramentas de busca das BDs deveriam disponibilizar a possibilidade de pesquisar nos campos: Título, Resumo e Palavras-Chave. Dessa forma, 23 bases de dados atenderam aos critérios estabelecidos. Na sequência, verificou-se o alinhamento das palavras-chave nas Bases de Dados, ou seja, buscou-se uma quantidade de artigos para as combinações de palavras-chave. Com isso, foi possível fixar a representatividade desejada, isto é, decidir a quantidade de BDs que seriam pesquisadas. Com a análise realizada, decidiu-se manter a busca em todas as bases relacionadas. A terceira etapa consistiu em realizar a busca em cada BDs por meio das combinações de palavras-chave. Salienta-se que os campos de busca foram: Título, Resumo e Palavras-Chave do artigo. Destaca-se também que não se restringiu a busca em relação ao período de tempo, ou seja, buscou-se o intervalo de datas disponibilizado pelas Bases de Dados. Esse processo resultou no banco de artigos bruto preliminar de 3.375 artigos. Finalmente, para conclusão da fase de seleção do banco de artigos bruto para formar o PB sobre redes de PMEs, foi realizado o teste de aderência das palavras-chave. O objetivo aqui é verificar a necessidade de incorporar novas palavras-chave, com vistas a garantir um portfólio alinhado. Para tanto, procedeu-se à leitura dos títulos dos artigos encontrados; todas as palavras-chave dos artigos foram coletadas e comparadas com as palavras-chave utilizadas na busca inicial. Com a realização desse processo, verificou-se que não existia a necessidade de incorporar novas palavras-chave. Sendo assim, passou-se para a próxima fase. A primeira etapa da fase de filtragem do banco de artigos refere-se à importação dos artigos para um software de gerenciamento bibliográfico. Dessa forma, foram importados para o software Endnote os 3.375 artigos do banco de artigos bruto. Após a importação, o software permite a exclusão dos artigos repetidos. Dessa forma, foram excluídos 2.289 artigos repetidos e restaram 1.086 artigos não repetidos. A etapa seguinte foi a leitura dos 1.086 títulos com o objetivo de verificar o alinhamento dos artigos ao tema. Cabe salientar que, nessa etapa, buscaram-se excluir os artigos que apresentavam total desalinhamento com o tema; na dúvida, o artigo foi mantido para análise mais detalhada nas próximas etapas. Como resultado do processo de leitura, restaram 501 artigos alinhados ao tema (excluíram-se 585 artigos que não apresentavam alinhamento). A próxima etapa consiste na identificação do reconhecimento científico dos artigos. Nesse processo, o reconhecimento científico é aferido pelas citações em outros trabalhos científicos; assim identificou-se a quantidade de vezes que cada artigo foi citado. Para fins de padronização, considerando diferentes bases de dados, buscou-se a quantidade de citações de cada artigo no Google acadêmico. O resultado dessa etapa foi a identificação de 215 artigos com maior reconhecimento científico (97% das citações) e 286 com menor reconhecimento científico (3% das citações). A próxima etapa consistiu em realizar a leitura dos 215 resumos dos artigos com maior reconhecimento científico, com o objetivo de verificar o alinhamento do artigo com o tema de pesquisa. Adicionalmente aos 215 artigos, foram incorporados 27 artigos das referências do PB em função do teste da sua representatividade. Após essa etapa, restaram 57 artigos que foram “guardados” no repositório A. A etapa seguinte teve o objetivo de filtrar os 286 artigos com menor reconhecimento científico que foram analisados para se saber se o artigo era recente e se o autor estava presente no repositório A. Por meio da leitura desses resumos, identificaram-se 17 artigos que foram “guardados” no repositório B. Na sequência, juntaram-se os artigos “guardados” nos repositórios A (57 artigos) e B (17 artigos) formando um único repositório, denominado C, composto por 74 artigos. A etapa final da filtragem do banco de artigos consiste em fazer a seleção quanto ao alinhamento integral do artigo. O resultado dessa etapa foi a seleção de 21 artigos que formam o PB internacional. Em relação à busca em periódicos nacionais, utilizaram-se os seguintes procedimentos: a busca ocorreu nos periódicos nacionais da área de Administração, Contabilidade, Turismo e Engenharia III, classificados como Estrato Qualis A1 a B5, pela CAPES, vigente até fevereiro de 2012. Cabe salientar que a busca ocorreu nos periódicos selecionados e que não houve restrição quanto ao período pesquisado. Foram pesquisados 408 periódicos científicos onde foram identificados, por meio de palavras-chave, 668 artigos gerais sobre o tema. Na sequência, realizou-se a leitura dos 668 resumos, sendo que foram identificados 55 artigos alinhados. Após isso, foi feita a leitura integral dos 55 artigos para verificar os que estavam totalmente alinhados ao tema. Após a leitura dos 55 artigos, selecionaram-se 33 artigos alinhados e 22 artigos foram excluídos por desalinhamento. Dessa forma, 33 artigos formaram o PB nacional selecionado para realizar a presente pesquisa. 3.3. Procedimentos para análise dos dadosA análise de conteúdo (BARDIN, 2004) foi utilizada para ler, interpretar e processar as informações dos artigos científicos selecionados. Foram mapeados os artigos com o objetivo de extrair das pesquisas os IDs e, posteriormente, classificar estes em categorias de Análise do Desempenho de Redes de PMEs. Para realizar o mapeamento dos 21 artigos do PB internacional e dos 33 artigos do PB nacional, procedeu-se à leitura integral desses artigos e extraíram-se da proposta e/ou aplicação das ferramentas de AD os Indicadores para avaliar redes de PMEs. Essas informações foram registradas em uma planilha eletrônica, organizadas por um número sequencial de cada trabalho, o nome dos autores, o ano de publicação, o periódico em que o artigo foi publicado e uma coluna com os IDs propostos e/ou aplicados. Após realizar uma análise dos IDs, estabeleceram-se as seguintes categorias de análise: (i) troca de conhecimentos; (ii) inovação; (iii) aspectos econômico e financeiros; (iv) atividades conjuntas; (v) responsabilidade social e ambiental; (vi) recursos humanos; (vii) apoios institucionais; (viii) compras/fornecedores; (ix) relacionamento entre os parceiros; (x) produto/produtividade; (xi) processos internos; e, (xii) competitividade/clientes/vendas. 4. Apresentação e discussão dos resultadosApresenta-se, na Figura 1, o resultado do agrupamento dos indicadores relacionados à troca de conhecimentos e informações. Figura 1 – Indicadores propostos para avaliar a troca de conhecimentos/informações Constata-se na Figura 1 que os IDs relacionados à troca de conhecimentos e informações em redes de PMEs, identificados em pesquisas publicadas em periódicos internacionais, buscam medir o conhecimento adquirido após a adesão a redes de empresas, a cobertura do sistema de informações, o nível de informações que os parceiros estão dispostos a compartilhar e a transferência de informações. Nas publicações nacionais, os IDs buscam medir os atrasos nas trocas de informações, a comunicação interna entre os parceiros, a troca de informações em função da extensão e intensidade, a troca de conhecimentos e a aprendizagem com a participação na rede e a troca de conhecimentos entre os associados. A comparação das publicações em periódicos internacionais versus nacionais, nessa categoria, permite concluir que existem IDs complementares. A próxima análise refere-se aos IDs propostos para avaliar a inovação (Figura 2). Figura 2 - Indicadores propostos para avaliar a inovação A inovação é apontada na literatura como uma das principais vantagens de fazer parte de uma rede de cooperação (SILVA et al., 2008). Nas pesquisas internacionais, os IDs relacionados à inovação buscam avaliar os recursos destinados a pesquisas e desenvolvimento, os acordos relacionados à propriedade intelectual, à quantidade de patentes, à taxa de inovação atual e futura, às capacidades tecnológicas e ao tempo gasto na criação; nas pesquisas nacionais, os IDs buscam avaliar as atividades inovadoras, a inovação em processos e produtos, desenvolvimento de produtos e novas tecnologias. A comparação das publicações em periódicos internacionais versus nacionais, nessa categoria, permite concluir que cada autor encontra aspectos específicos que podem ser mensurados em relação à inovação. Cabe salientar que, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, há uma preocupação com as capacidades tecnológicas, que podem impulsionar a inovação. Além disso, a literatura internacional trata a inovação em uma forma temporal ao considerar indicadores como a taxa inovação atual e futura, enquanto que a literatura nacional trata a inovação em uma forma categórica como, por exemplo, a inovação em processos e produtos. A próxima análise refere-se aos aspectos econômicos e financeiros (Figura 3). Figura 3 - Indicadores propostos para avaliar os aspectos econômicos e financeiros A literatura aponta que se devem considerar IDs financeiros e não financeiros para avaliar redes de PMEs (CARPINETTI, GALDÁMEZ e GEROLAMO, 2008). Entretanto verifica-se que a preocupação dos autores está relacionada aos indicadores financeiros. Esse aspecto pode ser justificado em função das pesquisas nacionais apresentarem maior enfoque nas questões financeiras em detrimento das questões não financeiras; enquanto nas pesquisas internacionais as preocupações estão relacionadas simplesmente à receita, ao custo e lucro, as pesquisas nacionais apresentam indicadores econômicos e financeiros mais elaborados, tais como: economic value added (EVA) e retorno sobre o investimento. A próxima análise refere-se aos IDs propostos para avaliar as atividades conjuntas realizadas entre as empresas que fazem parte da rede de cooperação. O resultado desse agrupamento pode ser visualizado na Figura 4.
Figura 4 - Indicadores propostos para avaliar as atividades conjuntas Realizar atividades conjuntas é o maior desafio da gestão das redes de cooperação (BITITCI et al., 2007). Dessa forma, desenvolver indicadores para avaliar o sucesso das atividades colaborativas não é uma tarefa simples (CAMARINHA-MATOS e ABREU, 2007). No entanto, a Figura 4 apresenta, na visão de diferentes autores, indicadores que se propõem a avaliar as atividades conjuntas desenvolvidas pelos parceiros da rede. Nas pesquisas internacionais, os indicadores referem-se à aplicação de recursos, à clareza e transparência, à eficiência coletiva, à economia de escala, à integração tecnológica, à partilha de riscos e aquisições conjuntas. Nas pesquisas nacionais, os autores se preocupam também com aquisições conjuntas, capacidade de investimento conjunto, comercialização e distribuição, desenvolvimento de produtos, economia de escala, redução de custos e número de associados. A próxima análise refere-se aos indicadores propostos para avaliar aspectos relacionados à responsabilidade social e ambiental das empresas pertencentes a redes de cooperação. O resultado desse agrupamento pode ser visualizado na Figura 5. Nesta categoria emerge um fato curioso: apenas uma pesquisa internacional aponta indicador para avaliar aspectos relacionados à responsabilidade social e ambiental; já no contexto nacional, verifica-se a existência de mais IDs representando essa categoria.
Figura 5 - Indicadores propostos para avaliar a responsabilidade social e ambiental A Figura 6 apresenta os IDs para avaliar os recursos humanos.
Figura 6 - Indicadores propostos para avaliar os recursos humanos A gestão dos recursos humanos é uma preocupação presente para os gestores das empresas individuais e não é diferente para os gestores de redes de PMEs. Dessa forma, desenvolver indicadores para avaliar esses aspectos é importante para o sucesso da rede. A partir das informações apresentadas na Figura 6 percebe-se que os indicadores propostos em ambos contextos são similares e relacionados a avaliação da produtividade e da qualificação/treinamento dos recursos humanos. A seguir os IDs para avaliar aspectos relacionados ao apoio que as redes de PMEs recebem de diferentes instituições são apresentados na Figura 7.
Figura 7 - Indicadores propostos para avaliar apoios institucionais Nas pesquisas publicadas em periódicos internacionais, os autores propõem indicadores para avaliar a relação das empresas participantes da rede de cooperação com diferentes instituições de apoio. Os indicadores propostos estão relacionados às políticas de apoio às redes, aos envolvimentos das instituições de ensino, pesquisa, órgãos governamentais e instituições financiadoras. Nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais, os indicadores estão relacionados ao acesso ao crédito, ou seja, à relação da rede com as instituições financeiras e à independência da rede em relação às instituições de apoio. A seguir apresentam-se os IDs relacionados a compras e fornecedores (Figura 8).
Figura 8 - Indicadores propostos para avaliar compras/fornecedores Conforme Figura 8, nas pesquisas publicadas em periódicos internacionais, identifica-se apenas uma que propõe indicador para avaliar os aspectos relacionados a compras e fornecedores, que é o percentual de fornecedores externos; já nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais, aparecem cinco indicadores. A gestão do relacionamento é um aspecto importante para o sucesso de redes de cooperação. Nesse sentido, verifica-se na Figura 9 a quantidade de indicadores propostos para avaliar o relacionamento entre os parceiros. Entre os aspectos mais importantes apontados nas pesquisas internacionais estão a confiança, os benefícios que espera da rede e os benefícios que a empresa individual traz para a rede, a definição clara dos direitos e deveres, o envolvimento das empresas e o número de empresas que fazem parte da rede. Em relação às pesquisas nacionais, os autores apontam indicadores como: comprometimento, confiança, durabilidade do relacionamento e quantidade de empresas envolvidas na cooperação. Figura 9 - Indicadores propostos para avaliar o relacionamento entre os parceiros A próxima análise refere-se aos ID propostos para avaliar aspectos relacionados ao produto e produtividade. Nas pesquisas publicadas em periódicos internacionais, percebe-se que as preocupações a serem medidas são congruentes e complementares. (Figura 10). Figura 10 - Indicadores propostos para avaliar o produto/produtividade A seguir apresenta-se o agrupamento dos IDs relacionados aos processos internos. Figura 11 - Indicadores propostos para avaliar gestão/processos internos Conforme informações constantes na Figura 11 esta categoria é a que apresenta IDs mais diferenciados entre os contextos analisados. A seguir apresentam-se os IDs propostos para competitividade, cliente e vendas. Figura 12 - Indicadores propostos para avaliar competitividade/clientes/vendas Nesta categoria percebe-se que os IDs utilizados no contexto internacional buscam uma maior cobertura do aspecto relacionado à competitividade, analisando questões internas e externas da organização; já os nacionais são mais voltados aos aspectos internos. 5. Considerações FinaisO estudo teve o propósito de responder à seguinte pergunta de pesquisa: Quais IDs são propostos nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais e internacionais para avaliar redes de Pequenas e Médias Empresas? Para responder à pergunta de pesquisa, determinou-se o seguinte objetivo geral: identificar e categorizar os Indicadores de Desempenho propostos nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais e internacionais sobre redes de PMEs. A pergunta de pesquisa foi respondida e o objetivo geral alcançado à medida que a pesquisa realizada conseguiu consolidar e categorizar os Indicadores propostos para avaliar redes de PMEs identificados nas pesquisas publicadas em periódicos nacionais e internacionais. De forma pontual argumenta-se pelo alcance do objetivo da pesquisa à medida que: (i) utiliza um processo estruturado para selecionar um PB nacional e internacional sobre ADRPMEs, conforme apresentado na seção 3.2 – Procedimentos para busca bibliográfica; (ii) por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 2004) dos 21 artigos do PB internacional e dos 33 artigos do PB nacional mapeou os IDs propostos e/ou utilizados para avaliar o desempenho de redes de PMEs; e, (iii) por meio da classificação de cada um dos IDs encontrados nos artigos do PB identificou as seguintes categorias: troca de conhecimentos; inovação; aspectos econômicos/financeiros; atividades conjuntas; recursos humanos; responsabilidade social e ambiental; apoios institucionais; relacionamento entre os parceiros; produto/produtividade; processos internos; compras/fornecedores; e, competitividade/clientes/vendas. Cumpre salientar que a classificação nas 12 categorias foi realizada por meio da análise de conteúdo. Para isso, foi realizada a leitura do título do ID, a descrição (quando apresentada pelos autores), a fórmula de cálculo (quando apresentada pelos autores), sendo que, por meio desse entendimento, classificaram-se cada ID em uma das categorias de análise. Sendo assim, as 12 categorias de análise representam as perspectivas/dimensões para ADRPMEs propostas pelos autores que publicaram artigos em periódicos nacionais e internacionais. Constatou-se também que alguns IDs foram propostos em mais de um artigo, dentre eles destacam-se: custos; faturamento; troca de informações; grau de confiança; inovação; compartilhamento de marketing; qualidade; lucratividade; preço médio de venda; número de empregados; treinamentos; percentual de empresas envolvidas na cooperação; produtividade; participação no mercado; e, desenvolvimento de novos produtos. Adicionalmente, foi constatado que são propostos IDs financeiros e não financeiros para ADRPMEs. No entanto, os ID financeiros representam a maioria dos ID propostos. Com isso, percebe-se que, para ADRPMEs, é importante considerar ID financeiros e não financeiros, como preconiza a literatura (CARPINETTI, GALDÁMEZ e GEROLAMO, 2008). Percebe-se também que, nos ID propostos, existem ID que avaliam a empresa individualmente e a rede em sua coletividade, conforme preconizada pela literatura (CAMARINHA-MATOS; ABREU, 2007). Em linhas gerais, conclui-se que o mapeamento traz importante contribuição ao tema, pois pode apoiar a gestão de redes de PMEs e contribuir com novas pesquisas de ADRPMEs. A pesquisa apresenta as seguintes limitações: (i) a busca restringiu-se aos periódicos com acesso gratuito pelo Portal de periódicos da CAPES; (ii) algumas etapas do processo de busca são subjetivas, como a leitura dos títulos e resumos; e, (iii) as categorias de análise do desempenho desenvolvidos para esse trabalho também são subjetivos, uma vez que os próprios autores é que definiram as categorias pelo entendimento de cada ID. Como sugestões para futuras pesquisas citam-se: (i) ampliar a busca em outros periódicos não contemplados no Portal de periódicos da CAPES; (ii) utilizar métodos quantitativos para definir as categorias de análise; e, (iii) utilizar as categorias e os ID para verificar com os gestores de redes de PMEs o grau de importância de cada indicador e sua utilidade para gestão da rede. ReferênciasADAM, C. R.; OLIVEIRA, J. H. R.; SCHMIDT, S (2008). “Proposição de indicadores para avaliação de desempenho de redes de cooperação gaúchas”. Redes: Revista do Desenvolvimento Regional, 13(3) 218-240. ALAVI, M.; CARLSON, P. “A review of MIS research and disciplinary development”. Journal of Management Information Systems, 8(4), 45-62, 1992. BARDIN, L.. Análise de Conteúdo. Lisboa: edições 70, 2004. BITITCI, U. S.; MARTINEZ, V.; ALBORES, P.; PARUNG, J. “Creating and managing value in collaborative networks”. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, 34(3), 251-268, 2004. BITITCI, U. S.; TURNER, T.; MACKAY, D.; KEARNEY, D.; PARUNG, J. WALTERS, D. “Managing synergy in collaborative enterprises”. Production Planning & Control, 18(6), 454-465, 2007. BORTOLUZZI, Sandro César; ENSSLIN, S. R.; ENSSLIN, L. Avaliação de Desempenho dos aspectos tangíveis e intangíveis da área de mercado: estudo de caso em uma média empresa industrial. Revista Brasileira de Gestão de Negócios (São Paulo. Impresso), 12(37), 425-446, 2010. BORTOLUZZI, Sandro César; ENSSLIN, S. R.; ENSSLIN, L. Avaliação de desempenho multicritério como apoio à gestão de empresas: aplicação em uma empresa de serviços. Gestão & Produção (UFSCAR. Impresso), 18(3), 633-650, 2011 CAMARINHA-MATOS, L. M.; ABREU, A. “Performance indicators for collaborative networks based on collaboration benefits”. Production Planning & Control, 18(7), 592-609, 2007. CARPINETTI, L. C. R.; GALDÁMEZ, E. V. C.; GEROLAMO, M. C. “A measurement system for managing performance of industrial clusters: A conceptual model and research cases”. International Journal of Productivity and Performance Management, 57(5), 405-419, 2008. CASSANEGO JR, P; MAEHLER, A. E. “O programa de apoio aos arranjos produtivos locais (APL`S) no RS: Uma política de criação de vantagem competitiva as empresas de micro e pequeno porte”. RDE Revista de Desenvolvimento Econômico, 12(21), 62-73, 2010. CASTRO, C. M. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1977. CHAVES, L.C.; ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S.R ; MÁRIO, P.C.; CARNEIRO, S.S.; BORGERT, A. A utilização da Engenharia do Valor e Custo-Alvo na redução de custos. Espacios (Caracas), 34(2), 16, 2013 ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S. R.; LACERDA, R. T. O.; TASCA, J. E. “ProKnow-C, Knowledge Development Process- Constructivist”. Processo técnico com patente de registro pendente junto ao INPI. Brasil, 2010. GALDÁMEZ, E. V. C.; CARPINETTI, L. C. R.; GEROLAMO, M. C. “Proposta de um sistema de avaliação do desempenho para arranjos produtivos locais”. Gestão & Produção, 16(1), 133-151, 2009. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. “Measuring the Strategic Readiness of Intangible Assets”. Harvard Business Review, 82(2), 52-63, 2004. NEELY, A.; GREGORY, M. “Performance measurement system design”. International Journal of Operations & Producy Management, 15, 1995. RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. SILVA, M. J.; LEITAO, J.; LEITÃO, D.; RAPOSO, M. “Como transferir conhecimento em redes de inovação? Uma proposta de «benchmarking»”. Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, 7(2), 22-35, 2008. TASCA, J. E.; ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S. R.; ALVES, M. B. M. “An approach for selecting a theoretical framework for the evaluation of training programs”. Journal of European Industrial Training, 34(7), 631-655, 2010. WEGNER, D.; MISOCSKY, M. C. “Avaliação de desempenho de redes de pequenas empresas: contribuições da abordagem da produção de sentido”. Revista O&S, 17(53), 456-361, 2010. |
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - scbortoluzzi@gmail.com
|