1. Introdução
A evolução constante dos mercados tem tornado o ambiente econômico cada vez mais competitivo para as organizações estarem atuando no cenário global, fazendo com que algumas utilizem novas formas para a realização de seus negócios, tendo como um de seus principais desafios o de desenvolvimento de novos modelos de gestão. O aumento deste dinamismo condiciona as organizações a responderem rapidamente e com flexibilidade as exigências do mercado, mantendo, sobretudo a qualidade dos serviços e dos custos sobre os produtos. Neste contexto, a busca pela eficiência no desenvolvimento das atividades logísticas torna-se mais relevantes, demandando o arranjo de áreas de serviços que possam racionalizar os processos de suprimentos, produção e distribuição.
Em face deste cenário as plataformas logísticas surgem como uma alternativa frente aos desafios contemporâneos, os quais compreendem no âmbito das organizações privadas a busca por uma maior competitividade no mercado onde atuam e as entidades públicas que necessitam fomentar e fornecer condições de infraestrutura para que os diferentes atores envolvidos possam satisfazer suas necessidades neste ambiente.
A plataforma logística (PL) é um local específico onde as atividades relativas à produção, transportes, logística e distribuição de mercadorias são realizadas, utilizando-se de uma mesma base de serviços onde os diferentes atores envolvidos se relacionam com objetivo de obter uma maior eficiência em suas operações e consequentemente uma maior vantagem competitiva no mercado em que atuam (Rimien? e Grundey, 2007; Meidut?, 2007; Boudoin, 1996; Bastos, 2001; Duarte, 2004; Cambra-fierro e Ruiz-Benitez, 2009).
A governança das plataformas logísticas tornam-se complexas, na medida em que estes empreendimentos caracterizam-se em muitos casos por uma elevada quantidade de empresas participantes ou mesmo pela sua forma de gestão, que pode se dar por uma entidade privada, pública ou mesmo uma parceria público-privada. A ênfase em procedimentos e estruturas na questão de governança ou mesmo de gestão, esta relacionada em satisfazer as expectativas de prestação de contas para os stakeholders, pois empreendimentos como plataformas logísticas que se utilizam em muitos casos da parceria público-privada como forma de viabilizar o projeto necessitam de indicadores de desempenho que sejam capazes de elucidar a performance do empreendimento que visa atender aos interesses privados e também de ordem pública (Hodge e Greve, 2010; Love, 2011; Mayer, 1997; Peck et al., 2004; Young e Thyil, 2008).
De acordo com Harrington (1993), a medição de desempenho torna-se essencial para o aperfeiçoamento dos processos. Para o autor, se não é possivel medir o processo, o mesmo não poderá ser controlado e consequentemente não poderá ser gerenciado e nem aperfeiçoado. A medição de desempenho é uma técnica utilizada para quantificar a eficiência e a eficácia das atividades do negócio. A eficácia esta relacionada a avaliação do resultado de um processo no qual as expectativas dos clientes são ou não atendidas e a eficiência trata da relação entre a utilização econômica dos recursos, tendo um determinado nivel de satisfação (Lima Jr., 2004 e Neely et al. 1995).
Este artigo se propõe a analisar publicações acerca dos sistemas de medição e performance empresarial a fim de elaborar um framework de indicadores de desempenho que possam corroborar com a governança das plataformas logísticas. Na Seção 1 deste trabalho é apresentado o tema e uma breve contextualização do problema investigado. Na Seção 2, apresenta-se a metodologia e etapas do método utilizado para a realização deste trabalho. O levantamento bibliográfico e a síntese dos indicadores de desempenho identificados são apresentados nas Seções 3 e 4. A análise e discussões dos resultados obtidos são apresentadas na Seção 5. Por fim, na Seção 6, demonstram-se as conclusões e contribuições do trabalho, as quais poderão ser utilizadas como hipóteses para novas pesquisas.
2. Metodologia de pesquisa
Esta pesquisa pode ser caracterizada com relação a sua finalidade como uma pesquisa teórica, na medida em que objetiva gerar conhecimento para o esclarecimento de um problema específico, por meio de uma base bibliográfica. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), a pesquisa bibliográfica é o levantamento da bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita, pois a sua finalidade é fazer com que o pesquisador possa ter contato direto com o material escrito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações.
Tendo em vista o objetivo mais específico desta pesquisa que foi realizar um levantamento dos sistemas e elaborar um framework de indicadores de desempenho empresariais que possam corroborar com a governança das plataformas logísticas e considerando o volume de materiais publicados por diversos pesquisadores sobre a temática indicadores de desempenho ao longo do tempo, entende-se que esta pesquisa assume uma abordagem híbrida contendo uma revisão da literatura e também a análise de conteúdo das referências citadas nos trabalhos. De acordo com Karlsson (2009), a combinação de metodologias em pesquisas pode contribuir para enriquecer o estudo.
A qualidade e confiabilidade das fontes de consulta dos materiais a serem pesquisados e analisados apresentam-se como uma variável importante e também relevante para a realização da pesquisa bibliográfica. Para a realização deste trabalho foram realizadas pesquisas nas bases de dados:
i) ISI Web of Science, pois seu processo de busca possibilita o acesso a artigos que estão disponíveis em outras bases, como o Scopus, ProQuest e Wiley e que são publicados em periódicos indexados e também classificados com fator de impacto no Jornal Citation Reports (JCR). A ISI Web of Science permite que os dados coletados sobre os trabalhos pesquisados, possam inclusas informações de resumos, referências citadas, quantidade de vezes que a publicação foi citada, os autores, a instituição, o periódico e o fator de impacto da revista dentre outros aspecto, e;
ii) Base de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, na qual foi utilizada a busca avançada por assunto através do acesso VPN (virtual private network), que consiste na criação de um túnel de comunicação criptografado entre o computador e o servidor VPN da instituição, provendo um acesso seguro à rede da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. As bases de dados consultadas foram: Academic Search Premier - ASP (EBSCO); Cambridge Journals Online; Oxford Journals (Oxford University Press); ScienceDirect (Elsevier); SpringerLink (MetaPress); Wiley Online Library; ACM Digital Library; ACS Journals Search; Emerald Fulltext (Emerald), OneFile (GALE) e IEEE Xplore.
No que tange aos seus objetivos, a pesquisa caracteriza-se como exploratória, pois têm-se como intuito conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu significado e o contexto onde ela se insere. Para Collins e Hussey (2005) a pesquisa do tipo exploratória objetiva encontrar padrões, ideias ou hipóteses e não testá-los ou confirmá-los e neste sentido utiliza-se um método mais aberto, e o foco está em reunir dados e impressões amplas sobre o fenômeno estudado.
O método utilizado nesta pesquisa foi o qualitativo. Segundo Creswell (2007) o objetivo de uma pesquisa qualitativa é compreender o contexto no qual determinado fenômeno se insere a partir da relação que tal fenômeno estabelece com o sujeito e por ele é interpretado. Ainda neste sentido Roesch (2006), estabelece que o método qualitativo procura o que é comum, mas permanece aberto para perceber a individualidade e os significados múltiplos, deixando de enfatizar uma necessidade de buscar uma média estatística. A fim de atingir os objetivos propostos para esta pesquisa utilizou-se o método de trabalho ilustrado na Figura 1:
Figura 1: Método de trabalho utilizado na pesquisa
3. Plataforma logística e a governança nestes ambientes
Uma plataforma logística por integrar diversos modos de transporte promovendo o transporte intermodal entre múltiplas origens e destinos. A plataforma pode fornecer serviços de movimentação, operação, armazenagem, transbordo de carga, administração de serviços dentre outros (Ballis e Mavrotas, 2007; Hesse e Rodrigue, 2004; Silva et al., 2013a; Silva et al., 2013b;Tsamboulas et al., 2003; Wagner, 2010).
A plataforma logística deve ser um ambiente flexível capaz de responder as estratégias dos canais do mercado. Neste ambiente são realizadas atividades logísticas (armazenagem, transbordo de cargas, cross-docking etc...) e os processos devem ser padronizados e medidos. A utilização de uma plataforma logística pode servir como uma fonte de vantagem competitiva, integrando atividades dentro de um cenário específico da cadeia de suprimentos sendo visto como um fator determinante e de sucesso para muitas empresas (Aldin e Stahre, 2003; Campolongo et al., 2010; Dias et al., 2009;).
Uma das características e pré-requisitos principais do conceito de uma plataforma logística esta relacionado aos seus objetivos, os quais devem ser estabelecidos pelos seus participantes. A plataforma logística inclui conceitos de operações integradas de logística no âmbito de estrutura física, processos e suas atividades, bem como os sistemas de informação necessários ao desenvolvimento das operações e geração de relatórios (Abrahamsson et al., 2003; Aldin e Stahre, 2003; Campolongo et al., 2010; Cambra-Fierro e Ruiz-Benitez, 2009; Crainic et al., 2004; Dias et al., 2009; Gajsek et al., 2012; Mazzarino, 2012).
A gestão das plataformas logísticas pode ser privada, pública ou mesmo um misto entre as duas formas. Geralmente a gestão dos empreendimentos é centralizada, onde se tem a responsabilidade pelo planejamento das operações, o controle dos investimentos a serem realizados e também a administração e o suporte para o funcionamento local. A governança deve incluir controles rígidos, sejam estes relacionados a qualidade, segurança, riscos, gestão ambiental dentre outros aspectos. Os investimentos realizados em plataformas logísticas podem ser considerados elevados e muitas vezes realizados sobre o conceito de uma parceria público-privada, sendo necessário o cumprimento de contratos e também de uma adequada mensuração da performance do empreendimento. Um dos pontos críticos a serem considerados pela gestão nas plataformas relaciona-se aos objetivos singulares dos atores envolvidos nos processos logísticos (Ballis e Mavrotas, 2007; Hesse e Rodrigue, 2004; Silva et al. 2013a; Silva et al. 2013b, Tsamboulas et al. 2003; Wagner, 2010).
As plataformas logísticas são ambientes complexos, os quais demandam a compreensão adequada das principais atividades realizadas, os atores envolvidos e principalmente os objetivos propostos com a utilização deste tipo de empreendimento logístico. As plataformas logísticas mostram-se como uma realidade em países desenvolvidos, tendo um papel ativo na logística das organizações e no âmbito público possibilitam uma reorganização dos espaços urbanos e também contribuem para uma melhor gestão e racionalização das questões ambientais, sociais, politicas e econômicas (Silva et al. 2013a).
A governança é composta por procedimentos associados à tomada de decisões, desempenho e controle das organizações, com o fornecimento de estrutura para dar uma direção geral para a organização e para satisfazer expectativas razoáveis da prestação de contas para os que estão dentro ou são externos a própria organização (Albers, 2005; Peck et al., 2004). Outro ponto a destacar é que a governança, seja ela corporativa ou pública, envolve a relação entre diferentes atores e agentes, os quais estabelecem entre si um elo de interesses por diferentes razões, e em face disto, é necessário que se tenha uma governança adequada aos objetivos propostos entre as partes envolvidas. Uma plataforma logística pode ser instalada em diferentes ambientes (cidades, regiões etc...) e compreendem também a relação dos stakeholders, o que torna necessário a utilização de indicadores de desempenho para a mensuração da performance da governança e gestão destes empreendimentos logísticos.
Em uma plataforma logística são estabelecidos diferentes tipos de relações entre os atores envolvidos, as quais devem ser desenvolvidas de forma conjunta onde objetivos necessitam estar alinhados para a obtenção de uma maior sinergia. Os benefícios sinérgicos decorrentes deste alinhamento, podem ser desde o compartilhamento e otimização de recursos até o desenvolvimento econômico dos empreendimentos que fazem parte das plataformas logísticas (Higgins e Ferguson, 2011).
O modelo de governança pode ser considerado um instrumento fundamental entre os diversos atores participantes de uma plataforma logística, onde o uso efetivo deste instrumento pode proporcionar uma maior eficiência na gestão dos recursos e também direcionar as competências específicas de cada um dos envolvidos de forma sinérgica (SILVA et al. 2013a).
4. Sistemas de medição e indicadores de desempenho
Um sistema de medição de desempenho aplicado a uma organização tem como objetivo estabelecer o grau de evolução de seus processos, assim como a adequação à utilização de bens e serviços, fornecendo informações de forma adequada, no momento certo, a fim de tomar as ações necessárias que sejam capazes de levar a organização a conquistar seus objetivos e metas (ÑAURI, 1998).
Para Heskett et al. (1997), o entendimento de desempenho como um conceito mais amplo e que deve fazer parte de qualquer estratégia, consiste em identificar alguns aspectos que estão relacionados ao desempenho dentre os quais; a utilização de medições relacionadas com a satisfação e lealdade de clientes e empregados, taxas de inovação, segurança e saúde no trabalho, além das medidas clássicas de rentabilidade de investimento, crescimento e fluxo de caixa. Ainda neste contexto, os autores destacam que as medidas de desempenho que antes tinham uma grande ênfase no passado começam a incorporar elementos para a predição do futuro e também passam a apresentar não só os resultados de crescimento e lucro, mas também as determinantes que levam a estes valores.
Um objetivo básico a ser considerado no processo de medição de desempenho esta relacionado ao planejamento e controle organizacional, pois não se pode administrar sem que haja uma intervenção no sistema e neste sentido se faz necessário medir e controlar suas variáveis. No processo de medição de desempenho é necessário considerar o comportamento dos indicadores em razão do comportamento do próprio sistema (Lima Jr, 2004).
4.1 Atributos e indicadores associados ao desempenho corporativo
Após a seleção das publicações resultantes da revisão bibliográfica, realizou-se inicialmente uma classificação das obras analisas com relação a: i) Abordagem Metodológica (Teórica ou Prática, ii) Foco (Financeira e Não Financeiros e, iii) Nível de medição (Estratégico-ET, Tático-TA; Operacional-OP;) conforme a Tabela 1:
Tabela 1: Classificação das Obras pesquisadas
Autor/Autores |
Ano |
Abordagem |
Foco |
Nível |
1 |
Globerson |
1985 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
TA |
2 |
Sullivan |
1986 |
Prática |
Não Financeira |
OP |
3 |
Son e Park |
1987 |
Prática |
Não Financeira |
ET, TA, OP |
4 |
Keegan et al |
1989 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
ET |
5 |
Brignall e Ballantine |
1991 |
Prática |
Financeira/Não Financeira |
ET, TA |
6 |
Kaplan e Norton |
1992 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
ET |
7 |
Sink e Tutlle |
1993 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
TA, OP |
8 |
Harrington |
1993 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
TA, OP |
9 |
Hronec |
1994 |
Prática |
Financeira/Não Financeira |
TA |
10 |
Rumler e Brache |
1994 |
Prática |
Financeira/Não Financeira |
ET, TA, OP |
11 |
Neely et al. |
1995 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
ET, TA, OP |
12 |
Brown |
1996 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
TA, OP |
13 |
Bititci et. al. |
1997 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
ET, TA, OP |
14 |
Gomes e Salas |
1997 |
Teórica |
Financeira/Não Financeira |
ET, TA, OP |
15 |
Atkinsons |
1998 |
Prática |
Financeira/Não Financeira |
ET, TA |
16 |
Ahmad e Dhafr |
2002 |
Prática |
Financeira/Não Financeira |
TA, OP |
Na década de 1990 houve uma grande densidade de publicações e elaborações de modelos. Identificou-se também ao longo do levantamento bibliográfico que a maioria das publicações a partir dos anos 2000 constitui-se de aplicações e adaptações dos modelos propostos nas décadas de 1980 e 1990. O monitoramento dos indicadores permite analisar e acompanhar o comportamento operacional das atividades envolvidas no processo e saber se elas agregam ou não valor ao negócio.
Tabela 2: Framework de Indicadores de Desempenho Empresariais
Os indicadores podem ser utilizados como ferramentas de diagnóstico, na quantificação dos impactos de desenvolvimento e também para monitorar a evolução do desempenho ao longo de determinado período.
5. Análise e discussões dos resultados da pesquisa
Inicialmente analisou-se os resultados obtidos a partir da Tabela 2, que aborda as publicações relacionadas as dimensões e indicadores de desempenho corporativo. Em uma primeira análise identificou-se 29 autores, os quais descrevem as dimensões e indicadores de desempenho no âmbito corporativo. Foram abordados 76 indicadores pelos autores, sendo que haviam indicadores que foram citados por mais de um autor. Constatou-se que Kaplan e Norton (1992) estão contidos em 59% do total dos indicadores de desempenho verificados, Harrington (1993) 42%, Sullivan (1986) 30%, Rumler e Brache (1994) 26%, Neely et al. (1995) 26%, Globerson (1985) 25%, Hronec (1994) 24%, Brignall e Ballantine (1997) 24%, Sink e Tutlle (1993) 21%, Keegan et al (1989) 18%, Son e Park (1987) 17%, Ahmad e Dhafr (2002) 14%, Gomes e Salas (1997) 13%, Brown (1996) 12%, Atkinsons (1998) 11% e Brignall et al. (1991) 9% conforme Figura 2:
Figura 2: Representatividade de indicadores de desempenho por autores analisados
Os indicadores de desempenho analisados estão contidos em 15 dimensões, as quais compreendem: dimensão Financeira que corresponde a 18% dos indicadores analisados, Comercial 9%, Fornecedor 9%, Manufatura 9%, Cliente 8%, Distribuição 8%, Inovação 8%, Flexibilidade 7%, Processo 7%, Gestão de Estoques 5%, RH 5%, Demanda 3% e Organização, Projeto e Stakeholder correspondendo a 1% respectivamente conforme ilustra a Figura 3:
Figura 3: Dimensão dos indicadores de desempenho analisados
Constata-se que os indicadores os indicadores empresariais possuem uma concentração na dimensão financeira os quais envolvem aspectos voltados a custos e rentabilidade, seguidos pela dimensão comercial correspondendo a questões associadas ao relacionamento e atendimentos a clientes, fornecedores e manufatura os quais contemplam variáveis voltadas a produção, tempo e relacionamento entre os diversos atores. Foram elencados 31 atributos que correspondem aos 76 indicadores de desempenho, conforme a Figura 4:
Figura 4: Atributos dos indicadores de desempenho
Os atributos podem ser considerados elementos centrais nos quais os indicadores de desempenho estão contidos. Nas publicações consultadas, os aspectos voltados a entrega, pedido, produção e relacionamento foram os atributos que somados representam 32% dos indicadores de desempenho verificados. Os atributos tem uma correlação com aspectos voltados ao atendimento de clientes e nas relações externas e internas das organizações.
6. Conclusões
A partir do levantamento bibliográfico desenvolvido ao longo desta pesquisa, foi possível identificar os sistemas de medição e performance empresarial e elaborar um framework conceitual de indicadores de desempenho. Entende-se que os indicadores de desempenho no âmbito empresarial identificados podem corroborar com a governança de plataformas logísticas. Percebe-se ainda que, os indicadores de desempenho analisados durante a pesquisa apresentam uma maior concentração na dimensão financeira, o que leva em consideração atributos como caixa, desempenho financeiro, devoluções, entrega, estoque dentre outros aspectos. Outras dimensões são apontadas no estudo dentre as quais, a dimensão comercial que aborda questões sobre o relacionamento e atendimentos a clientes, a dimensão de fornecedores e manufatura os quais contemplam variáveis voltadas a produção, tempo e relacionamento entre os diversos atores dentre outras dimensões.
As plataformas logísticas podem ser consideradas empreendimentos logísticos complexos, onde diversos atores buscam a racionalização dos seus recursos sob forma de obter uma maior eficiência e sinergia tanto em níveis estratégicos, táticos ou mesmo operacionais. O desenvolvimento e a organização das plataformas logísticas são influenciados fortemente pelo grau de relacionamento entre os atores que nela estão inseridos, necessitando assim de uma adequada governança por parte de seus membros. Ainda neste sentido, na medida em que o relacionamento entre as organizações não é um evento isolado entre as próprias organizações com o mesmo poder de influência e decisão sobre assuntos inseridos no objetivo maior da cadeia de suprimentos ocorre uma variação na assimetria do poder, que influencia e é influenciada pelo modelo de governança existente.
A governança é composta por procedimentos associados a tomada de decisões, desempenho e controle das organizações e ambientes, com o fornecimento de estrutura que seja capaz de possibilitar uma direção geral para a organização e também satisfazer as expectativas razoáveis da prestação de contas para os que estão dentro ou são externos a própria organização.
A medição de desempenho associada a governança é um tema amplo e vem sendo discutido ao longo dos anos por diversos autores, porém percebe-se na bibliografia publicada que não há uma determinada singularidade sobre uma definição clara de quais os indicadores devem ou não ser aplicados a governança, mas sim entende-se através desta pesquisa que a aplicabilidade dos indicadores devem se dar em conformidade ao ambiente analisado.
Alguns indicadores de governança voltados a aspectos mais macros e gerais da organização que tratam questões voltadas a transparência, responsabilidade, compliance dentre outros aspectos são encontrados na literatura, porém diferentemente de algumas abordagens pesquisadas, neste trabalho procurou-se através de um levantamento bibliográfico, identificar um conjunto de indicadores de desempenho no âmbito empresarial que pudessem ser aplicados e também contribuir para a governança de plataformas logísticas.
Como resultado desta pesquisa, identificou-se um conjunto de 76 indicadores, contidos em 31 atributos e 15 dimensões de desempenho, os quais podem auxiliar e apoiar a gestão das plataformas logísticas, uma vez que nestes ambientes logísticos, são desenvolvidas diversas atividades e também contam com a presença de inúmeros atores.
Os indicadores podem ser utilizados para apoiar a governança, possibilitando uma orientação quanto ao caminho e ou direção a ser tomada em razão dos objetivos propostos pelos participantes das plataformas logísticas. A pesquisa realizada pode representar uma contribuição no sentido de inter-relacionar a utilização de indicadores desempenho no âmbito empresarial na governança de plataformas logísticas. Contudo, acredita-se que ainda existe muito a ser desenvolvido neste sentido. Como sugestão para futuras pesquisas, propõe-se: i) aplicação de ferramentas como analytic hierarchy process -AHP para hierarquizar os indicadores de desempenho empresarial levantados, ii) exploração e identificação de indicadores desempenho no âmbito do serviço logístico ou mesmo da cadeia de suprimentos.
Outras pesquisas complementares poderiam ainda ser realizadas sobre os indicadores de governança utilizados no âmbito público ou mesmo no corporativo e relacionar os mesmos com a prática da governança em plataformas logísticas. Percebe-se também como contribuição desta pesquisa, os resultados do trabalho, os quais poderão ser utilizados como hipóteses para o desenvolvimento de novas observações e aplicações e que possam tornar ainda mais robusto o conhecimento que se tem acerca do desempenho da governança em plataformas logísticas.
Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - pelo apoio durante a realização desta pesquisa.
Referências
Abrahamsson, M., Aldin, N. & Stahre, F. (2003) Logistics platforms for improved strategic flexibility. International Journal of Logistics Research and Applications, v. 6, n. 3, pp. 85-106.
Ahmad, M.M., Dhafr, N. (2002) Establishing and improving manufacturing performance measures. Proceedings of the 11o International Conference on Flexible Automation and Intelligent Manufacturing, 2002.
Aldin, N e Stahre, F. (2003) Electronic commerce, marketing channels and logistics platforms - a wholesaler perspective. European Journal of Operational Research, v. 144, n. 2, pp. 270-279.
Atkinson, A. (1998) Strategic performance measurement and incentive compensation. European Management Journal, v. 16, n. 5, pp. 552-561.
Ballis, A. & Mavrotas, G. (2007) Freight village design using the multicriteria method PROMETHEE. Operational Research, v. 7, n. 2, pp. 213-231.
Bastos, M. M de M. (2001) Macrologística e transportes na Europa face à globalização da economia: quais lições tirar para o caso do setor agroalimentar nacional. Anais do III Congresso Internacional de Economia e Gestão de Negócios Agroalimentares, Ribeirão Preto.
Bititci, U. S., Carrie, A. S. & Mcdevitt, L. (1997) Integrated performance measurement systems: a development guide. International Journal of Operations & Production Management, v. 17, n. 5, pp. 522-534.
Boudoin, D. (1996) Logística-Território-Desenvolvimento: O caso europeu. I Seminário Internacional: Logística, Transportes e Desenvolvimento. Ceará: UFC/CT/DET p.105.
Brignall, S. & Ballantine, J. (1996) "Performance measurement in service businesses revisited", International Journal of Service Industry Management, v. 7, n. 1, pp.6-31.
Brown, M. G. (1996) Keeping score: using the right metrics to drive world-class performance. New York: Quality Resources.
Cambra-Fierro, J. & Ruiz-Benitez, R. (2009) Advantages of intermodal logistics platforms: insights from a Spanish platform. Supply Chain Management: An International Journal, v. 14, n. 6, pp. 418- 421.
Campolongo, M., Morandi, C. & Mariotti, I. (2010) La piattaforma logistica di Leixões, Portogallo, e il suo território. Journal of Land Use, Mobility and Environment, v. 3, n. 2, pp. 65-72.
Chow, G., Heaver, T. D. & Henriksson, L. E. (1994) Logistics performance: definition and measurement. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, Bradford, v. 24, n. 1, pp. 17-28.
Collins, J. & Hussey, R. (2005) Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós-graduação. Porto Alegre: Bookman, 2º edição.
Crainic, T. G., Ricciardi, N. e Storchi, G. (2004) Advanced freight transportation systems for congested urban areas. Transportation Research Part C: Emerging Technologies, v. 12, n. 2, pp. 119–137.
Creswell, J. W. (2007) Projetos de pesquisa: Métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2ª edição.
Dias, J. C. Q., Calado, J. M. F., Osório, A. L. & Morgado, L. F. (2009) RFID together with multi-agent systems to control global value chains. Annual Reviews in Control, v. 33, n. 2, pp. 185-195.
Duarte, P. C. (2004) Desenvolvimento de um mapa estratégico para apoiar a implantação de uma Plataforma Logística. Tese de Doutorado. Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Produção. Porto Alegre. UFRGS.
Gajsek, B., Lipicnik, M. & Simenc, M. (2012) The logistics platform disambiguation. Research in Logistics & Production, v. 1, n. 1, pp. 69-80.
Globerson, S. (1985) Issues in developing a performance criteria system for in organization. International Journal of Production Research, v. 23, n. 4, pp. 639-646.
Gomes, J. S. & SALAS, J. M. (1997) Controles de gestão: uma abordagem contextual e organizacional. São Paulo: Atlas.
Harrington, H. J. (1993) Aperfeiçoando processos empresariais. São Paulo: Makron Books.
Heskett, J., Sasser, W. E. & Schelinger, L. A. (1997) The service profit chain: How Leading Companies Link Profit and Growth to Loyalty, Satisfaction, and Value. New York: The Free Press.
Hesse, M. & Rodrigue, J. (2004) The transport geography of logistics and freight distribution. Journal of Transport Geography, v. 12, n. 3, pp. 171-184.
Higgins, C. D. & Ferguson, M. R. (2011) An Exploration of the Freight Village Concept and its Applicability to Ontario. McMaster Institute of Transportation and Logistics. McMaster University. Hamilton, Ontario. October, pp. 195.
Hodge, G. & Greve, C. (2010) Public-private partnerships: Governance scheme or language game? Australian Journal of Public Administration, v. 69, n. 1, pp. 8-22.
Hronec, S. M. (1994) Sinais vitais. São Paulo: Makron Books.
Kaplan, R. S. & Norton, D. P. (1992) The balanced scorecard: measures that drive performance. Harvard Business Review, v. 70, n. 1, pp. 71-79.
Karlsson, C. (2009) Researching Operations Management. New York: Routledge.
Keegan, D. P., EILER, R. G. & JONES, C. R. (1989) Are your performance measures obsoletes? Management Accounting, v. 70, n. 1, pp. 45-50.
Lakatos, E. M. & Marconi, M. A. (2010) Técnicas de pesquisa. São Paulo:Atlas, 7a edição.
Lima, O. F. L. Jr. (2004) Desempenho em Serviços de Transportes: conceitos, métodos e práticas. Tese (Livre Docência) – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, Campinas.
Love, I. (2011) Corporate governance and performance around the world: what we know and what we don’t. The World Bank Research Observer, v. 26, n. 1.
Mayer, C. (1997) Corporate Governance, Competion and Performance. Journal of Law and Society, v. 24, n. 1, pp. 152-176.
Mazzarino, M. (2012) Strategic scenarios of global logistics: what lies ahead for Europe? European Transport Research Review, v. 4, n. 1, pp. 1-18.
Meidut?, I. (2007) Economical evaluation of logistics centres establishment. Transport, v. 22, n. 2, pp. 111-1117.
Ñauri, M. H. C. (1998) As medidas de desempenho como base para a melhoria contínua de processo: o caso da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU). Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Neely, A., Gregory, M. & Platts, K. (1995) Performance measurement system design - A literature review and research agenda. International Journal of Operations & Production Management, Bradford, v. 15, n. 4, pp. 80-116.
Peck, E., Six, P., Glasby, J. & Skelcher, C. (2004) Governance and Partnerships. Journal of Integrated Care, v. 12, n. 4, pp. 3-8.
Pettit, S. & Beresford, A. (2009) Port development: from gateways to logistics hubs. Maritime Policy & Management, v. 36, n 3, pp. 253-267.
Rimien?, K. & Grundey, D. (2007) Logistics Centre Concept through Evolution and Definition. Engineering Economics, v. 4, n. 1, pp. 87-95.
Roesch, S. M. A. (2006) Projetos de Estágio e de Pesquisa em Administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudo de caso. São Paulo: Atlas, 3ª edição.
Rummler, G. A. & Brache, A. P. (1994) Melhores desempenhos das empresas. São Paulo: Makron Books.
Silva, R. M., Senna, E. T. P., Senna, L. A. D.S. & Lima Júnior, O. F. (2013a) Governança em plataformas logísticas: uma análise dos elementos e atributos a serem considerados neste tipo de empreendimento logístico. Journal of Transport Literature, v. 7, n. 3, pp. 240-269.
Silva, R. M., Senna. E. T. P. & Lima Júnior, O. F. (2013b) Utilização da parceria público-privada em projetos de plataforma logística no Brasil. SIMPOI 2013, São Paulo. Anais do XVI SIMPOI - Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações Internacionais. São Paulo: FGV, 2013.
Sink, D. S. & Tuttle, T. C. (1993) Planning and measuring for performance. Rio de Janeiro: Quality Mark.
Son, Y. H. & Park, C. S. (1987) Economic measure of productivity, quality and flexibility in advanced manufacturing systems. Journal Manufacturing Systems, v. 6, n. 3, pp. 193-207.
Sullivan, E. (1986) OPTIM: linking cost, time, and quality. Quality Progress, v. 19, n. 4, pp. 52-55.
Tsamboulas, D. A. & Kapros, S. (2003) Freight Village Evaluation Under Uncertainty With Public And Private Financing. Transport Policy, v. 10, n. 2, pp. 141-156.
Wagner, T. (2010) Regional traffic impacts of logistics-related land use. Transport Policy, v. 17, n. 4, pp. 224 -229.
Young, S.; Thyil, V. A. (2008) Holistic model of corporate governance: a new research framework. Corporate Governance, v. 8, n. 1, pp. 94-108. |