1. Introdução
O atual ambiente de negócio e gestão é marcado pela intensidade e rapidez com que acontecem as mudanças nos cenários sóciopolítico, econômico e tecnológico. Essas mudanças caracterizam o principal desafio a ser superado pelas organizações, sendo de fundamental importância mecanismos mais adequados para definir e redefinir suas competências e as formas de aprendizado.
Diante desse novo ambiente, é possível compreender uma maior valorização das pessoas nas organizações. Esse motivo acontece principalmente devido a necessidade dessas de apresentarem e receberem respostas mais rápidas para questões mais complexas, sendo necessárias novas formas de trabalho e mudança de postura pelas pessoas.
Essa nova forma de organização possui um ponto fundamental e decisivo, a necessidade de atuação pelas pessoas através de suas competências (habilidades, conhecimento e experiência), e esses três elementos são adquiridos e aprimorados através dos processos de aprendizagem.
A expressão “aprendizagem organizacional” refere-se aos vários mecanismos pelos quais os indivíduos adquirem habilidades e conhecimentos, e que possibilitam a conversão da aprendizagem individual para a aprendizagem organizacional (BELL, 1984).
Já "Competências”, mais especificamente as competências tecnológicas, são aqui identificadas como os recursos necessários para gerar e gerenciar aperfeiçoamentos em atividades de processos e organização da produção, produtos, e desenvolvimento de novos produtos, processos produtivos e tecnologias. Tais recursos se acumulam e incorporam em indivíduos e sistemas organizacionais (BELL E PAVITT, 1995).
Segundo Figueiredo (2001) a partir dos anos de 1990, um novo conjunto de estudos emergiu para examinar as implicações dos processos de aprendizagem na trajetória de acumulação de competência em indústrias de países em desenvolvimento.
No Brasil, vários estudos têm sido realizados vinculando os dois temas, dentre esses é possível destacar os trabalhos de:
Ferigotti (2007) - Examinou as implicações da aprendizagem (processos intra e interempresariais), para a acumulação de competências na Electrolux do Brasil S/A, Curitiba/PR, no período de 1980 a 2003.
Rosal e Figueiredo (2006) – Examinaram as implicações dos processos subjacentes de aprendizagem para a trajetória de acumulação de competências em uma empresa de transmissão de energia elétrica no Norte do Brasil de 1990 a 2004.
Miranda (2005) - Examinou a direção e velocidade de acumulação de competências na indústria de softwares no Brasil, além das principais fontes de competências para a manutenção dos tipos e níveis de capacidades correntes, as estratégias intra-organizacionais de aprendizagem e ligações estabelecidas pelas empresas com a infra-estrutura tecnológica e outras empresas.
Castro e Figueiredo (2005) – Pesquisaram as implicações dos processos de aprendizagem para acumulação de competências e aprimoramento da performance técnico-econômica. Esta relação foi verificada em um estudo de caso individual na unidade de aciaria da Companhia Siderúrgica Nacional (1997 – 2001).
Ariffin e Figueiredo (2004) – Estudaram a internacionalização de competências na indústria eletrônica de Manaus-AM.
Vedovello e Figueiredo (2004) - Examinaram as implicações da infraestrutura tecnológica para o desenvolvimento de competências inovadoras no Pólo Industrial de Manaus-AM (indústrias eletroeletrônicas, bicicletas e motocicletas).
Todos esses trabalhos contribuíram significativamente para a literatura sobre competências e aprendizagem, porém ainda são necessários estudos em outros segmentos industriais.
Diante do contexto inicial, o objetivo do trabalho é identificar a relação entre os processos de aprendizagem organizacional e a criação e acumulação de competências inovadoras nas funções tecnológicas de processo e organização da produção e produto na indústria (BETA) do segmento madeireiro paranaense, no período de 1999 a 2008.
Além deste capítulo que contextualiza o problema de pesquisa, são abordados no referencial teórico os modelos de competência e aprendizagem do autor Figueiredo (2001). No tópico três são explicitados os procedimentos metodológicos para coleta e análise dos dados. Em seguida, são apresentados os resultados da pesquisa, e por fim, são feitas as considerações finais, mencionando a necessidade da realização de outros estudos para confirmar a base conceitual e conhecer como em outros contextos organizacionais são aplicados os mecanismos de aprendizagem organizacional e competência tecnológica.
2. Referencial teórico
2.1 Modelo de competências de Figueiredo (2001)
O modelo de competências de Figueiredo (2001) derivou do modelo de Bell e Pavitt (1995) adaptado de Lall (1992). Este modelo é especifico para organizações de países emergentes e pode ser adaptado para qualquer tipo de organização. Tem como propósito identificar como aconteceu a trajetória de acumulação de competências em funções tecnológicas, num determinado período de tempo.
Segundo Figueiredo (2001), o modelo é analítico e matricial, composto por colunas e linhas. As colunas da estrutura matricial representam as competências tecnológicas por função, já às linhas mostram os níveis de dificuldade. Nele ainda existe uma divisão de competências de rotina e inovadoras.
Ainda segundo o autor, as competências de rotina dizem a respeito a atividades tecnológica realizadas num determinado nível de eficiência e utilização de insumos, são as aptidões necessárias para usar a tecnologia, os conhecimentos e os mecanismos organizacionais. Já as competências inovadoras permitem criar, modificar ou aperfeiçoar produtos e processos, são as aptidões necessárias para modificar tecnologias, os conhecimentos, a experiência e os mecanismos organizacionais.
2.2 Modelo de aprendizagem de Figueiredo (2001)
O modelo aprendizagem do autor Figueiredo (2001), tem como propósito identificar como os processos de aprendizagem funcionam nas empresas de países emergentes. Esse é composto por quatro fases, cada uma dessas apresenta diferentes subprocessos, mecanismos ou práticas, como segue:
Processo de aquisição externa: mecanismos de aquisição de conhecimento tácito e/ou codificado obtidos fora da empresa. O saber externo, segundo Figueiredo (2001), pode ser adquirido através de treinamento no exterior, recorrer à assistência técnica e/ou convidar especialistas para dar conferência.
Processo de aquisição interna: mecanismos para aquisição de conhecimento tácito por meio de diferentes atividades realizadas dentro da empresa. Figueiredo (2001), afirma que algumas formas de se obter esse tipo de conhecimento são através do cumprimento de tarefas rotineiras ou aperfeiçoando os processos e a organização da produção, os equipamentos e os produtos existentes.
Outras formas de se obter conhecimento interno são em centros de P&D formalmente organizados, laboratórios ou através da experimentação sistemática nas diversas unidades operacionais (FIGUEIREDO, 2001).
Processo de socialização do conhecimento: mecanismos (formais e/ou informais) onde o conhecimento (tácito) individual ou de grupo são transferidos para outra pessoa ou para outros grupos.
Figueiredo (2001) aponta algumas formas de socialização do conhecimento, que podem envolver a observação, reuniões, solução conjunta de problemas, rotatividade de tarefas e treinamentos (interno e/ou externo).
Processo de codificação do conhecimento: mecanismos que possibilitam que parte do conhecimento tácito (individual ou do grupo), se torne explícito (conhecimento organizado e acessível).
Figueiredo (2001) afirma que a padronização dos métodos de produção, a documentação e os seminários internos são maneiras de acontecer codificação do conhecimento na empresa. Ainda segundo o mesmo autor, a socialização e a codificação são processos cruciais de conversão da aprendizagem individual em aprendizagem organizacional.
Além das quatro fases, o modelo é também dividido em quatro principais características dos processos de aprendizagem, que são:
Variedade: É medida em termos de existência/inexistência de todo um processo (por exemplo, o processo de codificação do saber) e de outros subprocessos que ele possa acarretar (por exemplo, o processo de padronização).
Intensidade: Trata da freqüência com que se criam, atualizam, utilizam e aperfeiçoam os processos de aprendizagem ao longo do tempo. Figueiredo (2001) afirma que a intensidade é importante por três motivos: pode garantir um fluxo constante de saber externo para a empresa; pode fazer com que se compreenda melhor a tecnologia adquirida e os princípios inerentes aos processos de aquisição de conhecimentos internos e pode assegurar a constante conversão da aprendizagem individual em aprendizagem organizacional.
Funcionamento: Refere ao modo como os processos de aprendizagem operam ao longo do tempo. Mesmo sendo contínua a intensidade dos processos, seu funcionamento pode ser deficiente. Ele pode contribuir para aumentar ou diminuir a variedade e a intensidade (FIGUEIREDO, 2001).
Interação: trata de uma das características que analisa como um ou mais processos de aprendizagem pode ser influenciado por outros processos.
Diante das quatro características, variedade, intensidade, funcionamento e interação, podem-se identificar, através do modelo, qual sistema de aprendizagem influenciou na trajetória de acumulação de competências.
3. Aspectos metodológicos
3.1 Método científico
O método de pesquisa utilizado neste trabalho foi o indutivo. Esta afirmação encontra-se consubstanciada em Lakatos e Marconi (2001, p.86), onde os autores referem-se a esse método como um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal não contida nas partes examinadas.
Como explicitado, o método utilizado nesta pesquisa refere-se ao indutivo, onde foram coletados dados de dois setores (processo e organização da produção e criação de produtos) da indústria pesquisada e diante da análise fazem-se generalizações para os outros setores da indústria.
3.2 Classificação da pesquisa
A pesquisa pode ser classificada como:
- Quanto à natureza: Aplicada.
A pesquisa aplicada segundo Silva e Menezes (2001 p.20), tem por objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos, envolve verdades e interesses locais.
Os conhecimentos advindos dessa pesquisa poderão conduzir os gestores a desenvolverem programas e políticas de aprendizagem que possam aprimorar os níveis de competências existentes ou desenvolverem outros níveis.
- Quanto à forma de abordagem do problema: Qualitativa.
A abordagem qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números (SILVA E MENEZES, 2001, p.20).
O uso da abordagem qualitativa nessa pesquisa permite analisar aspectos relativos à acumulação de competências, através da história da indústria.
- Quanto aos objetivos: Exploratória.
Para Gil (2002 p.44) a pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.
Neste aspecto, a pesquisa exploratória permite esclarecer como os processos de aprendizagem contribuíram na acumulação de competências na indústria estudada.
- Quanto aos procedimentos técnicos: estudo de caso
Para Silva e Menezes (2001 p.21), o estudo de caso envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento.
E já que nessa pesquisa deseja-se conhecer como os processos de aprendizagem contribuíram, ao longo do tempo, para a acumulação de competências, considerou-se o estudo de caso o mais indicado.
3.3 População e amostra
A população é caracterizada segundo Lakatos e Marconi (2001 p.108) como um conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum. Partindo do conceito exposto, e sabendo que nesse trabalho se deseja identificar exclusivamente as competências tecnológicas, a população desse trabalho são dois gerentes da indústria Beta, responsáveis pelos departamentos de produção e criação de produtos.
Já a amostra refere-se à parte da população ou do universo, selecionada de acordo com uma regra ou plano (SILVA e MENEZES, 2001 p. 32). Assim, a amostra desse estudo é igual à população.
3.4 Instrumento de coleta de informações
Para esta pesquisa, considerando que se trata de um estudo de caso, e desejando saber como os processos de aprendizagem influenciam na acumulação das competências nas funções tecnológicas de Processo e Organização da Produção e Produto, no período de 1999 a 2008, foi utilizado como instrumento de coleta de informações o questionário composto por questões fechadas e abertas.
As questões fechadas referem-se aos processos de aprendizagem e já as questões abertas estão relacionadas com a identificação das competências.
Já o exame, a codificação e a tabulação dos dados aconteceram em dois momentos. O primeiro momento refere-se à identificação de quantos processos de aprendizagem, elencados no questionário, que foram usados no período de 1999 a 2008, e se esses geraram competências para a indústria pesquisada.
Na segunda etapa da análise, foi realizada a classificação das competências (identificadas no primeiro momento) no modelo adaptado de Figueiredo (2001). Cada gerente classificou as competências consideradas de rotina até as competências mais inovadoras.
3.5 Adaptando o modelo de competências
O modelo original de competências, do autor Figueiredo (2001), foi apresentado, num primeiro momento, aos gerentes. Como explicitado no tópico 2.1 esse pode ser adaptado para qualquer tipo de organização.
Após o entendimento do modelo original, foram sugeridas por eles algumas adaptações. Essas aconteceram nas funções tecnológicas. No modelo original existem cinco funções tecnológicas (Decisão e controle sobre a planta, Elaboração e implementação de projetos, Processos e organização da produção, Produtos e Equipamentos). Para o modelo adaptado foram consideradas duas funções: Processo e Organização da Produção e Produto.
O principal motivo alegado pelos gerentes para suprimir as duas outras funções tecnológicas que compõem o modelo original, é que essas não fazem parte do foco principal das suas competências.
Foram estabelecidos seis níveis de competências (dois níveis de rotina e quatro para as competências inovadoras). Com base em Figueiredo (2001), para a indústria atingir cada nível, nesse estudo, foi assim especificado:
- Nível 1 (Rotina Básica): Estão as competências mais básicas. Nesse nível a indústria executa as atividades apenas para utilização da planta fabril, ou seja, para o inicio de suas atividades.
- Nível 2 (Rotina Intermediária): As competências ainda estão relacionadas com a operacionalização da planta fabril, porém, a indústria já busca por certificação nacional e internacional dos produtos; a manutenção de máquinas e equipamentos é executada de forma preventiva e acontece a informatização de alguns procedimentos técnicos.
- Nível 3 (Inovativa Básica): Para a indústria atingir esse nível, deve ter desenvolvido competências necessárias para realizar pequenas adaptações no seu processo produtivo como nos seus produtos e nos equipamentos.
- Nível 4 (Inovativa Intermediária): Nesse nível, a indústria é capaz de realizar grandes adaptações em seu processo produtivo como nos seus produtos e nos equipamentos.
- Nível 5 (Inovativa intermediária superior): Alcançando esse nível, a indústria está apta para realizar grandes adaptações e diversos ajustes no processo produtivo, nos produtos como nos equipamentos de forma assistida por terceiros.
- Nível 6 (Inovativa Avançada): Trata-se do desenvolvimento e implantação de novas competências (totalmente exclusivas) em seu processo produtivo como nos seus produtos e nos equipamentos (como por exemplo, o uso da robótica).
Realizadas as adaptações, o modelo de competência foi reapresentado aos gerentes, como exposto no Quadro 1.
Quadro 1: Arcabouço do modelo adaptado de competências
Níveis de Competência |
FUNÇÕES TECNOLÓGICAS |
Processo e Organização da Produção |
Produto |
Competências de Rotina: Competências para usar tecnologias existentes |
(1)
Rotina Básica |
Competência A básico |
Competência B básico |
(2)
Rotina Intermediária |
Competência A Rotina Intermediária |
Competência B Rotina Intermediária |
Competências Inovadoras: Competências para desenvolver novas tecnologias |
(3)
Inovativa Básica |
Competência A Inovativa Básica |
Competência B Inovativa Básica |
(4)
Inovativa Intermediária |
Competência A Inovativa Intermediária |
Competência B Inovativa Intermediária |
(5)
Inovativa intermediária superior |
Competência A Inovativa intermediária superior |
Competência B Inovativa intermediária superior |
(6)
Inovativa Avançada |
Competência A
Inovativa Avançada |
Competência B
Inovativa Avançada |
Aprovadas as modificações foi marcado um segundo momento com o objetivo de aplicar o questionário. O tópico 4.7 apresenta toda a operacionalização da estratégia utilizada para conseguir identificar as competências das duas indústrias, através dos vários processos de aprendizagem elencados no questionário.
3.6 Operacionalização da estratégia da pesquisa
Como já mencionado, a coleta de dados aconteceu através da aplicação do questionário. No intuito de uma melhor compreensão, o questionário foi elaborado seguindo a divisão do modelo de aprendizagem:
- Processo de aquisição do conhecimento externo;
- Processo de aquisição do conhecimento interno;
- Processo de socialização do conhecimento;
- Processo de codificação do conhecimento.
Para cada um desses foram selecionados vários processos de aprendizagem identificados em outros trabalhos (FERIGOTTI, 2007; TACLA; FIGUEIREDO, 2003; WERNECK, et al, 2004; ROSAL; FIGUEIREDO, 2006).
Além desses, os respondentes tiveram a opção “outros” para descrever os mecanismos de aprendizagem que ainda não estão elencados.
Esses mecanismos de aprendizagem seguem quatro características:
- Variedade – critério de avaliação – (Presença ou Ausência) do processo de aquisição, compartilhamento e codificação de conhecimento.
- Intensidade – critério de avaliação – (Uma vez – Intermitente – Contínuo) do processo de aquisição, compartilhamento e codificação de conhecimento.
- Funcionamento – critério de avaliação - (Insatisfatório – Moderado – Bom – Excelente) do processo de aquisição, compartilhamento e codificação de conhecimento.
- Interação – critério de avaliação – (Deficiente – Moderada – Forte) do processo de aquisição, compartilhamento e codificação de conhecimento.
E também obedecem a um período de tempo determinado, nessa pesquisa o período foi de 1999 a 2008. Informados de como foi estruturado o questionário, aconteceu o terceiro momento da pesquisa, onde os gerentes após identificar quais processos de aprendizagem foram utilizados nas suas indústrias, dentro do período estabelecido, descreveram quais competências adquiriram em atividades de processo e organização da produção, produto e equipamentos.
Logo depois desta etapa foram estabelecidos, junto aos gerentes, quais eram as competências consideradas de rotina e as competências inovadoras e suas subdivisões.
4. Análise e discussão dos resultados
As informações que se encontram nesse capítulo foram obtidas através de um estudo de caso realizado em uma grande indústria madeireira localizada no Estado do Paraná, Brasil. Para assegurar o sigilo das informações, essa indústria foi denominada no decorrer do trabalho como BETA.
No intuito de facilitar o entendimento da análise e discussão dos dados da indústria, os mesmos serão divididos por função tecnológica - Processo e Organização da Produção e Produto. Com base em Figueiredo (2001) as duas funções tecnológicas podem ser definidas como:
- Processo e organização da produção: estudar as diversas técnicas utilizadas, atividades de teste, dentre outras, é fundamental para avaliar o nível das competências da indústria.
O acúmulo de competências nessa função pode levar a indústria a desenvolver novos processos produtivos, novas atividade de testes e técnicas inovadoras no controle de qualidade com aplicabilidade em indústrias do mesmo seguimento ou de outros segmentos.
Produto: refere-se à capacidade da indústria de transformar suas competências em produtos e/ou serviços para seus clientes. Estudar a complexidade dos produtos é essencial para avaliar o nível das competências da indústria.
4.1 Empresa Beta
4.1.1 Função Tecnológica - Processo e Organização da Produção
A acumulação das competências, na função tecnológica, processo e organização da produção, na indústria Beta aconteceu como exposto no Quadro 2.
Níveis de Competência |
Função Tecnológica - Processo e Organização da Produção |
Competências de Rotina: Competências para usar tecnologias existentes |
(1)
Rotina Básica |
- Controle da qualidade visual.
- Planejamento e controle da produção básicos.
- Utilização na linha de produção de máquinas semi-automática, com domínio básico de sua programação. |
(2)
Rotina intermediária |
- Aprimoramento do planejamento e controle da produção;
- Controle nas atividades de plantio, manejo e colheita de madeira para industrialização;
- Introdução na linha de produção de máquinas automáticas, com domínio básico de sua programação. |
Competências Inovadoras: Competências para desenvolver novas tecnologias |
(3)
Inovativa básica |
- Criação de seleção padronizada de insumos e matéria-prima. |
(4)
Inovativa intermediária |
- Desenvolvimento de indicadores de desempenho para linha de produção. |
(5)
Inovativa intermediária superior |
- Criação do programa de coleta de dados on-line para melhoria de performance da linha de produção. |
(6)
Inovativa avançada |
- Nível não alcançado. |
Quadro 2: Modelo analítico de acumulação de competências
Fonte: Pesquisa de campo
A Indústria Beta no ano de 1999 até inicio de 2002 adquiriu competências do tipo rotina básica (1), essas foram suficientes para manter a indústria em funcionamento. Já em 2004, a indústria aprimorou suas competências e atingiu o nível rotina intermediaria (2), ela melhorou o funcionamento do planejamento e controle da produção, realizou efetivo controle nas atividades de plantio, manejo e colheita da madeira e também introduziu, no seu processo produtivo, máquinas totalmente automatizadas.
Após esse período inicial, a indústria alcançou no ano de 2005 o nível de competência denominado por Figueiredo (2001) como inovativa básica (3). Foi criada uma seleção padronizada de insumos e matéria-prima (madeira, resina, catalisador e emulsão de parafina etc). Essa nova seleção padronizada fundamenta-se nos critérios de avaliação dos padrões de qualidade da indústria, e tem como objetivo garantir que os insumos e matéria-prima utilizados na fabricação do produto final tenham características constantes.
Já no ano de 2006 a indústria atingiu o nível inovativa intermediária (4), criou indicadores de desempenho, os quais foram baseados no histórico de consumo, volume e custo da indústria. Através desses indicadores foi possível monitorar o desempenho da linha de produção e direcionar algumas ações, como por exemplo, de engenharia e controle de qualidade.
No período que compreende os anos de 2007 e 2008, a indústria desenvolveu competências do tipo inovativa intermediária superior (5). Criou programa de coleta de dados on-line para melhoria de performance da linha de produção. Esse programa mede a performance produtiva da linha de produção de várias formas, tais como: por família de produtos, através da margem de contribuição por hora produtiva etc.
De acordo com o modelo de Figueiredo (2001) para a indústria atingir o nível inovativa avançada (6), seria necessário desenvolver e implantar novas competências (totalmente exclusivas) no processo e organização da produção. De acordo com a análise das respostas dos gerentes, a indústria ainda não conseguiu alcançar esse nível de competência.
4.1.2 Função Tecnológica - Produto
A acumulação das competências na função tecnológica produto na indústria Beta aconteceu como exposto no Quadro 3.
Níveis de Competência |
Função Tecnológica - Produto |
Competências de Rotina: Competências para usar tecnologias existentes |
(1)
Rotina Básica |
- Replicação aprimorada dos produtos. |
(2)
Rotina intermediária |
- Produto para exportação com certificação internacional. |
Competências Inovadoras: Competências para desenvolver novas tecnologias |
(3)
Inovativa básica |
- Criação de mapas para o gerenciamento de novos produtos através do centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). |
(4)
Inovativa intermediária |
- Adaptação em um produto já existente permitiu a criação de novos produtos. |
(5)
Inovativa intermediária superior |
- Desenvolvimento de três linhas de produtos, com participação dos clientes. |
(6)
Inovativa avançada |
Nível não alcançado. |
Quadro 3: Modelo analítico de acumulação de competências - Produto
Fonte: Pesquisa de campo
A indústria Beta, na função tecnológica produto, atingiu competências do tipo rotina básica (1) no período que compreende os anos de 1999 e 2000. Nesse momento para competir com seus concorrentes utilizou a replicação aprimorada dos produtos a partir de especificações definidas pelos clientes.
Com o acúmulo de competências adquirido no nível 1, a indústria conseguiu em 2004 fabricar produtos para exportação e também adquiriu a certificação ISO 9001 e ISO 14001. De acordo com o modelo de Figueiredo (2001), nesse momento a indústria alcançou o nível rotina intermediária (2).
Somente a partir de 2005 a indústria deixa de adquirir competências e começa a desenvolvê-las (inovativa básica). Ela criou mapas para o gerenciamento de novos produtos através do seu centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Essa estrutura desenvolvida pelo P&D realiza todo o mapeamento dos novos produtos, desde a idéia inicial até o produto final. Mensalmente um grupo de pessoas responsáveis se reúne para analisar os mapas e implementar as melhorias necessárias para manter os produtos em constante evolução.
O alcance do nível inovativa intermediária (4) aconteceu em 2006. A indústria, através de adaptações realizadas em um produto existente (estantes), conseguiu desenvolver novos produtos com um novo design (racks e armários). Com as competências adquiridas no nível 4 e, através do feedback advindo dos clientes, foi possível, no período de 2007 até 2008, desenvolver linhas de produtos: uma com alta densidade, outra que dispensa acabamentos, e a terceira resistente à abrasão e ao ataque de produtos químicos (inovativa intermediária superior).
Com base no modelo adotado, para a indústria atingir o nível inovativa avançada (6), é necessário desenvolver e implantar novas competências (totalmente exclusivas) no produto. De acordo com a análise das respostas dos gerentes, a indústria, no período estudado, não conseguiu alcançar esse nível de competência.
4.2 Processos de Aprendizagem: 1ª Característica – Variedade
O primeiro critério analisado do processo de aprendizagem refere-se à Variedade. O Quadro 4 apresenta como a indústria BETA adquiriu, compartilhou e codificou os conhecimentos e os transformou em competências inovadoras.
Processos e Mecanismos de Aquisição Externa de Conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
1. Acesso a conhecimento externo codificado (jornais, revistas, livros, memorandos, bancos de dados, patentes). |
Presença |
Presença |
2. Convênios com escolas – cursos profissionalizantes. |
Presença |
Presença |
3. Convênios com escolas - cursos Graduação e pós-graduação. |
Presença |
Presença |
4. Participação em Grupo(s) de Pesquisa(s). |
Ausência |
Presença |
5. Participação em Seminário(s) e/ou Congresso(s). |
Presença |
Presença |
6. Participação em feiras e eventos relacionados à indústria. |
Presença |
Presença |
7. Visitas técnicas para aquisição de máquinas de tecnologia. |
Presença |
Presença |
8. Aprendizado via contrato de licenciamento. |
Presença |
Presença |
9. Contratação de consultores externos para realização de projetos e/ou implantação de ferramentas de gestão. |
Ausência |
Presença |
10. Contrato de transferência tecnológica com outra(s) empresa(s). |
Ausência |
Presença |
11. Contratação de engenheiros experientes. |
Ausência |
Presença |
12. Contrato com fabricantes nacionais e/ou estrangeiros. |
Ausência |
Presença |
13. Joint-venture com indústria nacional e/ou estrangeira. |
Ausência |
Presença |
14. Participação de usuários e clientes na conceituação de produtos (focus group). |
Ausência |
Presença |
15. Utilização de extranet e outras Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). |
Ausência |
Ausência |
16. Interação com usuários e clientes para aprimoramento de produtos e processos. |
Ausência |
Presença |
17. Aquisição de indústria. |
Ausência |
Presença |
Outros (especificar). |
- |
- |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
7 |
16 |
Total dos processos de aprendizagem |
17 |
17 |
Processos e mecanismos de aquisição interna de conhecimento |
Presença ou Ausência |
1999 a 2003 |
1999 a 2003 |
1. Experimentação - "Aprender fazendo". |
Presença |
Presença |
2. Acesso ao conhecimento interno codificado (jornais, banco de dados, projetos internos, relatórios). |
Presença |
Presença |
3. Treinamento Interno. |
Ausência |
Presença |
4. Capacitação. |
Ausência |
Presença |
5. Envolvimento em projetos internos. |
Ausência |
Presença |
6. Envolvimento em novas práticas de gestão. |
Ausência |
Presença |
7. Envolvimento em novos processos. |
Ausência |
Presença |
8. Envolvimento em novos produtos e/ou serviços. |
Ausência |
Presença |
9. Estudos em laboratórios e manipulação de parâmetros de produção. |
Ausência |
Presença |
10. Prototipagem para desenvolvimento de novos produtos. |
Ausência |
Presença |
11. Uso de Intranet e outras Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). |
Presença |
Presença |
Outros (especificar). |
- |
- |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
11 |
Total dos processos de aprendizagem |
11 |
11 |
Processos e mecanismos de compartilhamento (socialização) de conhecimento |
Presença ou Ausência |
1999 a 2003 |
1999 a 2003 |
1. Rotatividade de cargos no trabalho. |
Presença |
Presença |
2. Encontros formalizados para compartilhamento do conhecimento. |
Presença |
Presença |
3. Solução compartilhada de problemas com fornecedores. |
Ausência |
Presença |
4. Solução compartilhada de problemas com o cliente interno (funcionários). |
Ausência |
Presença |
5. Solução compartilhada de problemas com o cliente externo. |
Ausência |
Presença |
6. Benchmarking para desenvolvimento de novas formas de produtos e/ou equipamentos e/ou processos |
Ausência |
Presença |
7. Links de comunicação entre institutos de pesquisa. |
Ausência |
Presença |
8. Software para compartilhar conhecimento |
Presença |
Presença |
9. Desenvolvimento de normas e/ou especificações em conjunto com outras organizações ou com outros setores da empresa. |
Ausência |
Presença |
10. Construção formal de grupos de projeto. |
Ausência |
Presença |
Outros (especificar). |
- |
- |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
10 |
Total dos processos de aprendizagem |
10 |
10 |
Processos e mecanismos de codificação de conhecimento |
Presença ou Ausência |
1999 a 2003 |
1999 a 2003 |
1. Manuais para a padronização de novas práticas dos processos e produtos. |
Ausência |
Presença |
2. Codificação de projetos. |
Presença |
Presença |
3. Codificação de conhecimento interno, próprio da indústria |
Presença |
Presença |
4. Relatórios da divisão de serviços ao cliente para gerar melhorias em produtos e assistência técnica. |
Ausência |
Ausência |
5. Codificação em banco de dados |
Ausência |
Presença |
6. Livros, revistas, apostilhas e memorandos das melhores práticas dos produtos, processos e formas de gestão. |
Ausência |
Presença |
7. Gravação de conferências virtuais. |
Ausência |
Presença |
Outros (especificar) |
- |
- |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
2 |
6 |
Total dos processos de aprendizagem |
7 |
7 |
Quadro 4 - variedade dos processos de aprendizagem
Fonte: Pesquisa de campo
Diante dos dados é possível inferir que, a partir de 1999 até o ano de 2004, a variedade dos processos de aprendizagem foi limitada nas duas funções estudadas. Segundo os gerentes a ausência de processos de aprendizagem levou a indústria a não alcançar, nesse período, os níveis de competências inovadoras.
A partir de 2005, com a pressão do mercado mundial, a indústria Beta sentiu a necessidade de criar suas próprias competências e investiu no aumento da variedade dos processos de aprendizagem.
Os processos elencados pelos gerentes foram: para a função organização da produção, o envolvimento em projetos internos resultou na criação de seleção padronizada de insumos e matéria-prima, já através da contratação de consultores externos gerou competências para o desenvolvimento de indicadores de desempenho para a linha de produção e, finalmente, com a contratação de engenheiros experientes surgiram conhecimentos para a criação de programa de coleta de dados on-line, o que melhorou consideravelmente a performance da linha de produção.
Na função produto, com a utilização dos processos de aprendizagem estudos em laboratórios e manipulação de parâmetros de produção e também com os encontros formalizados para compartilhamento do conhecimento foi possível criar mapas para o gerenciamento de novos produtos.
Com a interação com usuários e clientes para aprimoramento de produtos foi possível realizar adaptações em um produto já existente (estantes) que permitiu a criação de novos produtos (racks e armários). Também com essa forte interação, a indústria teve condições para desenvolver linhas de produtos exclusivas. Uma com alta densidade, outra que dispensa acabamentos, e a terceira resistente à abrasão e ao ataque de produtos químicos.
4.3 Processos de Aprendizagem: 2ª Característica – Intensidade
O segundo critério analisado do processo de aprendizagem refere-se à intensidade. O Quadro 5 resume como a indústria BETA adquiriu, compartilhou e codificou os conhecimentos e transformou-os em competências inovadoras.
Processos e Mecanismos de Aquisição Externa de Conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Intermitente |
7 |
0 |
Contínuo |
0 |
16 |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
7 |
16 |
Total dos processos de aprendizagem |
17 |
17 |
Processos e mecanismos de aquisição interna de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Intermitente |
3 |
0 |
Contínuo |
0 |
11 |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
11 |
Total dos processos de aprendizagem |
11 |
11 |
Processos e mecanismos de compartilhamento (socialização) de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Intermitente |
3 |
0 |
Contínuo |
0 |
10 |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
10 |
Total dos processos de aprendizagem |
10 |
10 |
Processos e mecanismos de codificação de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Intermitente |
2 |
0 |
Contínuo |
0 |
6 |
Total dos processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
2 |
6 |
Total dos processos de aprendizagem |
7 |
7 |
Quadro 5 - Intensidade dos Processos de Aprendizagem
Fonte: Pesquisa de campo
No período de 1999 a 2004, a intensidade para os processos de aprendizagem utilizados na indústria BETA ocorreu de maneira intermitente, o que contribuiu para ela acumular, nas duas funções estudadas, competências de rotina.
A partir de 2005 houve a utilização de vários outros processos de aprendizagem e a indústria os tornou contínuos, o que gerou competências do tipo inovativa intermediária superior (5). Além dos processos de aprendizagem elencados pelos gerentes como contínuos nos quadros 1 e 2, eles afirmaram a importância do relacionamento com clientes (internos e externos), fornecedores, consultores, engenheiros e a aquisição da indústria.
4.4 Processos de Aprendizagem: 3ª Característica – Funcionamento
O terceiro critério analisado do processo de aprendizagem refere-se à funcionamento. O Quadro 6 resume como a indústria BETA adquiriu, compartilhou e codificou os conhecimentos e transformou-os em competências.
Processos e Mecanismos de Aquisição Externa de Conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderado |
7 |
0 |
Bom |
0 |
6 |
Excelente |
0 |
10 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
7 |
16 |
Total de processos de aprendizagem |
17 |
17 |
Processos e mecanismos de aquisição interna de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderado |
3 |
0 |
Bom |
0 |
8 |
Excelente |
0 |
3 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
11 |
Total de processos de aprendizagem |
11 |
11 |
Processos e mecanismos de compartilhamento (socialização) de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderado |
3 |
0 |
Bom |
0 |
6 |
Excelente |
0 |
4 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
10 |
Total de processos de aprendizagem |
10 |
10 |
Processos e mecanismos de codificação de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderado |
2 |
0 |
Bom |
0 |
4 |
Excelente |
0 |
2 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
2 |
6 |
Total de processos de aprendizagem |
7 |
7 |
Quadro 6 - Funcionamento dos Processos de Aprendizagem
Fonte: Pesquisa de campo
O funcionamento dos processos de aprendizagem que a indústria Beta utilizou no período que compreende os anos de 1999 até 2004, foi considerado pelos gerentes como moderado, o que não foi suficiente para alcançar as competências inovadoras.
Já a partir de 2005, os processos de aprendizagem foram classificados como bom e excelente. Os gerentes enfatizaram principalmente o funcionamento do aprendizado com os clientes (internos e externos), fornecedores, consultores, engenheiros e com a aquisição da indústria.
4.5. Processos de Aprendizagem: 4ª Característica – Interação
O quarto critério analisado do processo de aprendizagem refere-se à interação. O Quadro 7 resume como a indústria BETA adquiriu, compartilhou e codificou os conhecimentos e transformou-os em competências.
Processos e Mecanismos de Aquisição Externa de Conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderada |
7 |
4 |
Forte |
0 |
12 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
7 |
16 |
Total de processos de aprendizagem |
17 |
17 |
Processos e mecanismos de aquisição interna de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderada |
3 |
8 |
Forte |
0 |
3 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
11 |
Total de processos de aprendizagem |
11 |
11 |
Processos e mecanismos de compartilhamento (socialização) de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderada |
3 |
4 |
Forte |
0 |
6 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
3 |
10 |
Total de processos de aprendizagem |
10 |
10 |
Processos e mecanismos de codificação de conhecimento |
1999 a 2003 |
2004 a 2008 |
Moderada |
2 |
4 |
Forte |
0 |
2 |
Total de processos de aprendizagem identificados pelos gerentes |
2 |
6 |
Total de processos de aprendizagem |
7 |
7 |
Quadro 7 – Interação dos Processos de Aprendizagem
Fonte: Pesquisa de campo
A interação com os processos de aprendizagem utilizados pela indústria Beta, no período de 1999 a 2004, foi classificada pelos gerentes como moderada, já a partir do ano de 2005 a interação passa a ser forte.
Dentre os vários processos de aprendizagem elencados pelos gerentes no Quadro 6, foi enfatizada a forte interação com fornecedores, clientes (internos e externos), consultores, engenheiros e com a aquisição de indústria, esses contribuíram para o alcance das competências inovadoras.
5. Considerações finais
O objetivo geral do presente trabalho foi identificar a relação entre os processos de aprendizagem organizacional e a criação e acumulação de competências inovadoras nas funções tecnológicas de processo e organização da produção e produto na indústria (BETA) do segmento madeireiro paranaense, no período de 1999 a 2008
No intuito de alcançar os objetivos, os modelos de aprendizagem e de competência do autor Figueiredo (2001) foram escolhidos, adaptados e aplicados na indústria madeireira na forma de questionário (questões fechadas e abertas).
Na indústria pesquisada os processos de aprendizagem elencados pelos gerentes produziram competências do tipo inovativa intermediária superior (5) nas duas funções estudadas. Os processos também foram divididos em dois momentos distintos (1999 a 2003 e de 2004 a 2008).
De 1999 a 2003, houve significativa ausência dos processos de aprendizagem, a intensidade foi considerada intermitente, o funcionamento e a interação aconteceram de forma moderada. Com essa postura a indústria não conseguiu desenvolver competências inovadoras.
Já no período de 2004 a 2008, aconteceram mudanças importantes na indústria Beta. Quase a totalidade dos processos de aprendizagem esteve presente, a intensidade aconteceu de forma contínua, o funcionamento variou entre bom e excelente e a interação foi forte. Essas mudanças provocaram ganhos de aprendizado que gerou as competências inovadoras.
Diante do explicitado, é possível inferir que, com essa aplicação na indústria Beta, quanto mais processos de aprendizagem forem agregados e utilizados de forma contínua, com excelentes níveis de funcionamento e forte interação, melhor e mais rápido será a acumulação de competência.
No decorrer do estudo alguns obstáculos aconteceram, o que limitou a presente pesquisa. O primeiro encontrado foi o entendimento dos gerentes com o questionário, eles sentiram embaraço em lembrar quais processos de aprendizagem foram utilizados no período estudado e quais competências foram adquiridas ou criadas.
O segundo obstáculo foi conseguir extrair detalhes do desenvolvimento das competências inovadoras. Já que o tema em estudo é sempre assunto confidencial em qualquer organização, os gerentes relutaram em fornecer essas informações.
Para trabalhos futuros algumas sugestões podem ser listadas: Realizar estudo similar identificando as contribuições dos processos de aprendizagem para a acumulação de competências em outras indústrias do segmento madeireiro ou em outros setores; Efetuar estudos mais detalhados em indústrias com um período de tempo maior e em outras funções tecnológicas; Realizar estudo similar adaptando o modelo de aprendizagem e competências para aplicação em pequenas e médias empresas (PME’S).
Deve-se destacar que os conceitos apresentados são de relevante importância para se entender a verdadeira natureza da acumulação de competências inovadoras na organização. No entanto, as teorizações e evidências apresentadas não têm a pretensão de ser uma teoria definitiva e sim visam estimular o debate e a crítica junto à comunidade acadêmica.
Referências
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LALL, S. Technological capabilities and industrialization word development 20 (2): 165-86, February, 1992.
MIRANDA, E. C. P. Direção e taxa (velocidade) de acumulação de capacidades tecnológicas: evidências de uma pequena amostra de empresa de softwares no Rio de Janeiro e em São Paulo. Dissertação - Fundação Getúlio Vargas - FGV/EBAPE, 250p, 2005.
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