Espacios. Vol. 34 (3) 2013. Pág. 17


Análise longitudinal da propriedade intelectual como ferramenta da gestão do conhecimento – Estudo em instituição de ensino superior

Longitudinal analysis of intellectual property as a tool for knowledge management - study in an institution of higher education

Eliane Fernandes Pietrovski 1; João Luiz Kovaleski 2; Gerson Ishikawa 3; Vanessa Ishikawa Rasoto 4.

Recibido: 12-09-2012 - Aprobado: 13-01-2013


Contenido

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RESUMO:
Apoiando-se no referencial proposto por Davenport e Prusak (1999), este artigo contextualiza a estratégia da proteção da propriedade intelectual gerada nas organizações como um processo chave da gestão do conhecimento. Tem como objetivo apresentar uma análise longitudinal, no período de 2002 a 2011, descrevendo a experiência da gestão da propriedade intelectual na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, uma instituição de ensino superior com doze câmpus abrangendo as principais regiões do Estado do Paraná. O método de pesquisa utilizado foi o estudo de caso com pesquisa documental, por meio de entrevistas semi-estruturadas aplicadas aos gestores. Este estudo enfoca as experiências de uma universidade multicâmpus em sua atuação como agente do desenvolvimento regional, buscando a articulação dos agentes locais e a superação das restrições tecnológicas, econômicas e sociais presentes nas realidades regionais. Por fim, apontam-se as limitações do referencial de Davenport e Prusak (1999) quando aplicado a uma organização sem fins lucrativos.
Palavras chave: gestão do conhecimento; estratégia organizacional; aprendizagem organizacional.

ABSTRACT:
Based on the Davenport and Prusak (1999) framework, this article describes the strategy of intellectual property protection as a key process of organizational knowledge management. This study presents a longitudinal analysis, from 2002 to 2011, to describe the experience of intellectual property management at Universidade Tecnológica Federal do Paraná, a higher education institution with 12 regional branches in the state of Paraná (Brasil). The research method adopted is the case study with documental analysis as well as semi-structured interviews with key managers. The description focus is on the experiences of a multibranch university as an agent of regional development in the role of articulation of local agents and in challenging the technical, economical and social restrictions. Finally, this study presents a critical evaluation of the Davenport and Prusak (1999) framework with the identification of its limitations when applied to a non-profit organization.
Keywords: knowledge management; organizational strategy; organizational learning.


1. Introdução

Gerir o conhecimento é o foco das organizações na atualidade. As estratégias organizacionais devem estar apoiadas na geração, disseminação e compartilhamento do conhecimento e, portanto, necessário se faz a adoção de mecanismos acompanhados do enfoque inovador nos processos e produtos e ainda deve proteger o conhecimento gerado na organização.

No entanto, as organizações ainda enfrentam restrições em adotar práticas de gestão do conhecimento, como forma estratégica. Mais especificamente, existem dificuldades para identificar quais práticas efetivamente contribuem para gestão, para priorizar os fatores que exercem maior influência sobre o processo e para avaliar a adequação e a eficácia dos métodos para gerar resultados tangíveis e intangíveis. Atribui-se a estas dificuldades, muitas vezes, a falta de elementos que apliquem os métodos e consequentemente gerem resultados mensuráveis que reflitam na estratégia organizacional, na forma proposta por este modelo de gestão (PIETROVSKI, 2002).

Segundo Loughbridge (1996) a gestão do conhecimento nas organizações pode ser traduzida como a aquisição, a troca e a utilização deste conhecimento, os quais incluem o aprendizado organizacional e os sistemas de informação, transformando o conhecimento pessoal em coletivo, de forma compartilhada e sistematizada sendo aplicado apropriadamente aos processos da organização.

A gestão estratégica do conhecimento, para Wah (2000), baseia-se principalmente nas práticas que conduzem a resultados positivos na captação, armazenamento, recuperação e distribuição de ativos tangíveis, por meio da proteção do conhecimento sob a forma de propriedade intelectual, como as patentes ou direitos autorais e os ativos intangíveis por meio do know-how, da qualificação profissional, da experiência individual e corporativa.

O conhecimento, enquanto ativo intangível, é reconhecido como fator relevante para a geração de riquezas e como vantagem competitiva sustentável para as organizações (STEWART, 1998). De fato, o que se observa é que as organizações têm desenvolvido regularmente ações voltadas a gerenciar o seu conhecimento interno. Aumentar sua competência técnica, sua abrangência de atuação e sua participação no desenvolvimento econômico são indícios que a organização caminha com o propósito de pautar sua gestão no conhecimento. Destaca-se que é preciso aproveitar todos os recursos disponíveis na organização para que as pessoas busquem e apliquem as melhores práticas. Esse pressuposto é valido para todas as organizações e no caso em questão para as instituições de ensino (PIETROVSKI, 2002).

Neste enfoque, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, foco do presente artigo, apresenta-se como um caso empírico da gestão da propriedade intelectual, da sua implantação até os resultados da descentralização da gestão compartilhada entre os doze câmpus da instituição de ensino. Esta organização, por meio de diversos mecanismos de interação, estende sua competência nas atividades de ensino e pesquisa tecnológica à comunidade, principalmente por meio da vinculação ao setor empresarial.

A interação universidade-empresa, conduzida pela área de Relações Empresariais em cada câmpus, traz benefícios para as principais partes envolvidas: o aluno, a empresa, a comunidade e a própria instituição. Ao se tratar do aluno, oferece uma série de oportunidades para complementar, consolidar e atualizar seus conhecimentos, vivenciando diretamente o ambiente profissional e a sua futura área de atuação. Quanto à empresa obtém profissionais capacitados para o desenvolvimento de suas atividades, principalmente ligadas à tecnologia, assim como, conta com um número apreciável de oportunidades de intercâmbio e projetos cooperativos com a comunidade acadêmica. Ao se tratar da comunidade, oferece a oportunidade de participação nos projetos de capacitação, formação, inclusão social, entre outras ações de extensão.

Segundo esta abordagem apoiando-se na visão contemporânea da sociedade do conhecimento, procurou-se, neste trabalho, destacar os benefícios e as dificuldades das organizações em gerir o conhecimento como forma de proteção intelectual, posicionando-se no cenário da nova economia global.

Neste contexto, surge a questão de pesquisa que norteou esta investigação empírica: Quais foram os fatores que influenciaram o desempenho da propriedade intelectual em uma universidade multicâmpus?

Para responder tal indagação apresentar-se-á o caso da UTFPR, instituição multicâmpus, a qual, por meio de práticas organizacionais, incentiva que o conhecimento gerado seja considerado útil e de posse de todos os colaboradores, protegendo seus ativos.

2. Revisão teórica: gestão estratégica do conhecimento e a propriedade intelectual 

Identificam-se, na atualidade, organizações que propiciam um ambiente de aprendizado interativo para a criação, transferência, internalização e aplicação do conhecimento. Estas organizações procuram estabelecer uma estrutura de gestão do conhecimento para criar canais para sua transferência sendo que estes conhecimentos devem ser monitorados e reforçados sistematicamente.

O conceito do conhecimento aplicado ao trabalho não é um tema atual, pois as expressões base do conhecimento e engenharia do conhecimento eram utilizadas antes mesmo do termo gestão do conhecimento tornar-se popular (SAVI et. al., 2010).

Neste enfoque, para adotar práticas de gestão do conhecimento, conta-se com o apoio do nível gerencial, permitindo que se crie uma equipe de pessoal despojada para explorar e destacar suas capacidades individuais, principalmente sua capacidade de inovação, afetando suas relações interpessoais nos grupos e dispostos a compartilhar o conhecimento tornando-o coletivo (PIETROVSKI, 2002).

A produção e a distribuição do conhecimento e da informação ocupam o centro das atividades da organização no lugar da produção de bens materiais, ao contrário do que se verificava nas décadas passadas (DRUCKER, 1993) e Nonaka (1994) adota a definição para o conhecimento como uma “crença justificadamente verdadeira”.

Nas ultimas décadas o conhecimento passou a ser fator relevante em todas as organizações e as instituições de ensino superior (IES) devem acompanhar os processos de mudanças e se adaptar às transformações sociais e organizacionais.

A gestão do conhecimento apresenta-se como a tarefa de identificar, desenvolver, disseminar e atualizar os conhecimentos relevantes, por meio de processos internos e externos, das organizações. Por meio da gestão do conhecimento é que os resultados eficientes e eficazes serão alcançados, pois se leva em conta que o conhecimento é o principal ativo estratégico de posse da organização e que não está fora do seu ambiente interno (FLEURY; OLIVEIRA JUNIOR, 2001).

Para Nonaka (1997), na economia onde a ‘única certeza é a incerteza’, o conhecimento é a fonte garantidora de ‘vantagem competitiva duradoura’. As organizações devem completar uma ‘espiral do conhecimento’ a qual representa uma ampliação do conhecimento, atingindo outras áreas da organização, partindo de ‘tácito a tácito’, de ‘explícito a explicito’, de ‘tácito a explicito’ e de ‘explicito a tácito’. Neste novo desenho organizacional o conhecimento é dividido em duas categorias: conhecimentos tácitos e conhecimentos explícitos. Os conhecimentos explícitos podem ser verbalizados e representam a parte objetiva estruturada, que pode ser armazenada e compartilhada em documentos (normas, direitos autorais, concessões de patentes, registros de marcas e desenhos industriais e outros). Em se tratando de conhecimento tácito definem-se os conhecimentos próprios das pessoas, as habilidades inerentes a cada um e, portanto, não podem ser transferidas para outras pessoas. O grande desafio na gestão do conhecimento é converter o conhecimento pessoas em conhecimento organizacional (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) ou, pelo menos, encontrar mecanismos que permitam ampliar o seu compartilhamento no contexto organizacional, incluindo os seus principais grupos de relação (stakeholders).

O capital intelectual representa a soma do capital humano adicionado do capital estrutural. Como capital humano apresenta-se: o conhecimento, a experiência, a inovação, habilidade nas tarefas, os valores, a cultura e a filosofia de organização. Como capital estrutural tem-se: os equipamentos, os softwares, as concessões de patentes, os registros das marcas e também se considera o relacionamento com o cliente e sua correspondente fidelidade (EDVINSSON; MALONE, 1998).

Neste propósito, as IES têm o compromisso de, além de desempenhar o seu papel com foco no ensino, procurar apoiar-se na pesquisa e extensão e, assim, serem consideradas partes integrantes dos processos que contribuem para o desenvolvimento tecnológico, econômico e social. Eram vistas como produtoras do conhecimento e com o passar do tempo estão sendo impulsionadas para colaborar mais efetivamente tanto das relações empresariais quanto contribuindo com a sociedade (FLEURY; OLIVEIRA JUNIOR, 2001).

A participação das universidades como agente de desenvolvimento pode ser por meio dos produtos e serviços tecnológicos que visem a transferência de tecnologia.

A gestão do conhecimento alcança níveis de sucesso em sua aplicação organizacional quando se aplicam os fatores, apontados por Davenport e Prusak (1999):

  • criar uma cultura orientada para o conhecimento;
  • manter uma infra-estrutura técnica e organizacional;
  • obter o apoio da alta gerencia;
  • manter uma vinculação com o valor econômico;
  • ter orientação para processos;
  • ter clareza de visão organizacional;
  • ter mecanismos motivadores e de incentivos e
  • criar canais para a transferência do conhecimento por meio de reforço continuo.

Ao se referir ao conhecimento como ativo estratégico requer que as organizações busquem alianças estratégicas, por meio de parcerias com outras empresas e/ou universidades, para viabilizar a transferência de conhecimentos e suprir seus próprios gaps de conhecimento, trocando, assimilando e estabelecendo programas de gestão de conhecimentos relevantes (FLEURY; OLIVEIRA JUNIOR, 2001).

Segundo a convenção World Intellectual Property Organization – WIPO (2001) a propriedade intelectual é o conjunto de direitos sobre bens imateriais, resultado do intelecto humano que geram valor econômico. Outro conceito importante identifica que a “Propriedade Intelectual é instrumento essencial na proteção do conhecimento e para a sua transformação em benefícios sociais” (INOVA, 2012).

A propriedade intelectual nas organizações é considerada como um ativo importante, traduzida pelo aumento da competitividade, ao agregar valor à sua capacidade inovativa e também por outros fatores que se destacam como um agente: gerador de riquezas; impulsionador de criação de novos produtos e processos; colaborador no aumento da produtividade; favorecedor do comércio internacional e outros fatores intrínsecos ou extrínsecos organizacionais (JUNGMANN; BONETT, 2010).

Considerando que o conhecimento avança velozmente provocando o desenvolvimento tecnológico crescente destaca-se a importância da propriedade intelectual para as organizações e para os indivíduos empreendedores, inventores, criadores. Desta forma, têm garantido que o seu trabalho seja disponibilizado globalmente sem a preocupação da falta de identificação nas suas criações e inovações. Outro aspecto relevante é a garantia de retorno financeiro por ocasião da transferência ou comercialização de sua criação.

Considerando as diversas formas de proteção de bens imateriais disponíveis, apoiados no âmbito legal cujas leis regulam especificamente cada assunto, têm-se as seguintes categorias de Propriedade Intelectual (JUNGMANN; BONETT, 2010):

  • Direito Autoral – direitos de autor, direitos conexos e softwares;
  • Propriedade Industrial: Patentes de invenção e de modelos de utilidade, Registros de Desenho Industrial, de Marca e de Indicações Geográficas;
  • Proteção sui generis – topografia de circuito integrado, cultivares, conhecimentos tradicionais e acesso ao patrimônio genético.

Ao se tratar de propriedade industrial, referente a atividade empresarial, as patentes e os registros estão vinculados à manutenção do segredo industrial e repressão à concorrência desleal (INPI, 2012).

3. Procedimentos metodológicos

Para responder a questão problema levantada na busca de identificar quais os fatores eu influenciaram o desempenho da propriedade intelectual numa instituição de ensino superior multicâmpus, foi realizada a investigação empírica do caso da UTFPR, pautada pelos princípios da gestão do conhecimento e na proteção e transferência de seus ativos por meio dos mecanismos da propriedade intelectual.

O método aplicado foi a pesquisa explanatória, utilizando o estudo de caso, numa visão longitudinal no período de 2002 a 2011, por meio de documentos (relatórios de gestão, relatórios e apresentações da Agência de Inovação), com aplicação de entrevistas semi-estruturadas aplicados aos gestores os quais atuam diretamente com o conhecimento produzido na UTFPR.

Segundo Yin (2001) o estudo de caso permite que o pesquisador faça um levantamento dos eventos causais ao longo do tempo, sendo que a sequencia básica entre causa e efeito não pode ser invertida temporariamente e que o objetivo consiste em comparar essa ordem cronológica dos fatos com o que se previu em uma teoria explanatória.

Portanto, a análise longitudinal abordando e apresentando a experiência da gestão da propriedade intelectual na UTFPR permitiu identificar as evidências obtidas, tendo como base teórica as proposições de Davenport e Prusak (1999) as quais apontaram as diretrizes por meio da consolidação dos resultados na coleta e análise dos dados obtidos.

4. A gestão da propriedade intelectual na UTFPR

A UTFPR traz em seu histórico e trajetória uma herança na educação profissional, como: Escola de Aprendizes e Artífices (1909); Liceu de Ofício (anos 30); Escola Técnica (anos 40); Escola Técnica Federal (anos 50); Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná - Cefet-PR (anos 80) e transformada em Universidade Tecnológica Federal (2005).

Com ampla abrangência geográfica no estado do Paraná – Brasil atua em doze câmpus distribuídos nas cidades de Apucarana, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Curitiba, Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Guarapuava, Londrina, Medianeira, Pato Branco, Ponta Grossa e Toledo.

Atualmente, a UTFPR oferece cursos superiores de tecnologia, bacharelados e licenciaturas e também atende à necessidade de pessoas que desejam qualificação profissional de nível médio, por meio da oferta de cursos técnicos em diversas áreas do mercado.

Por meio do incentivo à pesquisa estabelece uma política institucional para estimular a produção acadêmica e promover a criação de núcleos de competência para pesquisa e desenvolvimento. A consolidação do ensino incentiva o crescimento da pós-graduação, com a oferta de cursos de especialização, mestrados e doutorados, além de grupos de pesquisa.

Na área de extensão atua fortemente com o segmento empresarial e comunitário, por meio do desenvolvimento de pesquisa aplicada, da cultura empreendedora, entre outras atividades.

Como estratégia de gestão organizacional, visando proporcionar a educação de excelência e articulando o tripé ensino, pesquisa e extensão promovendo o desenvolvimento social e tecnológico sustentável da comunidade, amparados pela proteção intelectual no âmbito da UTFPR, em 2007 foi implantada a Agência de Inovação – AGINT, vinculada a Pró-Reitoria de Relações Empresariais e Comunitárias. Fazendo parte do processo de implantação, como mais um mecanismo institucional, foram criados os Núcleos de Inovação Tecnológica - NIT, atuando nos doze câmpus da UTFPR, vinculados às Diretorias de Relações Empresariais e Comunitárias.

A atuação descentralizada dos NIT tem como propósito identificar oportunidades no ambiente universitário e incentivar o empreendedorismo e inovação, como nicho de mercado, por meio da pesquisa amparada pela proteção intelectual.

O NIT compreende os mecanismos: Departamento de Apoios e Projetos Tecnológicos; por meio das Divisões: Projetos Tecnológicos; Apoios e Consultorias; Propriedade Intelectual e Empreendedorismo e Inovação, a qual compreende: o Programa de Empreendedorismo e Inovação - PROEM com o Hotel Tecnológico, a Incubadora de Inovações e a Empresa Júnior, conforme pode ser visualizado na Figura 01. 

Figura 01 – Estrutura dos Núcleos de Inovação nos Câmpus da UTFPR

Fonte: AGINT, 2012.

O PROEM oferece aos pesquisadores, alunos e empreendedores, por meio de uma equipe, consultoria e orientação na área de propriedade intelectual visando a proteção do que é gerado nos laboratórios, nos projetos incubados nos Hotéis Tecnológicos, nas empresas incubadas na Incubadora de Inovações e nas Empresas Juniores da UTFPR a gestão do portfólio de patentes da universidade e mecanismos para a comercialização e a transferência das tecnologias produzidas.

Na tarefa de disseminar a cultura de patenteamento (ou seja, de proteção do capital intelectual), a AGINT estabelece mecanismos de divulgação das potencialidades de licenciamento, desenvolve projetos estratégicos, incentiva a criação de redes de competências internas e externas, regulamenta os aspectos legais relacionados com a propriedade intelectual, responsabiliza-se pela a gestão dos direitos de propriedade industrial da instituição e monitora os projetos de base tecnológica, avaliando se os projetos e/ou os produtos estão atualizados em relação às novas tecnologias. Neste aspecto, o planejamento, análise e automatização trazem como resultado maior confiabilidade, padronização e produtividade.

Os resultados em propriedade intelectual podem ser observados na Figura 02, destacando o número de ativos protegidos de acordo com o tipo de proteção por ano. Além dos pedidos de proteção e registros já requeridos junto ao INPI também são registradas as orientações, a alunos, professores, e pesquisadores externos, disseminando assim a cultura da propriedade intelectual.

Figura 02 – Resultados por tipos de Proteção Intelectual na UTFPR.

Fonte: Relatório da Agência de Inovação, 2011.

Como se apresenta na tabela 01, a UTFPR possui no período de 2008 a 2011 cerca de 12 pedidos de patentes que estão sendo avaliados junto ao INPI para concessão de patente. Em 2011, houve uma redução no número de patentes solicitadas (3 em 2011 contra 12 em 2010) e foram cadastrados 15 potenciais solicitações, com firme intenção de proteção do conhecimento (em relação 2010 quando foram registradas 28 intenções). Aponta-se como justificativa a redução do número em 2011 devido ao processo de geração e maturação do conhecimento, cujo tempo é significativo, excedendo muitas vezes a expectativa sinalizada pelos pesquisadores. 

Tabela 01 – Resultados de Proteção Intelectual na UTFPR

PROTEÇÃO INTELECTUAL

2002 a 2006

2007

2008

2009

2010

2011

Total acumulado

Perspectiva de Pedidos

0

0

14

10

11

15

50

Patentes de Invenção

5

0

1

2

6

3

17

Patentes de Modelos de Utilidade

0

0

0

0

0

0

0

Registro de Desenhos Industriais

0

0

0

0

0

0

0

Registro de Marcas

0

2

1

0

2

0

5

Registro de Programas de Computador

0

2

0

0

2

0

4

Registro de Cultivares

0

1

0

0

0

0

1

Registro de Indicações Geográficas

0

0

0

0

0

0

0

Registro de Topografia de circuitos integrados

0

0

0

1

0

0

1

Patentes com titularidade conjunta

0

0

0

0

1

1

2

Total de Pedidos Depositados

5

5

2

3

11

4

30

Fonte: Relatório AGINT - UTFPR, 2011.

Outro aspecto para o resultado de 2011  que caem para 4 patentes depositadas foi apontado como a falta estrutura operacional e de pessoas, pois a AGINT trabalhava contando com a participação de bolsistas financiados por projetos e para suprir a falta de pessoal decidiu capacitar servidores no ano 2010-2011 visando disseminar a cultura de propriedade intelectual. Fato este que aumentou substancialmente a solicitação de palestras, participação em semanas dos cursos de graduação, semana pedagógica com professores pesquisadores para tratar de temas correlatos a propriedade intelectual da UTFPR.

Ainda, nos últimos sete anos (2005-2011) a UTFPR protocolou 14 pedidos de patente dentro dos 30 pedidos de Propriedade Intelectual. No ano 2012 já foi realizado 3 depósitos de patentes de invenção sendo uma internacional por meio do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT). 

Por fim, a AGINT tem um caráter de “zeladora” de potenciais desdobramentos negativos das inovações, inibindo atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico ou produção de materiais, equipamentos, insumos e/ou processos que possam ser perniciosos às instalações e ao meio ambiente; que possam representar atos ilícitos; e que possam colocar a idoneidade de instituição e dos seus grupos de relação em risco. No que se refere ao apoio jurídico conta com uma Pró-Reitoria para análise e parecer quanto aos aspectos legais relativos ao seu funcionamento, à questão de propriedade intelectual e quanto para a elaboração de contratos de transferência de tecnologia produzidas. Outra estratégia de gestão, com o objetivo de analisar o interesse institucional, na proteção de direitos relativos à propriedade intelectual foi a implantação do Comitê Avaliador para a Propriedade Intelectual (COAPI).

Portanto, pelos resultados apresentados, a AGINT tem conseguido avançar na sua missão de promover a articulação de parcerias da UTFPR com empresas, órgãos governamentais e demais organizações da sociedade, com foco na inovação e empreendedorismo, criando oportunidades de transferência de tecnologia das atividades de pesquisa, ensino e extensão contribuindo com o desenvolvimento social e tecnológico amparados pela proteção intelectual.

5. Resultados e discussão

A UTFPR, instituição multicâmpus, apresentou nos resultados da pesquisa aplicada em 2002, os aspectos considerados relevantes para a análise da importância da propriedade intelectual como ferramenta da gestão estratégica do conhecimento. As dificuldades apontadas foram a respeito de fatores culturais, operacionais e estratégicos (PIETROVSKI, 2002):

  • os docentes não se consideravam potenciais de garantias de ativos tangíveis e intangíveis. Destacava-se a necessidade de gerenciar as atividades ligadas ao conhecimento teórico e prático de forma a evidenciar a relação de valor, principalmente nos fatores ligados às atividades de pesquisa, contando com todo o         potencial de recursos humanos e tecnológicos da instituição;
  • os docentes não se sentiam estimulados a participarem como pesquisadores disponíveis para trabalhar nos resultados de suas pesquisas e transferir estes conhecimentos gerados em conjunto com as empresas;
  • a equiparação dos conhecimentos tácitos dos pesquisadores da universidade com os profissionais das empresas cooperadas;
  • a políticas de diretrizes da instituição que limitavam e impactavam os processos de participação dos grupos de pesquisas, as quais muitas vezes eram equipes emergentes sem experiência suficiente par atraírem projetos de pesquisa aplicada ou aproveitarem oportunidades advindas dos processos de cooperação com as empresas;
  • insuficiência de apoio jurídico às questões burocráticas de uma instituição pública no que tange aos contratos e convênios os quais impediam o fluxo das negociações;
  • a proteção dos conhecimentos tácitos tratados pela propriedade intelectual, por meio de direitos autorais, patentes e registros obtidos pelos resultados das pesquisas acadêmicas realizadas em parceria tendo em vista que não se apresentavam políticas claras instauradas que assegurassem a instituição e aos pesquisadores a sua efetiva participação e também quanto aos bônus relativos aos trabalhos realizados;
  • o conhecimento não era considerado coletivo e não se aplicava em sua totalidade, como afirma Nonaka (1997). Os relatórios de gestão, como fonte de informação e banco de dados físicos não eram explorados e aplicados como forma de melhoria nos setores, pois ficaram a disposição no gabinete da direção e nem todos tinham acesso na medida em que necessitavam das informações.
  • na pesquisa contatou-se que 73% consideraram pequeno o gerenciamento interno do capital tangível na forma de direitos autorais e patentes, tendo em vista a falta de informação e pessoal qualificado e estrutura organizacional para a questão.
  • na pesquisa destacou-se a parceria formada com o TECPAR, o qual utilizou os recursos do Programa de Estímulo à Interação Universidade-Empresa do Ministério de Ciência e Tecnologia para criação da Agência de Proteção Intelectual do Estado do Paraná, a qual regula e trata dos interesses referentes ao tema das IES.

Confrontando-se os resultados por meio da análise longitudinal a partir de 2002 a 2011, apresentam-se as prováveis contribuições mais significativas:

  • com a transformação em universidade (2005) houve a necessidade de mobilizar recursos e redesenhar a estrutura organizacional;
  • adoção de política institucional com o compromisso voltado para o desenvolvimento social e econômico;
  • busca de gerar uma cultura empreendedora para efetivar a transferência de tecnologia, sem esquecer o enfoque de uma instituição de ensino;
  • intensificação de ações nos programas de pós graduação, com o crescimento de mestrados e doutorados implantados, destacando a preocupação em gerir os conhecimentos práticos e pragmáticos e tornando-os conhecimentos inovadores e de acessível aplicabilidade.
  • inserção nos currículos dos cursos o estudo do empreendedorismo e de gestão de tecnologia e de propriedade intelectual, repercutindo na criação de hotéis tecnológicos e incubadoras e participando de parques tecnológicos regionais;
  • criação do Programa de Empreendedorismo e Inovação – PROEM;
  • pesquisas tecnológicas e apoios tecnológicos em parcerias;
  • parceria no suporte financeiro para o desenvolvimento de teses;
  • implantação de gestão de núcleos de desenvolvimento e a importância da formalização do NIT como fator organizacional contributivo;
  • participação da UTFPR na sociedade do conhecimento, com sua estrutura formal e sólida, no que tange a pesquisa e aplicação dos resultados, algumas vezes em parcerias com empresas por meio dos NIT.
  • busca de melhoria continua na infra-estrutura que garante um padrão de qualidade de materiais e equipamentos nos laboratórios, seja da própria universidade ou utilizados em parceria com empresas cooperadas;
  • nos resultados de suas pesquisas e transferir estes conhecimentos gerados em conjunto com as empresas, por meio de pesquisas cooperativas, gerando ativos financeiros com a comercialização dos produtos e processos resultantes do processo de cooperação universidade-empresa;
  • tratamento mais amplo quanto às linhas de pesquisa aplicadas nos moldes da propriedade intelectual.

Destaca-se, também com relação à melhoria de desempenho de proteção intelectual como ferramenta de gestão do conhecimento não somente o número de propriedade intelectual gerada, como o aumento da disseminação do conhecimento organizacional por meio de palestras; eventos de disseminação da cultura de propriedade intelectual, empreendedorismo e inovação; aumento de consultorias e apoios tecnológicos por meio de Termos de Cooperação e Convênios, entre instituições e empresas, com cláusulas de propriedade intelectual sendo incluídas e analisadas. Estas ações conduzem a um cenário positivo e uma visão a longo prazo promissora para a instituição.

6. Conclusão

O problema levantado na presente pesquisa foi definido pela indagação sobre quais foram fatores que influenciaram o desempenho da propriedade intelectual em uma universidade multicâmpus, sendo que o objetivo geral do trabalho foi estruturado em torno desse tema.

A análise crítica, por meio da perspectiva longitudinal, no período de 2002 a 2011, permitiu levantar os fatores impactantes e contributivos, tendo por referencia o estudo de Davenport e Prusak (1999), os quais respondem a questão proposta pelo trabalho proposto, que levam à melhoria do desempenho da gestão da propriedade intelectual, como ferramenta da gestão estratégica do conhecimento, na UTFPR:

  • criar uma cultura orientada para o conhecimento - os mecanismos culturais ainda são considerados lentos. Além disto, não é o conhecimento pelo conhecimento, mas, a criação de uma cultura voltada para a inovação e que utiliza o conhecimento para viabilizar a sua renovação. A mudança cultural decorreu da criação de uma estrutura organizacional distribuída em todos os câmpus, da criação de portarias normatizadoras e das atividades de divulgação. No entanto, a própria cultura organizacional de trabalhar na fronteira do conhecimento (por meio de trabalhos de conclusão de cursos e de pesquisas em nível de mestrado e doutorado dos seus docentes) constitui um sólido ponto de partida para as atividades de gestão do conhecimento e de inovação.
  • manter uma infra-estrutura técnica e organizacional - a criação dos NIT foi uma forma de prover infra-estrutura técnica e organizacional para os processos de implementação das ações que promovem a inovação tecnológica. Além disso, a dotação de recursos humanos específicos e dedicados permitiu maior agilidade e consistência nesses processos.
  • obter o apoio da alta gerência - sendo uma instituição de ensino, a alta direção não é tão decisiva como nas organizações com fins lucrativos. O mecanismo de governança é muito mais sutil. A alta direção atuou para criar e manter os NIT, mas só isto não é suficiente, pois é preciso que as equipes envolvidas neste processo apóiem a iniciativa e mantenha as atividades. Nesse sentido, o processo de alinhamento com os interesses das equipes foi mais relevante que o apoio explícito da direção.
  • manter uma vinculação com o valor econômico - a vinculação econômica também é mais difícil de ser estabelecida por se tratar de uma instituição pública de ensino. O que houve foi a introdução de mecanismos de captação de recursos pelas áreas interessadas para que as equipes conduzissem suas atividades de inovação. Destaca-se que isto seja muito mais resultado dos incentivos à inovação do que da vinculação econômica, sendo que os NIT ajudaram a captar recursos para operacionalização dos processos, atuando como intermediadores e facilitadores do processo de priorização e de alocação de recursos.
  • ter orientação para processos - no que tange a orientação por processos, evidencia-se que os resultados da inovação na UTFPR foram frutos de um forte trabalho de identificação de iniciativas mais promissoras e depois apoiar a sua realização, caracterizando mais como foco da ação do que processo. De fato, este aspecto foi considerado de baixa relevância na implementação. Uma possível justificativa é que em instituições públicas há uma cultura orientada para a formalização das atividades (através da emissão de portarias internas) que facilitam a chamada gestão por processos.
  • ter clareza de visão organizacional – quanto à administração estratégica da UTFPR aponta-se o modelo de gestão, a cultura organizacional, a condução do plano estratégico e definição de metas, as políticas de gestão de pessoas, a formação de equipes de trabalho e as ações que destacam o conhecimento organizacional e as estratégias competitivas, evidenciando que talvez mais importante que clareza organizacional seja a "determinação organizacional" em buscar soluções.
  • ter mecanismos motivadores e de incentivos – a UTFPR apresenta forte vinculação como setor empresarial e acima de tudo com outras instituições de ensino e governamentais, cujas ações e parcerias vêm crescendo ao longo dos anos, portanto, a instituição está engajada na busca de parcerias para programas e projetos tecnológicos para pesquisa pura e aplicada. Porém quanto às solicitações de proteção, principalmente no que se refere a patentes, estas ocorreram mesmo sem ter incentivos financeiros.
  • criar canais para a transferência do conhecimento por meio de reforço continuo – neste aspecto destaca-se as parcerias, para gerenciar e proteger o conhecimento e fazer transferência da tecnologia desenvolvida. Necessário se faz um estudo futuro sobre definir as prioridades das oportunidades surgidas, a fim de mostrar onde as empresas estão buscando inovações. Por outro lado, ações já estão sendo realizadas para criar os canais por meio de projetos desenvolvidos e em desenvolvimento com cláusulas previstas de acordo com o Regulamento de Propriedade Intelectual da UTFPR, com foco nos potenciais licenciamentos, por exemplo, a participação do NIT e da AGINT nas feiras de oportunidades de negócios visando à divulgação do potencial licenciamento da tecnologia desenvolvida.

Portanto, objetivando a criação de um ambiente que favoreça o auxílio a pesquisadores e autores nas questões da propriedade intelectual, empreendedorismo e inovação destaca-se, na UTFPR, a importância da criação dos núcleos de competências conectados com as necessidades de mercado e potencializados para prestação de serviços, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, de forma sustentável.

Nesse sentido busca-se orientar os pesquisadores no desenvolvimento de ambos os processos e conduzi-los quando se trata de propriedade intelectual da UTFPR à AGINT para deliberar sobre quais processos e produtos gerados pela atividade de pesquisa do referido câmpus, isoladamente ou em parceria, serão objeto de pedido de proteção e, também, identificar oportunidades no ambiente universitário, como nicho de mercado, para incentivar a inovação por meio da pesquisa amparada pela propriedade intelectual.

A pesquisa e o desenvolvimento, quando potencializados para atender as necessidades de mercado, tornam-se um valioso instrumento para a formação de parcerias e na busca de recursos, visando à sustentabilidade do projeto e ao reconhecimento pelos resultados.

Para garantir os direitos do conhecimento e da tecnologia desenvolvida, devem ser providenciadas ações de prevenção desde a fase inicial do projeto, momento que em que a Agência de Inovação pode intervir como facilitadora.

Diante disso a UTFPR vem contribuindo ativamente com a capacitação de alunos, professores, servidores técnico-administrativos, consultores e, principalmente, empresários nas questões relacionadas com o aumento da capacidade de inovação das empresas, principalmente as de micro, pequeno e médio porte.

Os NIT descentralizados nos câmpus da UTFPR foram criados para fortalecer essa cultura, protegendo a propriedade intelectual e estimulando o desenvolvimento tecnológico e a sustentabilidade dos empreendimentos inovadores.

Neste aspecto, visando maiores resultados em inovação e empreendedorismo, gestão e transferência do conhecimento, com amparo na propriedade intelectual, o estudo identificou entre outros aspectos, a necessidade de se consolidar a promoção da cultura de proteção intelectual, por meio da atuação dos NIT descentralizados em seus doze câmpus com o apoio da AGINT.

As experiências da gestão da propriedade intelectual na UTFPR, uma instituição de ensino superior com doze câmpus, destacam o papel da universidade como participante do desenvolvimento regional integrado no Estado do Paraná - Brasil.

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1 UTFPR, Brasil Email: eliane@utfpr.edu.br
2 UTFPR, Brasil Email: kovaleski@utfpr.edu.br
3 UTFPR, Brasil Email: gersonishikawa@utfpr.edu.br
4 FAE, UTFPR, Brasil Email: vrasoto@hotmail.com


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