Espacios. Vol. 34 (2) 2013. Pág. 16 |
A utilização da Engenharia do Valor e Custo-Alvo na redução de custosThe use of Value Engineering and Target-Cost to reduce costLeonardo Corrêa Chaves 1, Leonardo Ensslin 2, Sandra Rolim Ensslin 3, Poueri do Carmo Mário 4, Sidney Soares Carneiro 5 y Altair Borgert 6 Recibido: 30-08-2012 - Aprobado: 15-10-2012 |
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RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoOs sistemas de custeio auxiliam no atendimento de exigências fiscais, no controle, no cálculo de custo dos produtos, no gerenciamento de processos, no apoio à tomada de decisão. Apesar disso, porém, os sistemas de custos não têm, em essência, a redução de custos baseada nas percepções dos clientes. Produtos que são desenvolvidos baseados nas percepções do consumidor têm maiores chances de serem bem sucedidos (BECKER et al., 2008; BIAZEBETE et al., 2009; COELHO e HÉLDER, 2008; GNANSOUNOU e DAURIAT, 2010; IBUSUKI e KAMINSKI, 2007; JARIRI e ZEGORDI, 2008; KULMALA et al., 2002; LERÍPIO e SELIG, 2009; PANDOLFO et al., 2007; SCHRÖDER e MARCONDES, 2008; TEIXEIRA e CAVALCA, 2008). Por exemplo, se dois produtos desempenham as mesmas funções sob a ótica do consumidor, com a mesma performance, e um deles tiver o custo menor, este produto será mais eficaz para a empresa, uma vez que atinge os mesmos objetivos, utilizando menos recursos (ENSSLIN et al., 2010). O Custo-Alvo, assim como a Engenharia do Valor são ferramentas que auxiliam no aumento da eficácia dos recursos disponíveis de uma organização. Em termos de produtos, foco desta pesquisa, a combinação das duas ferramentas pode auxiliar na elaboração de produtos que desempenhem as mesmas funções, com as mesmas qualidades de outros produtos, com um custo menor, aumentando, em consequência, a lucratividade da empresa. Para alguns autores, o Custo-Alvo e a Engenharia do Valor devem ser trabalhados de forma conjunta (BIAZEBETE et al., 2009; CAMACHO, 2008; COELHO e HÉLDER, 2008; GNANSOUNOU e DAURIAT, 2010; JARIRI e ZEGORDI, 2008; KULMALA et al., 2002; OLAK ALVES CRUZ e ROCHA, 2009). A partir do contexto apresentado anteriormente, levanta-se a seguinte pergunta de pesquisa: “Como a combinação do Custo-Alvo com a Engenharia do Valor pode ajudar, de maneira eficaz, na redução de custos?” Nesse sentido, realiza-se este trabalho com o Objetivo Geral de explorar a utilização, de forma conjunta, do Custo-Alvo e da Engenharia do Valor para a redução de custo de um produto sob a ótica do consumidor, focando nas funções que menos agregam valores. Como Objetivos Específicos, busca-se:
Desse modo, este estudo se justifica pelo fato de que a Engenharia do Valor trabalhada em conjunto com o Custo-Alvo estabelece prioridades de redução, levando em consideração o custo e o valor para o cliente, e, em paralelo, estabelece metas de redução. Sendo assim, considera-se tal abordagem de grande importância para o gerenciamento dos recursos, com fundamentação científica. 2. Revisão de literaturaNa Revisão de Literatura, serão abordados os tópicos Engenharia do valor e Custo-Alvo nas seções 2.1 e 2.2 respectivamente. 2.1. Engenharia do ValorA Engenharia do Valor (EV) surgiu nos EUA durante a segunda guerra mundial, ao se observar que as armas, quando manufaturadas com materiais em abundância, apresentavam as mesmas funções, com o mesmo desempenho que quando fabricadas com materiais nobres (LERÍPIO e SELIG, 2009; OLAK ALVES CRUZ e ROCHA, 2009; SCHRÖDER e MARCONDES, 2008). A EV foi consolidada entre 1947 a 1952, dentro da General Eletric (GE) (CSILLAG, 1995). Para a Sociedade Americana de Engenharia do Valor, a EV consiste em uma aplicação sistemática de técnicas reconhecidas, que identificam a função de um produto ou serviço; define um valor monetário para a função e faz com que esta seja executada da forma mais econômica possível, sem perder a confiabilidade (JARIRI e ZEGORDI, 2008). Para Lerípio e Selig (2009), a EV é um conjunto de esforços sistematizados, com o propósito de desenvolver um produto ou serviço com o menor custo possível. Isso é feito analisando-se as funções do produto ou serviço, gerando alternativas de reduzir o custo sem perder a qualidade e, se possível, melhorando-a. Atualmente, a EV é utilizada com o propósito de desenvolver produtos inovadores, aumentar a competitividade e manter-se no mercado industrial e econômico com riscos baixos (GNANSOUNOU e DAURIAT, 2010). A EV diferencia-se da Análise do Valor (AV) essencialmente na fase em que a metodologia é aplicada. A EV é aplicada no estágio de concepção do produto, ou no projeto do produto; enquanto a AV é realizada no estágio de produção, momento em que o produto já existe e já foi projetado (BECKER et al., 2008; OLAK ALVES CRUZ e ROCHA, 2009). Ressalta-se que, se a metodologia é aplicada em um produto já existente, mas que seja possível ser reprojetado, considera-se como EV. 2.2. Custo-AlvoO Custo-Alvo (ou Custo-Meta) se originou no Japão, passando a ser frequentemente utilizado, a partir dos anos 60, por indústrias como a Toyota, para gerenciar o custo da produção e obter vantagem competitiva, proporcionando a seus clientes produtos de alta qualidade a um custo mais baixo (COELHO e HÉLDER, 2008; GNANSOUNOU e DAURIAT, 2010; IBUSUKI e KAMINSKI, 2007). O Custo-Alvo é um método orientado ao mercado, aplicado na fase de concepção do produto (GNANSOUNOU e DAURIAT, 2010). O Custo-Meta tem sido reconhecido como uma importante ferramenta para a redução de custos e o aumento da competitividade (JARIRI e ZEGORDI, 2008). Alguns autores vão além, considerando o Custo-Meta como um instrumento de Gestão estratégica de custos, referindo-se a ele como “Custeio-Alvo”, o qual constitui um processo de gerenciamento de custos em se persegue o alcance do Custo-Alvo (BIAZEBETE et al., 2009; CAMACHO, 2008; OLAK ALVES CRUZ e ROCHA, 2009). A fundamentação do Custo-Alvo não está no custo-padrão histórico e nem no custo técnico (análise de processos), e sim na análise do mercado e dos objetivos estratégicos da empresa (COELHO e HÉLDER, 2008). Tendo isso em vista, o cálculo do Custo-Alvo não é feito a partir do cálculo do produto, mas do preço adotado pelo mercado. A partir desse preço, estabelece-se uma margem desejada (ou lucro-meta) e, com o isso, o Custo-Alvo. O lucro-meta pode ser calculado, conforme CAMACHO (2008), aplicando-se a seguinte fórmula: Custo Máximo Admissível = Preço de Venda – Lucro Meta A partir do cálculo do Custo Máximo Admissível, pode-se calcular o Custo-Alvo, conforme se mostra a seguir (OLAK ALVES CRUZ e ROCHA, 2009): Custo-Alvo = Custo Estimado (ou Atual) – Custo Admissível Com o valor do Custo-Alvo obtido, pode-se, então, saber quanto será necessário reduzir, assim como que alocação de esforços será necessária. 3. MetodologiaNa metodologia, serão expostos o Enquadramento metodológico e o Método de busca artigos científicos para alicerçar a presente pesquisa nas seções 3.1 e 3.2 respectivamente. 3.1. Enquadramento metodológicoO presente artigo tem por base uma pesquisa de natureza exploratória em forma de estudo de caso, tendo em vista que a partir dele foi possível gerar uma compreensão maior do objeto de estudo (produto conexão Y), obtida pela abordagem de Engenharia do Valor (RICHARDSON, 2008). Em relação à lógica de pesquisa, utiliza-se a lógica dedutiva, considerando que parte-se de teorias para predizer a ocorrência de fenômenos específicos do objeto de estudo. Em outras palavras, parte-se do geral para o particular com o intuito de explanar o conteúdo das premissas da pesquisa (JÚNIOR et al., 2007). O processo de pesquisa apresenta duas perspectivas: coleta de dados e abordagem do problema. Quanto à coleta de dados, apresenta fontes primárias, já que foram extraídas em primeira mão, direto do ambiente de estudo; e secundárias, quando as informações foram obtidas do site da empresa (MEDEIROS, 2009). Em relação à abordagem, esta pesquisa classifica-se como Qualitativa e Quantitativa. Qualitativa porque o produto é elaborado conforme as percepções do cliente e quantitativa porque envolve cálculos matemáticos, feitos para verificar custo do produto, custo das funções e meta de redução. Os resultados são considerados de pesquisa aplicada, já que há uma busca por conhecimento científico para a aplicação prática em um setor da economia (LAKATOS e MARCONI, 2006). Em relação aos procedimentos técnicos, estes são classificados como pesquisa-ação considerando que houve interação entre os pesquisadores e o objeto de estudo (GIL, 1999). Também se enquadra como pesquisa bibliográfica pelo fato de que houve uma busca por artigos científicos, conforme descrito na seção 3.2 , a seguir, objetivando colocar os pesquisadores em contato com o que foi produzido a respeito do tema de pesquisa (PÁDUA, 2008). Como instrumento de pesquisa, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas com clientes do atacado da empresa. Para a viabilidade técnica e econômica do produto gerado, utilizaram-se entrevistas não estruturadas com especialistas. Os instrumentos de intervenção da pesquisa, para buscar compreender melhor o objeto de estudo e solucionar a problemática de pesquisa, são a Engenharia do Valor e o Custo-Alvo. 3.2. Método de buscaNo Brasil, no tempo deste estudo, poucas opções de sites de indexação de periódicos foram encontradas, e destes, muitos não possuíam todos os periódicos qualificados pela Capes em Administração e Contabilidade. Partindo dessa busca, foi utilizado um software chamado Harzing’s Publish or Perish,o qual interage com o Google acadêmico. Assim, buscaram-se como palavras-chave “Engenharia do Valor” e “Análise do Valor”. A primeira retornou 64 resultados e a segunda retornou 841 resultados. Esses resultados foram exportados para uma planilha em Excel, somando 906 resultados, dos quais foram excluídos 32 registros duplicados, restando 874 artigos. Posteriormente foram eliminados 735 arquivos pelo fato de não terem sido publicados em periódicos qualificados pela Capes, alinhados ao tema de pesquisa. Dos 139 artigos restantes, foi realizada uma leitura pelo título dos artigos, a partir da qual, foram selecionados 32 artigos com títulos mais alinhados. Após a leitura do resumo, 13 foram selecionados. Foi, então, realizada uma leitura integral destes 13 artigos e, finalmente, 8 foram selecionados para fazerem parte do referencial teórico da pesquisa. Para a seleção de artigos internacionais, foram utilizadas bases de dados que compõem o portal da Capes. Dentre as bases de dados, foram consideradas, conforme a percepção dos pesquisadores, as bases Isiknowledge, Scopus e Willey como mais alinhadas ao tema de pesquisa. Foram definidos, então, dois eixos de pesquisa: Target-Cost e Value Engineering. Este tem como palavras-chave: economic value-analysis, customer value, value analysis e engineering value. O eixo Target-Cost possui as palavras-chave: Cost Target, Target-cost, target costing, Target Cost e Target-costing. Realizou-se uma combinação entre as palavras-chave dos eixos Target-Cost e Value Engineering, tendo retornado 46 resultados, que foram somados as três bases escolhidas. Esse resultado foi exportado para o software Endnote, procedendo-se de modo idêntico ao realizado com seleção dos artigos nacionais. Assim, após a realização da leitura dos 46 títulos, foram selecionados 20 artigos para a leitura dos resumos, restando, após essa leitura, 9 artigos para a leitura integral. Destes 9 artigos, 5 artigos foram aprovados para fazerem parte do referencial teórico da pesquisa. 4. Aplicação do modeloO modelo aplicado seguiu os moldes da Engenharia do Valor proposto por (ABREU, 1996), a qual consiste de seis fases: Preparatória, Informativa, Analítica, Criativa, de avaliação, de Planejamento, aplicadas demonstradas no longo dessa seção. 4.1. Fase preparatóriaA Condor Equipamentos Industriais é uma empresa fabricante de equipamentos para corte, solda e aquecimento oxi-combustível. Fundada em 1988, a empresa encontra-se em posição de liderança brasileira no ramo de oxi-combustíveis. Com sede em Contagem, uma das cidades polo da indústria mineira, a Condor fabrica maçaricos de corte, solda e aquecimento; reguladores de pressão; bicos de corte e válvulas corta chama, além de diversos outros produtos voltados para operações oxi-combustíveis. A Condor oferece também o desenvolvimento de produtos especiais, sob demanda específica do cliente ("Condor - Produtos para corte e solda," 2011). O produto escolhido para trabalhar foi a conexão Y, tendo se chegado a ele com a utilização da ferramenta GUT (Gravidade, Urgências e Tendências) (ver 1991; CSILLAG, 1995). No final da análise, a matriz multiplica a pontuação de cada item e aquele que tiver a pontuação maior será classificado como problema prioritário. Para a atribuição dos valores do GUT foram adotadas as seguintes premissas: Gravidade: Qual será o impacto do problema sobre os recursos, as pessoas e os resultados?
Urgência: Qual a urgência de o problema ser eliminado?
Tendências: O que acontecerá com os potenciais problemas?
Quadro 1 – Escolha do produto com a ferramenta GUT O time de trabalho foi formado pelos responsáveis pelos processos de Logística, Projeto, Produção, Marketing e pela Diretoria, para trabalhar na redução de custo do produto escolhido. A parte interessada no resultado do estudo constituiu-se pelos acionistas da Condor Equipamentos Industriais, visto que o produto deveria apresentar as mesmas funções para o cliente, tendendo a manter o mesmo nível de vendas. Dessa maneira, o produto se tornará mais lucrativo tendo em vista que a margem de contribuição aumentará. Os recursos necessários para a execução do projeto equivaleram ao empregado naequipe alocada para o trabalho, além dos recursos aplicados no treinamento da mão-de-obra direta para a manufatura do novo produto, na fase de planejamento. Os possíveis ajudantes externos poderiam ser fornecedores e clientes premium, que podem ajudar através de conhecimento técnico e na elaboração de novos produtos com especificações e sugestões de melhoria. Os clientes premium também auxiliariam na identificação da relevância das funções. O projeto estabeleceu um cronograma previsto entre 04/01/2010 até 25/05/2010, sendo a fase de planejamento a mais morosa do projeto, por envolver o planejamento da produção, o treinamento do pessoal e o acompanhamento dos resultados. 4.2. Fase informativaO objetivo desta fase era fornecer informações sobre o produto “Conexão Y”, objeto deste estudo. A “Conexão Y” é um acessório que possibilita a uso de dois equipamentos ligados a apenas um regulador de pressão ("Condor - Produtos para corte e solda," 2011). A Figura 1 ilustra o produto antes da aplicação completa da Engenharia do Valor. Figura 1 – Conexão Y (fonte: Dados da pesquisa, 2010) Como o intuito era trabalhar com a metodologia do valor, realizou-se um detalhamento das funções, mensurando o custo de cada uma e calculando o quanto representa, em termos percentuais, em relação ao todo, dando-se o nome de Custo Relativo (CR) e, posteriormente, classificando as funções em primárias ou secundárias, necessárias ou desnecessárias e de uso ou estima (IBUSUKI e KAMINSKI, 2007; LERÍPIO e SELIG, 2009; TEIXEIRA e CAVALCA, 2008).
Quadro 2 – Funções da Conexão Y O custo atual, isto é, no tempo do estudo, é R$ 37,64 conforme explicitado no Quadro 2 . A margem de contribuição é R$ 0,38. O produto é apenas um acessório e foi elaborado com o propósito de fazer parte do mix de produtos. Desejava-se, por parte dos acionistas, um aumento de lucratividade e, para isso, foi projetado um custo-alvo para o produto, conforme descrito no Quadro 3 .
Quadro 3 – Situações atual e planejada do produto De acordo com os dados exibidos no Quadro 3 , tem-se um custo admissível de R$ 33,88. Desse modo, o Custo- Alvo passa a ser o resultado do que se observa na seguinte fórmula: Custo-Alvo = 37,64 – 33,88 :. Custo-Alvo = 3,76 4.3. Fase analíticaNesta fase foi utilizada a técnica de Mudge para realizar uma comparação mútua de todas as funções do produto e, assim, poder calcular a relevância de cada uma delas (LERÍPIO e SELIG, 2009). Obtêm-se um valor total e com ele calcula-se o grau de importância, ou Índice de Relevância (IR), que uma função tem em relação ao todo (IBUSUKI e KAMINSKI, 2007). A Figura 2 representa a comparação entre as funções identificadas no Quadro 2 :
Figura 2 – Diagrama de Mudge Com o grau de importância obtido da função, ou Índice de Relevância (IR), necessitasse realizar um cálculo do IR divido pelo CR para, então, obter o Índice de Valor (IV). Um IV abaixo de 1 significa que a função tem um custo maior do que ela realmente representa para o cliente (BIAZEBETE et al., 2009; CAMACHO, 2008; IBUSUKI e KAMINSKI, 2007; LERÍPIO e SELIG, 2009; OLAK ALVES CRUZ e ROCHA, 2009; PANDOLFO et al., 2007). Surgem, então, as oportunidades de redução de custos, conforme pode ser observado no Quadro 4 .
Quadro 4 – Índice de relevância das funções da Conexão Y Com os resultados apresentados, o grupo de estudo de EV pôde concluir que a função crítica era a função E (Controlar a Vazão) já que esta era a mais cara. Além disso, ela representava a função menos importante do produto em estudo; ou, ainda, era a função que possuía o índice de valor mais baixo. Figura 3 – Componentes da função crítica (fonte: Dados da pesquisa, 2011) Após a identificação da função crítica e dos seus componentes , foi efetuado o cálculo de custos dos componentes com vistas a possibilitar a identificação daqueles para os quais seriam alocados maiores esforços para a redução de custos.
Quadro 5 – Custo dos componentes da função crítica Constatou-se que 79% do custo dos componentes da função crítica estavam concentrados em dois itens, sendo eles o terminal e o volante. Esses dois componentes representavam 31% do custo total do produto. Desse modo, tinha-se, já, conhecimento de quais componentes seriam trabalhados no projeto de redução de custos. 4.4. Fase criativaUma vez determinados os componentes de onde seriam alocados esforços para a redução de custos, o time de trabalho elaborou uma lista de ideias para redução do custo da função “Controlar a vazão”. A primeira ideia da Equipe foi eliminar a função completamente do projeto do produto. Isso, porém, foi contestado pelo Gerente de Marketing, uma vez que essa função foi classificada como necessária (ver Quadro 3 ). Ademais, como os produtos dos concorrentes possuem essa função; eliminá-la, criaria uma situação de ameaça sobre o produto. Outra ideia foi utilizar benchmarking com outros produtos que utilizam esta função para conhecer alternativas técnicas com menor custo. A Equipe percebeu que os produtos que utilizam tecnologias diferentes não eram viáveis, pois comprometeriam a confiabilidade da função. Diante da dificuldade de se obter e organizar novas ideias, o grupo buscou um método científico de geração de ideias. Inicialmente, mencionou-se o brainstorming, porém, ao buscar na literatura, foi constatado que, para o contexto presente, o brainwriting seria mais bem aplicado por se tratar de um processo estruturado, em que cada integrante tem liberdade de expressar suas ideias; em detrimento do brainstorming, em que as pessoas esperam por sua vez para dar ideias, o que pode acarretar em esquecimento, ou, então, que as pessoas pensem que suas ideias não são suficientemente importantes para ajudar a resolver o problema. O brainwriting envolve o compartilhamento de ideias de forma estruturada, silenciosa e em grupo, minimizando o aspecto de diferença de status entre integrantes do grupo, conflitos interpessoais, domínio de um ou dois membros do grupo ou, ainda, pressão por conformidades com opiniões do grupo(HESLIN, 2009). Utilizou-se, portanto, a técnica de Brainwiriting. O time de trabalho foi divido em grupos de quatro componentes. Por rodada, cada um escrevia três ideias em um pedaço de papel, após um minuto o tempo se esgotava e o colaborador passava o papel para o companheiro à direta, o qual lia as ideias, que serviam de inspiração para as próximas rodadas. Após 10 minutos de aplicação da técnica foram registradas 87 ideias. 4.5. Fase de avaliaçãoApós o levantamento de alternativas na Fase criativa (Seção 4.4 ), é necessária a escolha daquelas com maior potencialidade de viabilidade. Para mensurar a potencialidade, foi utilizada a ferramenta FIRE (Função, Investimento, Retorno e Exequibilidade) (vide BASSO, 1991; CSILLAG, 1995). Para obtenção da pontuação global, multiplicam-se os resultados individuais. Quanto maior a pontuação, maior a viabilidade da alternativa. Para a utilização da FIRE, foram adotadas as seguintes premissas: Função: A ideia atende as funções descritas sobre o produto?
Investimento: Qual o investimento necessário para implantação da ideia?
Resultado: A ideia é compatível com o resultado esperado?
Exequibilidade: Diante das condições atuais da empresa, a ideia é viável tecnicamente? Qual o prazo de entrega?
As ideias geradas foram classificadas conforme a pontuação apresentada anteriormente. As duas melhores alternativas constam no Quadro 6 .
Quadro 6 – Escolha das alternativas de melhor pontuação com a utilização da técnica FIRE Fonte: Dados da pesquisa, 2011 As alternativas selecionadas são submetidas a uma análise em relação à viabilidade técnica e econômica (ABREU, 1996; JARIRI e ZEGORDI, 2008). Viabilidade Técnica:
Viabilidade Econômica:
Após a análise de viabilidade técnica e econômica conjunta das duas alternativas, ambas foram consideradas executáveis pelos especialistas, decidindo-se por implantar as duas. 4.6. Fase de planejamentoApós as ideias aprovadas e feitas as análises técnicas e econômicas na Fase de avaliação , foi possível realizar a última fase do projeto que se refere ao planejamento de operações das novas modificações do produto. Na Fase de planejamento, o grupo de EV já não era mais o responsável, porém acompanhou o andamento por fatores motivacionais, de forma a encorajar a equipe a participar de novos projetos relacionados à metodologia do valor. Esta fase consiste em desenvolver um plano com detalhes técnicos e econômicos, permitindo que entrem em operação as ideias sugeridas pelo time de trabalho. Engenheiros de produção realizaram setup das máquinas e capacitaram o pessoal do chão de fábrica, dando-lhe ciência do novo processo, pelo qual não seriam mais necessários processos de usinagem relativos à função Controlar vazão. O novo produto foi reprojetado, diminuindo-se o tamanho do corpo do volante que controla a vazão de gás. Figura 4 – Novo design do produto conexão Y. Com o novo produto gerado, tornou-se possível o conhecimento do novo custo do produto, fazendo uma comparação entre o custo inicial, a meta de redução e o que foi atingido com a utilização das metodologias, conforme mostra o Quadro 7 , a seguir:
Quadro 7 – Novo custo do produto O produto apresentava um custo de R$ 37,64,tendo-se apontado como meta a redução de 10% deste valor. Com a aplicação do Custo-Alvo em conjunto com a Engenharia do Valor foi possível reduzir 24,8% do custo do produto. O Custo-Alvo foi R$3,76 e o custo efetivamente reduzido foi de R$ 7,47. Com o novo projeto do produto, o custo atual passou a ser R$ 30.17, em um contexto que o custo admissível era R$ 33,88. 4.7. Considerações finaisElaborar produtos com foco nas necessidades do cliente é uma tarefa complexa e que demanda tempo. Criar um produto que desempenhe funções que atendam e/ou superem as expectativas do cliente com o menor custo faz com que indústrias conquistem vantagem competitiva. O contexto apresentado necessita de abordagens que, diferentemente dos sistemas de custeio tradicionais, se comprometam a ser eficientes em redução de custos, com enfoque nas percepções do consumidor. A utilização da Engenharia do Valor permite fazer um desdobramento e uma classificação das funções do produto, com foco nas percepções do cliente, o que permite identificar quais as funções críticas do produto. O Custo-Alvo, por sua vez, permite determinar as metas de redução de cada função do produto. Para auxiliar o Custo-Alvo, a Engenharia de Valor foi adotada e subdividida em seis fases. Trabalhou-se, então, com as funções que o produto desempenha ao invés de se trabalhar com os componentes que o constituem. Após uma análise das funções, foi diagnosticado, conforme exposto na seção 4.3 , que a função controlar vazão era a função crítica por se mostrar como a a função de menor importância para o consumidor e, ao mesmo tempo, como a de maior custo. Para sanar esse problema, trabalhou-se, conforme demonstrado na seção 4.4 , a geração de alternativas com um custo menor, que desempenhassem as mesmas funções, através da técnica de brainwriting. As duas melhores ideias foram selecionadas (seção 4.5 ) e implantadas (seção 4.6 ). O produto gerado, fruto da metodologia praticada, está demonstrado na Figura 4 . Observando-se o Quadro 8 , a seguir, torna-se possível conhecer a situação inicial do produto e o que foi alcançado após a utilização da Engenharia do Valor em conjunto com o Custo-Alvo.
Quadro 8 – Resultados Obtidos Com a utilização da Engenharia do Valor, o produto alcançou uma lucratividade 89,53% maior que planejado. A meta era de se alcançar uma margem de contribuição (MC) de R$ 4,14, porém atingiu-se uma MC de R$7,85. Nesse caso, pôde-se concluir que a combinação da Engenharia do Valor com o Custo-Alvo obteve um resultado acima do planejado. Em resposta à pergunta de pesquisa, têm-se que a combinação da Engenharia do Valor e o Custo-Alvo auxilia na redução de custos, classificando as funções do produto; identificando as funções críticas, conforme as percepções do consumidor; estabelecendo metas de redução para as funções críticas; e gerando alternativas de redução com a participação dos envolvidos no projeto. Como limitação, neste trabalho aponta-se a utilização da metodologia somente na função crítica de um produto, quando a metodologia poderia ter sido utilizada, gerando alternativas para todas as funções que o produto apresenta. Recomenda-se, para trabalhos futuros, a utilização da metodologia do valor para reduzir, de forma eficaz, o overhead. A diminuição dos custos fixos tende a reduzir o risco do empreendimento, razão pela qual o tema pode gerar motivações para futuros trabalhos. 5. Referencias BibliográficasABREU, R. C. L. (1996); Análise de valor; Rio de Janeiro, Qualitymark editora Ltda. BASSO, J. L. (1991); Engenharia e análise do valor; São Paulo, IMAM. BECKER, A. C.; PANDOLFO, A.; BRANDLI, L.; KUREK, J. e OLIVEIRA, R. (2008); "Proposta metodológica para a elaboração do projeto em nível conceitual para a melhoria da qualidade: aplicação na infra-estrutura do CETEC/UPF". Ambiente Construído, 6(3), 35-51. BIAZEBETE, C. M.; BORINELLI, M. L. e CAMACHO, R. R. (2009); "Análise da aplicação do custeio alvo e do custeio pleno em indústria de confecções: um estudo de caso". Revista de Contabilidade e Organizações, 3(5), 44-61. CAMACHO, R. R. 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