Espacios. Vol. 34 (1) 2013. Pág. 10


Identificação das inovações nos hospitais que integram o Sistema de Saúde de Caxias do Sul – RS

Identification of innovations in hospitals that are part of the Health System of Caxias do Sul - RS

Simone Weiand; Cristine Hermann Nodari 1; Pelayo Munhoz Olea; Eric Dorion; Paula Patricia Ganzer; Eliana Severo 2

Recibido: 20-04-2012 - Aprobado: 01-09-2013


Contenido

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RESUMO:
A estrutura administrativa do governo e as políticas públicas têm sido influenciadas por temas de saúde, sendo direcionadoras da inovação e da competitividade no Brasil. A inovação é a implantação de um novo produto (bem ou serviço) ou significativamente melhorado, ou de um novo processo, ou de um novo método de marketing, ou um novo método organizacional na prática de negócios. Partindo da relevância das questões relacionadas à saúde no contexto histórico e econômico do Brasil, em especial na cidade de Caxias do Sul, e da importância da inovação para as organizações foi realizada uma pesquisa com a finalidade de buscar um melhor entendimento sobre o tema, identificando as inovações ocorridas em 85% dos hospitais do Sistema de Saúde de Caxias do Sul (SSCX). A metodologia utilizada na pesquisa foi de um estudo de múltiplos casos, de caráter exploratório, por meio de entrevistas individuais em profundidade com os gestores dos hospitais participantes. Os conteúdos provenientes das citadas entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo, demonstrando que todos os hospitais participantes do estudo inovaram no período pesquisado.
Palavras chave: Sistema de Saúde. Inovação. Sistema de Inovação.

 

ABSTRACT:
The administrative structures of government and public policy have been influenced by health issues, and driving innovation and competitiveness in Brazil. Innovation is the implementation of a new product (or service) or significantly improved, or a new process, or a new marketing method, or a new organizational method in business practice. Based on the relevance of health issues in historical context and economic development of Brazil, especially in the city of Caxias do Sul, and the importance of innovation for organizations we conducted a survey in order to obtain a better understanding of the topic, identifying innovations occurring in 85% of the Health System of Caxias do Sul (HSCX) hospitals. The methodology used in the study was a multiple case study, exploratory, through in-depth interviews with managers of the participating hospitals. The contents from the aforementioned interviews were subjected to content analysis, demonstrating that all hospitals participating in the study innovated in the period surveyed.
Keywords: Health System. Innovation. Innovation System.


1. Introdução

A Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, em seu artigo 196 garante o direito universal de acesso a saúde. Para alcançar este objetivo, são necessárias políticas sociais e econômicas que vislumbrem o bem estar, ao bem social e à redução do risco de doenças e de outros agravos, garantindo acesso às ações e serviços de saúde de maneira universal e social. Em 1990 foi implantado em todo o país o Sistema Único de Saúde (SUS), a partir desta data foram criados os órgãos necessários ao funcionamento deste novo sistema, desenvolvendo-se em busca da efetividade das ações em saúde através da municipalização.

A municipalização representa a articulação, união e organização dos Municípios brasileiros, em particular dos serviços municipais de saúde, através de seus dirigentes e técnicos, em prol da defesa de um conjunto de temas e objetivos relacionados à descentralização de recursos, de poder e ações no setor da saúde (MULLER NETO, 1991). Está fundamentada em conceitos como o de Sistemas Locais de Saúde (SLS), no qual se busca estabelecer a universalização da cobertura e do acesso da atenção às populações de maneira regionalizada, objetivando a melhoria de seus níveis e condições de saúde, com o máximo de eficácia técnico-operacional, política, econômica e social.

O propósito último da criação e desenvolvimento dos Sistemas Locais de Saúde não é apenas um passo a mais no processo de descentralização político-administrativo do Sistema de Saúde, mas sim uma maneira de redirecionar e modificar a forma de organização e o conteúdo das ações e serviços de saúde, de forma a se responder às demandas da população, atendendo às necessidades de saúde e,  contribuindo para a solução dos problemas de saúde da população que vive e trabalha em um determinado espaço territorial e social (MENDES, 1993).

O Sistema Local de Saúde (SLS) de Caxias do Sul atende à 48 Municípios de abrangência da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, sendo responsável pela formulação e implantação de políticas, programas e projetos que objetivam a promoção de uma saúde de qualidade à população usuária do SUS. Para cumprir com o seu objetivo, oferece a assistência hospitalar através de sete hospitais atendentes pelo SUS, Sistema de Saúde Suplementar e Desembolso Direto.

Os serviços de saúde estão em constante evolução para melhorar o atendimento das necessidades da população. Segundo Pereira et al. (2004), desde a I Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia em Saúde em 1994, a estrutura administrativa do governo e as políticas públicas têm sido influenciadas por temas de saúde, direcionadores da inovação e da competitividade no Brasil. O caráter multidisciplinar característico da inovação culmina em multiplicidade de conceituações formuladas. A inovação apresenta-se usualmente na literatura sob a forma de conceitos vagos. Além disso, há conceitos que frequentemente são sobrepostos ou confundidos com o termo inovação, desta forma, faz-se necessário distinguir invenção de inovação (CARAYANNIS, GONZALEZ, 2003).

Conforme dados da World Health Organization (2000), os serviços de saúde no mundo conceberam um gasto global de 3 trilhões de dólares, que representou 8% do PIB mundial. Em pesquisa mais recente, a mesma fonte revela que os gastos com saúde no Brasil representam 7,6% do PIB (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Para atender à Constituição promulgada em 1988, a qual determina que a saúde é direito de todos e dever do Estado, foi criado o SUS, na qual buscou na descentralização, a forma de gestão para alcançar seus objetivos, sendo que a Emenda Constitucional nº 29 de 2000 veio a definir os valores mínimos a serem aplicados em ações e serviços de saúde pelos governos Estaduais, Municipais e pela União (CONASS, 2006).

Invenção é aquilo que gera algo novo, que surge de ideias, de criatividade (CARAYANNIS et. al. 2003), mas que nem sempre tem alguma aplicabilidade (DRUCKER, 1994); enquanto não transformada em inovação é economicamente irrelevante (SCHUMPETER, 1982). Inovação é uma palavra derivada do Latim innovare, que significa tornar “algo novo” (BESSANT, 2003, p. 761), “introduzir algo novo à existência e à ordem das coisas”, (CARAYANNIS et. al. 2003, p. 115). É a transformação de uma ideia em um produto comercializável, novo ou melhorado, ou em um processo produtivo, ou em um novo método de serviço social (OECD, 1981); pode ser considerada como um novo uso de possibilidades e componentes pré-existentes (SCHUMPETER, 1997), sendo utilizada para agregar valor, por meio de elevação de vendas, redução de custos e outras melhorias similares amplamente aceitas e utilizadas (TIDD et. al. 2005). O processo efetivo para as empresas é a inovação e não a invenção (SCHUMPETER, 1997).

Partindo da relevância das questões relacionadas à saúde no contexto histórico e econômico no Brasil, em destaque na cidade de Caxias do Sul, e da importância da inovação para as organizações, a pesquisa traz primeiramente a base conceitual sobre inovação; identifica as inovações que ocorreram nos seis hospitais de Caxias do Sul que se dispuseram a participar do estudo, o setor da organização e como elas ocorreram e, ainda classifica-as quanto à extensão e grau de novidade. Por fim, apresenta a análise das inovações identificadas em cada um dos hospitais, apresentando as conclusões.

O presente estudo teve por objetivo geral identificar as inovações em 85% dos hospitais participantes da pesquisa, os quais integram o Sistema de Saúde de Caxias do Sul – SSCX, no período de 2005 até a data de cada uma das entrevistas. A partir do objetivo geral, a pesquisa se estruturou nos seguintes objetivos específicos: 1) caracterizar os hospitais participantes da pesquisa; 2) identificar quais os tipos de inovações que ocorrem nestas organizações: a) inovação de produto (bens ou serviços); b)inovação de processo; c) inovação de marketing; d) inovação organizacional; 3) identificar os motivadores das inovações; 4) identificar como e onde ocorrem as inovações; e 5) verificar a extensão e o grau de novidade das inovações identificadas.

2. Referencial teórico

2.1 sistema de saúde brasileiro

No Brasil, a Lei nº 8.080 de 1990 apenas menciona no seu artigo 2º, parágrafo 1º, que é dever do Estado estabelecer acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990). Para cumprir sua missão, o Sistema Único de Saúde (SUS) apropria-se de princípios organizadores, tais como descentralização, regionalização, hierarquização e a participação da sociedade organizada através das instâncias de controle social.

A partir desta liberação, o sistema de saúde de Caxias do Sul têm como responsabilidade, através da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), praticar a gestão plena do Sistema Único de Saúde (SUS) no Município, bem como nos 48 Municípios de abrangência da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde.  A SMS é responsável pela formulação e implantação de políticas, programas e projetos que tendam à promoção de uma saúde de qualidade à população usuária do SUS. A "porta de entrada" para o Sistema Único de Saúde (SUS) são as Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) existentes no Município, sendo que devem ser as primeiras referências da população para buscar cuidados aos seus problemas e atenção às suas necessidades básicas de saúde.

O Município de Caxias do Sul possui uma rede de 39 UBS’s, onde a população caxiense pode ter acesso a consultas nas áreas de clínica, pediatria, ginecologia, obstetrícia, enfermagem e nutrição, além de medicamentos, que compõem uma lista de aproximadamente 118 itens, selecionados de acordo com o perfil epidemiológico da população e segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Nas UBS’s ocorre o agendamento do Transporte de Apoio (SAMU 192 Caxias) no qual é destinado a transportar pacientes crônicos ou dependentes de oxigênio, ou restritos ao leito, do seu domicílio aos serviços de hemodiálise, radioterapia, quimioterapia, fisioterapia, assim como para cirurgia ou consultas médicas no Município e fora dele.

A assistência hospitalar ofertada aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de Caxias do Sul é feita pelo Hospital Pompéia, Hospital Geral, Hospital Saúde e Clínica Paulo Guedes. Também integram o Sistema de Saúde de Caxias do Sul (SSCX), por meio do Sistema de Saúde Suplementar e Desembolso Direto, o Hospital do Círculo, Hospital Fátima e Hospital Unimed, totalizando sete hospitais, sendo seis denominados de Hospitais Gerais e a Clínica Paulo Guedes, denominada de Hospital Especializado.

2.2 Inovação

Para Schumpeter (1934) a inovação se apresenta em cinco situações diferentes. Com a introdução no mercado de um novo bem de produção ou de consumo, de um novo método de produção, da criação de um novo mercado (no país ou em outro), da utilização de uma nova fonte de fornecimento de matéria-prima ou de produtos semi-acabados e, também servir-se de novas estruturas de mercado (novos insumos de produção, novos canais de distribuição ou novos monopólios) (OLEA, 2008). O elemento corriqueiro, sobre inovação, que pode-se extrair da literatura é que se os novos produtos ou serviços não são aceitos pelo mercado, a inovação não existe , portanto, é a introdução com êxito de um produto ou serviço em um mercado, que define a existência da inovação.

2.2.1 Tipos de inovação

A inovação é vista como um processo de mudança, na qual produtos ou processos novos ou significativamente melhorados substituem os até então existentes. Classificam-se em quatro categorias, descritas a seguir: 1) inovação de produtos (bem ou serviços): são mudanças de um produto ou serviço oferecido pela organização; 2) inovação de processos: são as mudanças no modo através dos quais os produtos ou serviços são criados e distribuídos; 3) inovação de gestão: mudanças nos modelos mentais subjacentes que moldam o que a organização faz; e 4) inovação de mercado: mudanças no contexto que os produtos ou serviços são introduzidos no mercado (TIDD et. al. 2005; BESSANT, PAVITT, 2007).

Estas categorias também são validadas no Manual de Oslo (2005), classificando as inovações em quatro tipos: produto, processo, marketing e organizacional.

2.2.2 Grau de novidade da inovação

As inovações necessitam contar algum grau de novidade. De acordo com o Manual de Oslo (2005), existem três conceitos para a novidade das inovações: nova para a empresa, nova para o mercado e nova para o mundo.

Para se considerar uma inovação, o requisito mínimo é que a mudança introduzida seja nova para a empresa. Um método de produção, processamento e marketing ou um método organizacional sendo novo para a empresa, mesmo que já tenha sito implementado por outras, trata-se de uma inovação para a mesma.

Considera-se como inovação para o mercado quando a empresa é a primeira a introduzir a inovação em seu mercado, sendo este definido como a empresa e seus concorrentes e podendo incluir uma região geográfica ou uma linha de produtos.

Quando a empresa é a primeira a introduzir a inovação em todos os mercados, nos níveis nacional e internacional, então esta inovação é considerada nova para o mundo. Portanto, uma inovação nova para o mundo exige um grau de novidade qualitativamente maior do que a inovação nova somente para o mercado.

3. Metodologia

Iniciando da hipótese empírica de que os hospitais que integram o Sistema de Saúde de Caxias do Sul (SSCX) inovaram, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa de estudo de casos múltiplos (multicaso e intracaso), de caráter exploratório, a fim de estudar o ambiente organizacional ainda não descoberto. Nesta pesquisa foi utilizado o estudo de múltiplos casos, em que vários são conduzidos simultaneamente.

Para alcançar os objetivos gerais e específicos da pesquisa foram coletados dados primários e secundários, os dados primários decorrem das entrevistas individuais em profundidade realizadas com os gestores dos seis hospitais participantes. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, considerando o perfil dos entrevistados e sua disponibilidade de tempo, buscando não extrapolar uma hora de entrevista, tempo este sugerido por Wolcott (1994) como ideal no aproveitamento e consistência dos dados verbalizados. Os entrevistados foram escolhidos dentre os gestores de cada um dos seis hospitais que integram o SSCX, de maneira que pudessem fornecer informações úteis para atender aos objetivos da pesquisa. O período pesquisado ficou entre o ano de 2005 até a data da realização de cada uma das entrevistas, de acordo com o que determina o Manual de Oslo (2005).  Ressalta-se que o instrumento de pesquisa conforme o Quadro 1 foi elaborado de forma semiestruturada com perguntas abertas, tendo sido pré-validado  por especialistas da área.

Os secundários são originários da revisão bibliografia, bancos de dados oficiais e outras informações constantes em periódicos, artigos, teses e estudos sobre o tema pesquisado e sobre o Sistema de Saúde, obtendo uma base conceitual para consolidar o referencial teórico utilizado (KÖCHE, 2004). O roteiro para entrevista com os gestores dos hospitais foi demonstrado no quadro 1.

Quadro 1 – Instrumento de pesquisa, elaborado de forma semiestruturada com perguntas abertas

1) O Hospital introduziu no mercado alguma inovação a partir de 2005 até a presente data?
1.1) Inovação de produto (bem e serviço)
1.2) Inovação de processo
1.3) Inovação de marketing
1.4) Inovação organizacional

2) Por que ocorreram estas inovações (motivadores)?

3) Como estas inovações ocorreram (P&D, aquisição de tecnologia)?

4) Onde estas inovações ocorreram (setor da organização)?

5) Estas inovações são novas ou significativamente melhorados (radical ou incremental)?

6) Estas inovações são novas para organização ou para o mercado?

Fonte: Elaboração própria.

3.1. Objeto do estudo e execução do instrumento de pesquisa

Conforme as informações extraídas do CNES (2008), dos seis hospitais participantes da pesquisa, cinco deles são considerados hospitais gerais e um hospital especializado, sendo que três deles são instituições privadas, dois são entidades beneficentes sem fins lucrativos e um é uma fundação privada. Três hospitais possuem atividade de ensino e pesquisa.

A Tabela 1 demonstra de forma detalhada o número de profissionais no período de 2005 a 2007, não sendo possível apurar os números relativos aos anos de 2005 e 2006 por não terem sido disponibilizadas (ND) as informações destes períodos pelos hospitais Saúde e Clínica Paulo Guedes.

Tabela 1 – Número total de profissionais nos hospitais estudados no período de 2005 a 2007

Número de profissionais

2005

2006

2007

Hospital do Círculo

448

436

432

Hospital Fátima

391

395

439

Hospital Geral

894

880

861

Hospital Pompéia

862

910

995

Hospital Saúde

ND

ND

669

Clínica Paulo Guedes

ND

ND

120

Total

2.595

2.621

3.516

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa e disponibilizados no Datasus.

O Hospital Pompéia foi o que realizou o maior número de atendimentos nos três anos estudados. A Tabela 2 demonstra de forma detalhada o número de atendimentos no período de 2005 a 2007 em cada um dos hospitais pesquisados.

Tabela 2 – Número total de atendimentos nos hospitais estudados no período de 2005 a 2007

Número de atendimentos

2005

2006

2007

Hospital do Círculo

69.323

160.384

162.806

Hospital Fátima

116.882

121.641

128.245

Hospital Geral

80.961

85.742

88.219

Hospital Pompéia

153.415

215.683

238.448

Hospital Saúde

ND

ND

ND

Clínica Paulo Guedes

ND

ND

2.570

Total

420.581

583.450

620.288

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

Os seis hospitais participantes da pesquisa possuíam 1.203 leitos em 2007. A Tabela 3 discrimina o número de leitos no período de 2005 a 2007, em cada um dos pesquisados.

Tabela 3 – Número total de leitos nos hospitais estudados no período de 2005 a 2007

Número de leitos

2005

2006

2007

Hospital do Círculo

144

136

130

Hospital Fátima

100

100

100

Hospital Geral

240

235

235

Hospital Pompéia

301

302

302

Hospital Saúde

ND

ND

136

Clínica Paulo Guedes

ND

ND

300

Total

785

773

1.203

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa e disponibilizados no Datasus.

Cabe salientar que a composição do faturamento dos hospitais participantes da pesquisa corresponde a 50% através do Sistema Único de Saúde, 83% através do Sistema de Saúde Suplementar e 66% do Sistema de Desembolso Direto.

Para preservar a identidade dos participantes da pesquisa e a confidencialidade das informações específicas de cada Hospital, como foi informado no momento da entrevista, a identificação utilizada para elas e consequentemente para o Hospital, será H1, H2... H6, de acordo com o número de inovações por eles elencadas.

Os seis entrevistados possuem curso de graduação, sendo que cinco têm pós-graduação em nível de especialização e dois deles, curso de mestrado. O tempo que os entrevistados exercem o cargo varia de 1 a 21 anos, sendo que um deles ocupa o cargo há um ano e os demais, há mais de cinco anos. O cargo dos entrevistados está demonstrado no Quadro 2.

Quadro 2 – Cargo ocupado pelos entrevistados

Entrevistado/Hospital

Cargo

H1

Superintendente

H2

Superintendente

H3

Diretor Geral

H4

Superintendente

H5

Diretor Administrativo

H6

Diretor Administrativo

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

As entrevistas foram realizadas no período de setembro de 2008 a janeiro de 2009, de acordo com a disponibilidade dos entrevistados, sendo gravadas em meio magnético. Posteriormente à realização das entrevistas, as mesmas foram transcritas registrando-se cada uma das informações, observando a precisão exigida pelo processo de condição de entrevistas individuais.

4. Análise e interpretação dos dados

Através da análise das entrevistas de cada um dos hospitais participantes da pesquisa, buscou-se identificar quais os tipos de inovações ocorreram, como elas ocorreram, quais os motivos que levaram os hospitais de Caxias do Sul a inovarem, em quais setores ocorreram as inovações, a extensão da mudança (incrementais ou radicais) e o grau de novidade (novas para a organização ou para o mercado).

Foram trinta e cinco as inovações identificadas nos hospitais participantes da pesquisa, sendo dez de produto, dez de processo, quatro de marketing e onze organizacionais. As duas inovações de processo identificadas pelo entrevistado H5, conforme o referencial teórico analisado refere-se a inovações organizacionais.

A Tabela 4 demonstra de forma sintetizada estas informações, já observando a classificação acima exposta.

Tabela 4 – Resumo das inovações identificadas nos hospitais participantes da pesquisa

Inovação

Quantidade de inovações por Hospital

% por Tipo

H1

H2

H3

H4

H5

H6

Total

Produto

5

1

2

1

1

0

10

28.6%

Processo

3

3

2

1

0

1

10

28.6%

Marketing

3

1

0

0

0

0

4

11.4%

Organizacional

3

3

1

2

2

0

11

31.4%

Total

14

8

5

4

3

1

35

100%

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

O Quadro 3 elenca todas as inovações identificadas nos hospitais pesquisados.

Quadro 3 – Inovações identificadas nos hospitais pesquisados

Inovação identificada

Hospital

Capacitação de Gestores

H1, H2 e H3

Sistema de Informática

H1, H2 e H3

Acreditação Hospitalar

H1 e H5

Certificação ISO 9000

H4 e H5

Cirurgias Cardíacas

H2 e H3

Implantação do PGQP

H1 e H4

Serviços Oncológicos

H1 e H4

Convênio com Plano de Saúde

H1

Criação da Unidade de Tratamento Semi-Intensivo (UTSI)

H1

Criação do Hospital de Ensino

H1

Exames de Diagnóstico em Horário não Comercial

H1

Imagens dos Exames de Diagnóstico no Sistema Informatizado

H1

Implementação de Código de Barras

H1

Medicina Nuclear

H1

Ressonância Magnética de Campo Aberto

H1

Venda de Plano de Saúde Próprio

H1

Acompanhante no CTI

H2

Definição da Estrutura Organizacional

H2

Metodologia de Gestão

H2

Troca do Nome do Hospital

H2

Personalização do Atendimento

H2

Acolhimento ao Paciente

H3

Cirurgia Cardiopediátriaca

H3

Automatização Exames Laboratoriais

H4

Plano de Acidente de Trabalho

H5

Reestruturação na Internação

H6

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

De forma geral, os principais motivos pelos quais os hospitais que participaram da pesquisa buscam inovar é a gestão, representado 40% dos motivadores e a demanda com 20% dos motivadores, ou seja, estes dois motivos representam 60% dos motivadores identificados pelos entrevistados. A Tabela 5 demonstra estes dados.

Tabela 5– Motivadores das inovações

Motivador

Produto

Processo

Marketing

Organizacional

Quantidade

Percentual

Gestão

0

3

0

11

14

40.0%

Demanda

6

0

1

0

7

20.0%

Humanização

0

4

0

0

4

11.4%

Agilidade

0

3

0

0

3

8.6%

Atender ao Plano de Saúde Próprio

2

0

0

0

2

5.7%

Sustentabilidade

0

0

2

0

2

5.7%

Crescimento

1

0

0

0

1

2.9%

Fortalecimento da Marca

0

0

1

0

1

2.9%

Know how

1

0

0

0

1

2.9%

Total

10

10

4

11

35

100%

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

Observou-se que quinze das trinta e cinco inovações identificadas foram implementadas em todos os setores dos hospitais participantes da pesquisa, o que representa 43% das inovações. A Tabela 6 demonstra os setores onde foram implementadas as inovações nos hospitais pesquisados. 

Tabela 6 – Setores onde foram implementadas as inovações nos hospitais pesquisados

Setores

Produto

Processo

Marketing

Organizacional

Quantidade

Percentual

Todos

0

3

1

11

15

42.9%

Internação

0

3

2

0

5

14.3%

Cardiologia

3

0

0

0

3

8.6%

SADT

2

0

1

0

3

8.6%

Oncologia

2

0

0

0

2

5.7%

UTI/CTI

1

1

0

0

2

5.7%

Atendimento

1

0

0

0

1

2.9%

Escola

1

0

0

0

1

2.9%

Farmácia

0

1

0

0

1

2.9%

Laboratório

0

1

0

0

1

2.9%

Pronto Socorro

0

1

0

0

1

2.9%

Totais

10

10

4

11

35

100%

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

Nas respostas da questão número três do instrumento de pesquisa, como os hospitais inovam, percebe-se que as formas são bastante diversas, sendo que a principais recorrências encontradas referem-se a “Certificação” com quatro ocorrências e “Compra de Equipamentos” com três ocorrências. A Tabela 7 apresenta o resumo das inovações quanto à extensão e ao grau de novidade das inovações dos hospitais pesquisados.

Tabela 7– Extensão e grau de novidade das inovações implementadas nos hospitais pesquisados

Extensão

Produto

Processo

Marketing

Organizacional

Quantidade

Percentual

Radical

9

4

4

6

23

65.7%

Incremental

1

6

0

5

12

34.3%

Total

10

10

4

11

35

100.0%

Organização

6

8

0

10

24

68.6%

Mercado

4

2

4

1

11

31.4%

Total

10

10

4

11

35

100.0%

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da pesquisa.

5 Considerações finais

O tema proposto para este trabalho não é alvo de muitas pesquisas no Brasil; da mesma forma que este fato é um grande limitador, percebe-se que, depois de concluída a pesquisa, surgirão oportunidades para a realização de outras, a fim de colaborar com o desenvolvimento do conhecimento científico e influenciar, principalmente, a promoção de políticas públicas em favor da saúde.

Os Hospitais participantes da pesquisa demonstraram terem implementado inovações no período pesquisado, trinta e cinco foi o número de inovações identificadas, representando uma média de 5,8 inovações por Hospital. O H1 foi o que apresentou o maior número, com catorze inovações, enquanto o H6 implementou somente uma inovação no período. Foram identificadas dez inovações de produto, dez inovações de processo, quatro de marketing e onze organizacionais. Das sete inovações que tiveram recorrência, ou seja, que foram implementadas em mais de um Hospital, quatro são inovações organizacionais e uma é inovação de processo, demonstrando que os Hospitais pesquisados e estão preocupados em aprimorar as suas formas de gestão dos negócios.

Seis das dez inovações de produto tiveram a demanda como principal motivador, demonstrando que os Hospitais pesquisados investem na inovação de produto quando há uma necessidade do mercado em que atuam; entretanto essas inovações nem sempre são novas para o mercado, o que demonstra um crescimento do mercado. Observando-se o grau de extensão, todas as inovações de produto foram consideradas radicais.

Inovações de processos são motivadas pela humanização, agilidade e gestão, ressaltando que, para inovar em processos, os pesquisados buscam, principalmente, qualidade de atendimento e rapidez. A maioria destas inovações são consideradas incrementais e novas para a organização. Todas as inovações em marketing foram classificadas como inovações radicais e novas para o mercado, tendo como motivadores a sustentabilidade, a demanda e fortalecimento da Marca. As inovações em marketing foram as que tiverem o menor número de ocorrências no período pesquisado.

As inovações organizacionais têm como motivador a busca da melhoria na gestão dos Hospitais, sendo que na grande maioria das vezes são consideradas como novas para a organização, demonstrando que os Hospitais pesquisados valem-se de metodologias de gestão, já difundidas no mercado, principalmente de programas de certificação como a ISO 9000, a Acreditação Hospitalar e o Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade.

Enfatiza-se que o principal motivador para as inovações nos Hospitais pesquisados, foi a melhoria na gestão, abrangendo todos os setores dos Hospitais; foram catorze inovações concentradas em processos e organizacionais, evidenciando a preocupação de seus gestores com a padronização e controle das atividades. Verifica-se, que o objetivo geral, como os objetivos específicos estabelecidos para este estudo, foram atingidos, observando a limitação da pesquisa quanto à caracterização dos Hospitais participantes. Conclui-se que o desenvolvimento de pesquisas sobre Inovação no Sistema de Saúde do Brasil apresenta-se como uma oportunidade, buscando fomentar os gestores dos Hospitais e, principalmente, os gestores públicos na implantação de políticas públicas sobre a saúde.

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1 Universidade de Caxias do Sul (UCS) Email: cristine.nodari@gmail.com
2 Universidade de Caxias do Sul (UCS)


Vol. 34 (1) 2013

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