Espacios. Vol. 33 (11) 2012. Pág. 3 |
Condicionantes da utilização dos mercados futuros por cafeicultores do sul e sudoeste de Minas GeraisDeterminants of use of futures markets for coffee farmers in south and southwest of Minas GeraisCássio Henrique Garcia Costa 1, Luiz Gonzaga de Castro Júnior 2, Cristina Lelis Leal Calegario 3, Fabrício Teixeira Andrade 4 y Adriano Freitas de Azevedo 5 Recibido: 06-03-2012 - Aprobado: 15-06-2012 |
Contenido |
Gracias a sus donaciones esta página seguirá siendo gratis para nuestros lectores. |
RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoO café está entre as commodities mais negociadas e também, uma das que apresenta maior volatilidade. Essa característica é vista como um dos maiores problemas pelos produtores. Ademais, a imprevisibilidade das variáveis climáticas, a existência de pragas e doenças são fontes de incerteza (ou risco, quando mensuradas) (LEITE, 2005). Devido aos riscos inseridos à cafeicultura e também a sua grande importância, a atividade foi marcada por intensa intervenção estatal, que visava à sustentação da cotação em elevados níveis de preço. Esse tipo de intervenção tinha como consequência imediata aumentar a rentabilidade e diminuir os riscos, visto que as oscilações de preços eram menos amplas e menos drásticas. A regulamentação do setor implicou em alguns efeitos secundários não tão desejáveis, dentre eles os mais proeminentes são: o estímulo à ineficiência, o despreparo tecnológico e gerencial do setor e o aumento da produção mundial, devido à entrada de novos países produtores no mercado internacional de café. O grande problema do setor atualmente diz respeito ao processo gestão das propriedades cafeeiras, à incapacidade gerencial dessas empresas, fragilidade organizacional, e a presença de práticas e costumes muito arraigados. Alguns autores detectaram que muitas vezes as decisões são tomadas fundamentadas no sentimento (KASSAI, 1997) e sem planejamento, ou seja, improvisadamente (PINHEIRO, 1996). A gestão de riscos tem papel preponderante neste novo cenário, pois dá subsídios aos cafeicultores para que possam tomar decisões acertadas e pontuais na atividade, por meio de planejamento. Diversos pesquisadores (HANSON; PEDERSON, 1998; ISENGILDINA; HUDSON, 2001; MAKUS et al.,1990; MEUWISSEN; HUIRNE; HARDAKER, 1999; ROE; GOPINATH, 1998) além de (MARQUES; AGUIAR, 2004) abordaram a utilização de ferramentas de comercialização, principalmente os mercados futuros para garantia de preço da produção. Os mercados futuros constituem uma ferramenta da gestão de riscos. Eles servem como alternativa de comercialização e proteção contra risco de preço, sendo uma das mais adequadas, em razão do mecanismo de seguridade que estes proporcionam (Aguiar, 1999). Dada a importância da cafeicultura para o sul e sudoeste de Minas Gerais é interessante que se saiba em que nível se dá tal a utilização dos mercados futuros pelos cafeicultores, além de quais os fatores são condicionantes de tal processo. O objetivo principal deste estudo é determinar os fatores condicionantes da utilização do mercado futuro por produtores de café do sul e sudoeste de Minas Grais Especificamente, pretende-se:
CafeiculturaO Brasil é o maior produtor mundial de café (em 2009 produziu 2,3 milhões de toneladas) (BRASIL, 2010). O país é também o segundo maior consumidor, atrás apenas dos Estados Unidos. Dentre os produtos agrícolas mineiros o café se destaca em relação aos demais, em 2008 ele foi responsável por 50% das exportações (BRASIL, 2009). Essa cultura é representativa para o saldo positivo da balança comercial, sustenta uma grande cadeia produtiva e é grande geradora de empregos, cerca de 3.000.000 (diretos e indiretos) e 800.000 empregos temporários. O estado Minas Gerais é o maior produtor nacional, em 2009 foram produzidas 19.880 milhões de sacas de 60kg beneficiadas, incluindo café arábica e robusta (BRASIL, 2010); essa produção equivale a aproximadamente 50% do total nacional. Seu parque cafeeiro abrange mais de 90 mil propriedades em 587 municípios. O Sul de Minas Gerais é a maior região produtora de café do estado e do Brasil, com cerca de 37.000 propriedades cafeeiras, área cultivada de 516 mil hectares (BRASIL, 2000). Com produção de aproximadamente 9 milhões de sacas beneficiadas, no ano de 2009, o Sul de Minas responde por cerca de 49% do café mineiro e por cerca de 25% da produção nacional (BRASIL, 2010). No aspecto social, a cafeicultura sul-mineira é uma verdadeira indústria verde, pois gera 672 mil empregos, diretos e indiretos. O valor da produção de café, em cerca de 500 milhões de dólares, circula em todos os municípios da região. Em 2007, foram pagos, só na colheita, cerca de 1,7 milhões de salários mínimos. Outro aspecto importante da região é que cerca de 80% das propriedades de café têm área inferior a 50 hectares e a média da área plantada é de 12,0 hectares, caracterizando-se a região como típica de pequenas propriedades (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB, 2002). Pode-se afirmar que o café é a única unidade produtiva do sudoeste mineiro, pois possui uma escala territorial regional. A afirmativa decorre do fato de todos os municípios serem produtores de café, nos quais a atividade cafeeira representa em termos médios 30% dos PIB’s municipais (PEREIRA, 2008). 2. Referencial teórico2.1 Mercados futurosOs mercados futuros possibilitam alternativas variadas de instrumentos de comercialização de produtos agropecuários. Dependendo do tipo de contrato comercializado, eles atendem a pelo menos uma das seguintes funções: proteção contra variação adversa de preço; e garantia de mercado (AGUIAR, 1999). A principal finalidade do mercado futuro é a fixação de preço da commodity eliminando o risco da variação, pois há uma interrelação de interferência entre os preços futuros e os preços à vista do mercado físico. Quando o cafeicultor busca a comercialização no mercado futuro, ele procura realizar o hedge, que consiste no ato de defesa contra variações futuras adversas no preço. Os hedgers são agentes de mercado que têm interesse na commodity negociada. Podem ser cafeicultores, beneficiadoras, torrefadoras, exportadores, etc. Para a realização do hedge é necessário que existam agentes dispostos a correr o risco da variação de preço, pois o que ocorre com o hedge é a transferência do risco de variação do preço da commodity para outros hedgers ou outros agentes dispostos a assumir tal risco, os especuladores. Segundo Fontes et al. (2005), diversas estratégias, isoladas ou conjuntas, podem ser utilizadas pelos empresários cafeicultores para comercializar o café, mas o processo de comercialização do mesmo é feito basicamente com o produto físico, em que os cafeicultores vendem diretamente para os compradores ou utilizam a intermediação da cooperativa para a venda. A comercialização do café em mercados derivativos, por bolsa de mercadorias ainda é pouco usada, mas vem ganhando importância, pois, com a tendência da profissionalização da cafeicultura, a utilização de mecanismos que garantam preços para os cafeicultores, será cada vez mais ampliada. 3. Modelo conceitualO gerenciamento de propriedades rurais tem sido preocupação de diversos estudiosos de gestão agrícola em diversas partes do mundo. Um dos focos principais de tais estudos é a investigação dos fatores condicionantes de estratégias de comercialização, principalmente a utilização dos mercados futuros para a garantia de preço de produtos agrícolas. Knight et al. (1989), estudando a influência dos financiadores agrícolas nas decisões de gerenciamento de riscos dos produtores rurais, defenderam a tese de que tais credores estão em posição de influenciar seus devedores. Os resultados observados por meio da utilização do modelo econométrico logit indicam que os tomadores de empréstimos, os produtores rurais, entendem que o uso de práticas de gestão de riscos faz com que os financiadores considerem seu pedido de empréstimo mais favorável, optando por melhorar suas condições gerenciais. Por meio da utilização do modelo logit multinomial, Isengildina e Hudson (2001), estudando produtores de algodão nos Estados Unidos verificaram que o tamanho da propriedade, uso do seguro de colheitas, a aversão ao risco e a renda não agrícola são determinantes da utilização do mercado futuro por parte dos produtores. Hanson e Pederson (1998) assim como Roe e Gopinath (1998), apontaram como principais determinantes do uso de mercados futuros as seguintes variáveis: renda bruta, idade do produtor e nível de escolaridade. Na medida em que produtores apresentam maior renda bruta provavelmente possuem operações agrícolas maiores, maiores áreas de produção e, também, maiores obrigações fixas, necessitando, consequentemente, da garantia de um nível de renda adequado para cobrir suas despesas empresariais. Esses fatores fazem com que eles busquem conhecer e entender todos os métodos e instrumentos, tal como o mercado futuro, que permitam a venda de seu produto com o menor risco possível, no que tange às oscilações negativas de preço. Outro fator determinante é que produtores com maiores níveis de renda podem arcar com eventuais custos relativos às operações nesses mercados. Para Isengildina e Hudson (2001), outra característica de produtores que possuem grandes áreas é que tais fazendas, normalmente, possuem maior número de empregados, razão por que sobra mais tempo para que os administradores se dediquem à comercialização, o que favorece a utilização de mercados futuros. No que diz respeito à idade do produtor, há geralmente maior aversão a inovações por parte dos produtores de idade mais elevada, ou seja, produtores mais jovens estariam mais dispostos a inovar e, consequentemente, mais propensos a utilizar os mercados futuros como instrumento de gestão de risco. Os estudos citados indicaram que fazendeiros que tinham mais de 60 anos preferiam usar outros tipos de contratos. A maior parte dos produtores que usavam mercados futuros, nos países estudados, possuía curso superior ou escola secundária completa, visto que os investidores precisam entender o funcionamento dos mercados futuros para se sentirem seguros ao utilizarem esse instrumento e que tal funcionamento não é trivial. O trabalho realizado por Meuwissen, Huirne e Hardaker (1999), apontou a diversificação das atividades exercidas na propriedade e o trabalho fora da propriedade como determinantes para utilização de mercados futuros. Em ambos os casos, o produtor estaria buscando maneiras de reduzir o risco de atuar em apenas uma atividade. Burton, Rigby e Souza Filho (1998), em estudo sobre a adoção de novas tecnologias, analisaram algumas características que podem ser determinantes para o uso de mercados futuros, considerando-se estas como uma nova tecnologia para gestão de risco de preço: se o produtor tem acesso a informações; se o produtor recebeu algum tipo de treinamento (técnico, administrativo, econômico); se o produtor recebe assistência técnica e consultoria econômico-financeira; e se o produtor faz parte de alguma associação de classe. Segundo Francisco, Pino e Vegro (2005), a proporção de estoques de café mantidos na cooperativa sobre o total de produção quase duplica a chance de usar computadores por parte dos produtores. Portanto, quanto maior a plantação de café maior a chance de adoção de tecnologia de informação por parte dos cafeicultores. O café é uma mercadoria cotada diariamente, portanto, é necessário seguir as listas de preços e cotações o mais rapidamente possível, sendo necessário para isso o uso da informática/internet. Marques e Aguiar (2004) propuseram que o modelo de Isengildina e Hudson (2001) poderia ser modificado para mostrar mais claramente os determinantes do uso de mercados futuros. Para esses autores, as variáveis poderiam ser divididas em aspectos associados ao tomador de decisão e variáveis associadas à propriedade, havendo a possibilidade de interação mútua entre essas variáveis. Tal estudo comprova a ideia de que a educação, a renda dos produtores e a execução de trabalho fora das propriedades têm forte correlação com o uso de mercados futuros para gestão de risco de preço por parte dos produtores agrícolas. Diante das variáveis apresentadas nos diversos trabalhos citados, além das variáveis disponíveis para a pesquisa, optou-se por manter a mesma linha dos autores Marques e Aguiar (2004), que trabalharam com características da propriedade e do administrador como fatores condicionantes da utilização de mercados futuros nas propriedades rurais. Uma vez que algumas das características da propriedade podem ser afetadas pelo tomador de decisão, assim como podem facilitar ou dificultar algumas das características do administrador, há possibilidade de interação mútua entre essas variáveis, como se observa na figura 1. Figura 1 Modelo conceitual da decisão da utilização dos mercados futuros por parte dos cafeicultores 4. Modelo econométricoPara analisar os fatores condicionantes do uso dos mercados futuros por parte dos cafeicultores do Sul e Sudoeste de Minas, o modelo empregado é o logit. Em tal modelo, a variável resposta, ou regressando, só pode assumir dois valores, 1 para a ocorrência de um fato e 0 em caso contrário. Em outras palavras, o regressando é uma variável binária ou dicotômica. 4.1.1 Modelo LogitA regressão logística é uma regressão múltipla, mas com variáveis de saída categóricas dicotômicas e variáveis previsoras contínuas e categóricas (FIELD, 2009). Em tal modelo, a probabilidade de ocorrência de cada resposta binária é decorrente de um conjunto de atributos dos indivíduos, tais como nível educacional, renda, idade, sexo etc. (GUJARATI, 2006). Um dos principais objetivos dos modelos de resposta binária é calcular a probabilidade de um indivíduo, com determinado conjunto de atributos e tomar uma decisão sobre um dado evento. O modelo Logit usa a função de distribuição acumulada logística, que é dada por: (1) Na tomada de decisão sobre a utilização dos mercados futuros, admite-se que o produtor avalie as vantagens e desvantagens, bem como as facilidades da adoção dessa estratégia. O padrão de adoção observado pode ser descrito pela variável binária, Y, tal que yi=1, caso o produtor utilize o mercado futuro; e yi = 0, caso não utilize. O modelo é estimado pelo Método de Máxima Verossimilhança, ou seja, por meio da maximização da seguinte função, denominada função de verossimilhança. (2) em que i se refere aos produtores que utilizam mercados futuros e j, aos que não utilizam. No modelo logit, o efeito marginal da variável Xi sobre a probabilidade de se utilizar mercados futuros é representado da seguinte maneira: (3) considerando-se: (4)
(5) em que é o coeficiente da variável Xi; Pi, o valor da probabilidade de se fazer o uso dos mercados futuros; e O efeito marginal de cada variável explicativa sobre a probabilidade não é constante; depende do efeito do valor em que cada variável é considerada. Pode-se calcular o efeito marginal sobre cada observação. 4.2 Variáveis explicativas do modelo:
Quadro 1 Variáveis explicativas dos modelos de regressão e efeitos marginais esperados
4.3 Amostra e instrumento de coleta de dadosPara a pesquisa foram elaborados questionários com questões estruturadas sobre aspectos socioeconômicos, comercialização e, fontes de informação e as tecnologias da informação utilizadas pelos cafeicultores do sul e sudoeste de Minas Gerais. Para a definição do tamanho da amostra empregou-se a fórmula para populações finitas, obtida em Fonseca e Martins (1996). Para efeitos estatísticos, na prática, uma população é considerada finita quando o seu tamanho é inferior a cinco mil, mas conceitualmente a população finita são aquelas passíveis de serem contadas. Para o cálculo da seleção da amostra da população de cafeicultores foi utilizado a seguinte equação: onde,
O Sul de Minas Gerais possui cerca de 37000 propriedades cafeeiras (BRASIL, 2000). Tal população é a que o presente estudo visa representar. Para determinar o número de cafeicultores a serem entrevistados utilizou-se um nível de confiança de 90% (Z =1,645) , uma margem de erro de 10 % e um valor (P) de 50%, já que a proporção de cafeicultores que adotam a gestão de riscos é desconhecida. Consequentemente, o valor (Q) foi de 50%. Utilizando os dados preliminares para o cálculo da amostra, foi encontrado um valor amostral (n) de 67 (0,18%) ou seja, o número da população total a ser entrevistada seria de 67 produtores de café. Mas a população entrevistada para a realização do trabalho foi bem maior que o tamanho determinado sendo de aproximadamente 0,9%, ou seja, de 332 produtores rurais. A aplicação dos questionários ocorreu no Circuito Mineiro da Cafeicultura. O evento é uma realização da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Emater-MG e Universidade Federal de Lavras (UFLA), com apoio da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Polo de Excelência do Café (PEC/Café), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia e Centro de Excelência do Café Sul de Minas é realizado com a participação dos conselhos municipais de desenvolvimento rural sustentável, cooperativas de cafeicultores, prefeituras, câmaras municipais e sindicatos rurais. O evento conta com cerca de 35 etapas nas principais regiões produtoras do Estado, sendo 25 no Sul de Minas. Com a participação de uma média de oito mil participantes e abrangência de mais de 100 municípios, consolida-se como um dos maiores e mais tradicionais eventos de extensão. A opção pela aplicação dos questionários no circuito ocorreu por tal evento congregar em suas diversas etapas cafeicultores das cidades das regiões sul e sudoeste de Minas Gerais, além das cidades vizinhas às localidades sedes do evento. A aplicação dos questionários se deu nas etapas do Circuito realizadas nos municípios de Conceição Aparecida, Machado, Coqueiral, Ibituruna, Cristais, Santo Antônio do Amparo, Nepomuceno, Três Pontas, Lavras, Santa Rita do Sapucaí e Ouro Fino. A coleta de dados ocorreu nos meses de setembro e 2009 a Junho de 2010, totalizando 332 respondentes. 4.4 Tabulação e análise dos dadosPara tabulação e análises dos dados foi utilizado o software SPSS Statistics 17.0 e o Gretl. 5. Resultados e discussão5.1 Características do elo produtor na estrutura produtiva da cafeicultura no sul e sudoeste de Minas Gerais5.1.1 Perfil dos produtores e propriedadesForam entrevistadas 332 pessoas, incluindo cafeicultores, filhos, esposas, parceiros, meeiros, arrendatários, desde que cada respondente representasse uma propriedade cafeeira individual. Portanto, os questionários respondidos envolveram características de propriedades e de gestores distintos. O atual estudo contém, predominantemente, como amostra, (cerca de 70% dos casos) pequenas propriedades, onde 77% dos cafeicultores são responsáveis pela gerência das suas propriedades, Quanto à escolaridade, 42% dos respondentes estudaram somente até o 1º grau, 34% possuem 2º grau completo, 20% fizeram curso superior e aproximadamente 3% fizeram pós-graduação. A maioria dos produtores participantes da pesquisa (aproximadamente 54%) possuem renda familiar mensal inferior a 3 salários mínimos e 94% dos cafeicultores possuem pelo menos uma fonte de renda complementar, proveniente de atividades ligadas ou não à propriedade rural. No que diz respeito à utilização de mão de obra, a maioria dos cafeicultores pesquisados (cerca de 40%) não utiliza mão de obra contratada, 32% utilizam mão de obra contratada durante todo o ano e 26% contratam funcionários durante a colheita do café. Tais resultados comprovam características recorrentes à cafeicultura da região, a utilização de mão de obra familiar por grande parte dos produtores, que neste estudo são predominantemente pequenos cafeicultores. A maioria das propriedades envolvidadas na pesquisa também são de pequeno porte. Aproximadamente 39% das unidades produtivas têm menos de 10 hectares e cerca de 21% possuem de 11 a 20 hectares, 10% têm de 21 a 30 hectares. Portanto, o total de todas as propriedades com mais de 30 hectares não chega a 30% do total. Verifica-se que apesar do grande potencial de auxílio ao produtor rural e ao processo de gestão das propriedades, a utilização da internet ainda é bem limitada entre os cafeicultores da região estudada. Apenas 38% dos respondentes são usuários da internet em alguma circunstância. Destaca-se no atual estudo o pequeno percentual de respondentes que disseram utilizar informática (computador) na fazenda. Apenas 16% das propriedades são informatizadas, o que dificulta a qualidade do processo de gestão, visto que tal tecnologia é importante para o controle e planejamento das atividades dos cafeicultores. A fonte de informação técnica/econômica mais utilizada pelos produtores é a Emater, sendo procurada por cerca de 55% dos respondentes. A segunda e a terceira fontes de informação mais utilizadas pelos produtores são respectivamente os técnicos/agrônomos e as cooperativas, com 54% e 51% de utilização pelos gestores. Destaca-se o baixo percentual de procura por parte dos cafeicultores a instituições importantes e reconhecidas pela atuação junto ao setor como a Embrapa, Epamig e Sebrae. Dentre cafeicultores consultados, 10% possuem algum tipo de certificação. Quase a totalidade dos cafeicultores que possuem tal atributo são adeptos do Certifica Minas, que é um programa do governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Apesar de ser um eficiente mecanismo de proteção contra as variações de preços do café, verifica-se que apenas 13% dos cafeicultores (43 cafeicultores) disseram utilizar a BM&F (mercado futuro) para garantia de preço de sua produção. No que diz respeito à especulação, aproximadamente 7% dos respondentes, ou 23 cafeicultores afirmaram utilizar a BM&FBOVESPA para tal procedimento. Além da garantia de preços, o mercado futuro pode ser utilizado para obtenção de ganhos extras por meio da especulação com as variações de preço nos mercados futuros. 5.2 Condicionantes do uso dos mercados futuros por parte dos cafeicultores do sul e sudoeste de Minas GeraisO modelo logit foi construído para identificar os determinantes do uso do mercados futuros (BM&FBOVESPA) pelos produtores de café do sul e sudoeste de Minas Gerais, como mostra a tabela 1. O modelo compreendeu 14 variáveis independentes, ressaltando-se que duas delas, “área total propriedade” (AREATOTAL) e “número de funcionários eventuais” (FUNCIONÁRIOS EVENTUAIS) foram eliminadas por problemas de alta correlação com outras variáveis. Os níveis de significâncias das variáveis, assim como os testes de ajuntamento global do modelo (qui-quadrado), a medida da acurácia e o teste de Hosmer e Lemeshow se encontram na tabela 1. O teste de aderência global do modelo (qui-quadrado) foi significativo a 1%, indicando que o modelo se adere bem aos dados. Foi realizado também o teste de Hosmer e Lemeshow, que testa a hipótese de que os dados são significativamente diferentes dos valores previstos pelo modelo. Tal teste foi não significativo. É o que se espera, indicando que o modelo prevê bem os valores. A acurácia indica o quão bem o modelo classifica os dados, os cafeicultores que utilizam e os não que não utilizam os mercados futuros. Como se observa na Tabelas 1, o modelo apresentou 87% de acerto na classificação dos dados. Tabela 1 Condicionantes da gestão de riscos dos cafeicultores do sul e sudoeste de Minas Gerais
Quanto ao nível de significância individual de cada variável nos modelos, nota-se pela estatística Wald, que mede a contribuição de cada variável do modelo, que a “participação em cursos e treinamentos (CURSOSTREINAMENTO), “número de funcionários contratados” (FUNCIONARIOSCONTR) e a área destinada à cafeicultura (AREACAFE) foram estatisticamente significativas a 1%. Os sinais dos coeficientes (FUNCIONARIOSCONTRATR, CURSOSTERINAMENTOS, AREACAF) são concordantes com as hipóteses formuladas, portanto todas as variáveis estatisticamente significativas empregadas no modelo apresentam relação positiva o uso dos mercados futuros. Quanto maior o número de funcionários contratados, a participação em cursos e treinamentos e maior a área destinada ao plantio de café, mais propensos são os produtores a utilizarem os mercados futuros. A coluna com o exp (B) mostra o efeito das variáveis explicativas sobre os mercados futuros em termos marginais. Tais resultados mostram a variação causada na variável utilização do mercado futuro quando da variação de uma unidade nas variáveis explicativas. O número de empregados contratados (FUNCIONARIOSCONTR) mostrou-se fator determinante para a utilização do mercado futuro. A variação positiva no número de empregados utilizados pelos produtores acarretaram aumento de 2,257 da utilização do mercado futuro para garantia de preço. Tais resultados comprovam a hipótese de que produtores com um número maior de funcionários têm a possibilidade de dedicar mais tempo à gestão da propriedade, se afastando de questões mais operacionais. Existe também a possibilidade de que tais produtores tenham funcionários contratados que realizem a gestão de riscos na fazenda. Aumentos da área destinada à cafeicultura por parte dos produtores faz com que a probabilidade de utilização do mercado futuro (BM&FBOVESPA) para travamento de preço aumente 1,444 vezes. Quanto maior a área destinada à cafeicultura, maior a propensão à utilização dos mercados futuros para gestão de riscos. Na medida em que produtores apresentam maiores operações agrícolas, grandes áreas de produção e também, maiores obrigações fixas, necessitam, consequentemente, da garantia de um nível de renda adequado para cobrir suas despesas com a atividade. Portanto, os cafeicultores com tais características tem uma maior propensão à utilizar os mercados futuros (BM&FBOVESPA) para o hedge (trava de preço no mercado futuro) do café. Observa-se que a variável “participação em cursos e treinamentos” (CURSOSTREINAMENTO), foi estatisticamente significativa para a utilização do mercado futuro para a garantia de preço. Uma variação positiva da medida da frequência em cursos e treinamentos faz com que a utilização do mercado futuro aumente 1,795 vezes. Como observado na literatura consultada, os cafeicultores que frequentemente participam de cursos e treinamentos são receptivos à implantação de novas tecnologias e assimilam a importância da realização do hedge, o que demanda o conhecimento por parte do produtor de como utilizar tal procedimento. Os cursos e treinamentos fazem os produtores obterem tal capacitação. 6. ConclusõesApesar do grande potencial de auxílio ao produtor rural e ao processo de gestão das propriedades, a utilização dos mercados futuros (BM&FBOVESPA) é bem limitada entre os cafeicultores da região. Ainda é pequeno o número de cafeicultores que utiliza tais alternativas de comercialização. Comprovou-se por este estudo que os fatores condicionantes da utilização dos mercados futuros pelos cafeicultores do Sul e Sudoeste de Minas são a área destinada à cefeicultura, a participação em cursos e treinamentos e o número de funcionários contratados pelos cafeicultores. Produtores que apresentam grandes áreas de produção e conseqüentemente, maiores obrigações fixas, necessitam, da garantia de um nível de renda adequado para cobrir suas despesas empresariais, o que faz com adotem alternativas de gestão de riscos, como os mercados futuros. Produtores com maior número de funcionários tendem a utilizar mais os mercados futuros, por poderem se afastar de atividades mais operacionais e exercerem a gestão das suas propriedades. Seguindo outra vertente, também é possível que tais cafeicultores contratem gerentes que realizem tal atividade. Os cafeicultores que participam com maior frequencia de cursos e treinamentos são mais abertos à utilização dos mercados futuros, por possuírem informações que os tornam aptos a isso. Referências bibliográficasAGUIAR, D. R. D. Mercados futuros como instrumentos de comercialização agrícola no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 37., 1999, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu: [s.n.], 1999. p. 46-57. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Agronegócio café: estatísticas. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 25 jul. 2010. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Produção e Comercialização. Departamento do Café. Quadro 2: previsão da safra cafeeira 2001/2002: parque e produção levantada em dezembro de 2000. Brasília, 2000. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. AliceWeb: banco de dados. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento. gov.br/>. Acesso em: 10 out. 2009. BURTON, M. et al. Adoção de tecnologias sustentáveis no Paraná. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, v. 36, n. 4, p. 71-94, 1998. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Secretaria de Produção e Comercialização. Departamento do Café. Previsão de safra. 2002. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=2/>. Acesso em: 11 abr. 2001. FONSECA, J. S.; MARTINS, G. A. Curso de estatística. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 320 p. FONTES, R. E.; CASTRO JÚNIOR, L. G.; AZEVEDO, A. F. Estratégia de comercialização em mercados derivativos: descobrimento de base e risco de base da cafeicultura em diversas localidades de Minas Gerais e São Paulo. Revista Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 29, n. 2, p. 346-352, mar./abr. 2005. FIELD, A. Descobrindo a estatística usando o SPSS. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2009. 688 p. FRANCISCO , V. L. F. S.; PINO, F. A.; VEGRO, C. L. R. Information tecnology on coffe. Agricultura São Paulo, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 77-82, Jan./June 2005. GUJARATI, D. N. Econometria básica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. 813 p. HANSON, D. K.; PEDERSON, G. Price risk management by Minnesota farmers. Agricultural Economist, Hoboken, n. 691, Winter 1998. HULL, J. Introdução aos mercados futuros e de opções. 2. ed. São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuros, 1996. 448 p. ISENGILDINA, O.; HUDSON, M. D. Factors affecting hedging decisions using evidence from the cotton industry. Disponível em: <http://www. farmdoc.illinois.edu/nccc134/conf_ 2001/pdf/confp07-01.pdf>. Acesso em: 23 dez. 2010. KASSAI, S. As empresas de pequeno porte e a contabilidade. São Paulo: FEA/USP, 1997. KNIGHT, T. O. et al. An analysis of lenders' influence on agricultural producers' risk management decisions. Southern Journal of Agricultural Economics, Texas, v. 16, p. 21-34, Dec. 1989. LEITE, C. A. M. Avaliação da cafeicultura nos últimos anos. Viçosa, MG: [s.n.], 2005. 56 p. MARQUES, R. H. S.;AGUIAR, D. R. D. Determinantes do uso de mercados futuros pelos produtores de soja no município de Cascavel. Revista de Economia e Agronegócio, Viçosa, MG, v. 2, n. 2, p. 209-234, 2004. MEUWISSEN, M. P. M.; HUIRNE, R. B. M.; HARDAKER, J. B. Perceptions of risks an management strategies: an analysis of dutch livestock farmers. In: CONFERENCE AAEA ANNUAL MEETING, 1., 1999, Nashville. Proceedings... Nashville: Tennessee, 1999. p. 28. PEREIRA, V. F. Efeito da diferenciação sobre os riscos e retornos da produção de café em Minas Gerais. 2008. 134 f. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2008. PINHEIRO, A. C. Impactos microeconômicos da privatização no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, São Paulo, v. 3, n. 26, p. 357-397, 1996. ROE, T. L.; GOPINATH, M. The “miracle”of U. S. agriculture. Minnesota Agricultural Economist, Minnesota, n. 691, Winter 1998. ROE, T. L.; GOPINATH, M. The “miracle”of U. S. agriculture. Minnesota Agricultural Economist, Minnesota, n. 691, Winter 1998. |
1 Departamento de Administração e Economia - Universidade Federal de Lavras (UFLA), Brasil - cassionep@yahoo.com.br |