Espacios. Vol. 33 (9) 2012. Pág. 9 |
Práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável e seus impactos na performance empresarialPractice-oriented technological innovation for sustainable development and its impact on business performanceUiara Gonçalves de Menezes 1 e Clandia Maffin Gomes 2 Recibido: 04-02-2012 - Aprobado: 22-05-2012 |
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RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoO processo de inovação tem se tornado fundamental no cotidiano das organizações empresariais, principalmente no que se refere à crescente competitividade do mundo dos negócios. Em busca de competitividade e de diferenciação, as empresas têm recorrido à gestão de práticas inovadoras. Essa característica se reflete em pesquisas na área de administração, sensíveis a esta problemática, uma temática relevante e em elevado crescimento na literatura (Machado et al., 2008). As práticas de gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável contribuem para o incremento da performance empresarial (De Menezes, 2011), nesse sentido os objetivos dessa pesquisa são: a) identificar quais são as principais práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável desenvolvidas pelas empresas indústrias pesquisadas; e b) verificar quais os principais impactos percebidos pelas industrias no que se refere à performance empresarial. O setor foco dessa pesquisa é o industrial químico brasileiro. A escolha dessa população se justifica pelo seu esforço no desenvolvimento de atividades que buscam a sustentabilidade das suas operações, principalmente no que se refere às questões sociais e ambientais, a chamada segurança-química. Além disso, seus produtos são fornecidos para quase todos os tipos de indústrias, o que reflete a importância do setor para o sistema produtivo como um todo. Devido a essa abrangência de seus produtos, qualquer transformação na composição de determinados componentes químicos, visando a menor agressão ao ambiente, permeará em quase toda a cadeia de produção da indústria e esse resultado será percebido por meio da redução do impacto ambiental (Abiquim, 2010). 2. Referencial teórico2.1. Inovação Tecnológica Orientada para o Desenvolvimento SustentávelAlgumas inovações que surgiram ao longo dos anos apresentam impactos bastante danosos no meio ambiente e na vida humana, como por exemplo, o uso de agrotóxicos, descarte de pilhas e baterias, uso intensivo de combustível fóssil entre outros. A utilização e o descarte desses produtos têm gerado impactos tanto na natureza (flora e fauna) como na saúde das pessoas. Nesse sentido, as inovações tecnológicas têm requerido análises criteriosas antes de serem lançadas no mercado. Os modelos de gestão ambiental são desenvolvidos para reduzir os impactos ambientais e cumprir a legislação vigente, através da redução de desperdícios dos insumos, da redução do consumo de energia e por meio de uma gestão mais eficiente das práticas operacionais da organização. Assim, as empresas reduzem investimentos em tecnologias de elevado custo e complexas, de tratamento ao final da produção e dos serviços e, ao mesmo tempo, garantem o cumprimento da legislação ambiental, além de reduzir custos (Daroit et al., 1999). Conforme Porter e Linde (1995), essa economia contribuiu para estimular o desenvolvimento de inovações. Esses programas privilegiam a dimensão econômica sob o enfoque do aumento da lucratividade da empresa, através da diminuição dos custos operacionais. Entretanto, as inovações sustentáveis não somente precisam estar focadas na demanda de mercado, mas também considerar as necessidades da sociedade, visando tanto o bem estar financeiro da organização como de qualidade de vida (Daroit; Nascimento, 2004). O que é corroborado por Feldmann (2003) ao argumentar que o impacto ambiental pode ser reduzido por meio da utilização eficiente dos recursos naturais e da minimização dos resíduos pós-consumo. A inovação, entretanto, precisa ser compreendida no contexto social, visto que desencadeiam suas próprias necessidades. Juntamente com a inovação tecnológica aparecem aspectos relacionados à inclusão da gestão ambiental e social. O modelo de desenvolvimento econômico do planeta, utilizado por muitas décadas, degradou e poluiu o meio ambiente, visto que estava calcado na exploração de recursos naturais. Esses recursos foram extraídos de forma predatória e, em consequência dessa exploração, diversos problemas ambientais surgiram. Devido a importância que as empresas têm dado à atividade de inovação, é que as questões relativas ao desenvolvimento sustentável se tornam cada vez mais relevante. Aliando as temáticas da inovação tecnológica e da sustentabilidade tem-se a inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável, ou inovação tecnológica sustentável. Seu conceito foca nas inovações que a mantém ou aumentam o capital global (econômico, ambiental e social) de uma empresa (Hansen et al., 2009). A sustentabilidade tem sido discutida tanto na comunidade empresarial como na acadêmica, e ainda não apresenta um conceito completamente definido. O conceito, desenvolvido por Elkington (2001), sobre o Triple Bottom Line (Planet, Profit and People), se refere às esferas social, ambiental e econômica. A esfera social inclui a questão da justiça social, na qual o objetivo maior é o desenvolvimento de um mundo mais justo, através das relações com todos os stakeholders (colaboradores, clientes, fornecedores, governo). Essa dimensão contempla o capital humano, na forma de saúde, habilidades e educação, e deve abranger medidas mais amplas de bem-estar da sociedade e do potencial de criação de riqueza. Na esfera ambiental, ressalta-se a utilização dos recursos de forma a não prejudicar as gerações futuras, reduzindo impactos da ação das indústrias e utilizando de forma sustentável os recursos naturais. Na perspectiva econômica tem-se a preservação da lucratividade da organização e o não comprometimento do seu desenvolvimento econômico. Torna-se indispensável compreender como as empresas mensuram suas atividades econômicas do ponto de vista sustentável. Hall e Vredenburg (2003) entendem que as inovações devem agrupar as necessidades sociais e ambientais, assim como considerar as gerações futuras, com o intuito de alinhar-se ao desenvolvimento sustentável, o que se reflete em um caráter complexo e ambíguo dessas inovações, pois podem proporcionar diversos tipos de vantagens e desvantagens, necessitando atender a um número maior de stakeholders com demandas conflitantes. Como exemplo pode ser citado: produtos sintéticos que não se degradam facilmente e entulham os aterros, produtos de limpeza que poluem as águas, produtos químicos lançados nas lavouras e que desencadearam problemas de saúde na população, entre outros. Em resumo, observa-se que alguma das dimensões social ou ambiental pode sofrer algum prejuízo em detrimento dos lucros que advém destas inovações. Por estas características, os autores consideram a inovação como uma “Espada de Dois Gumes” (The Double-Edged Sword of Innovation). O risco direcional das inovações justifica-se, pois o conceito de inovação orientada para o desenvolvimento sustentável expressa somente uma declaração de intenção individual, sendo que a direção dos reais efeitos de uma inovação para o desenvolvimento sustentável é desconhecida. Por essa característica, ainda se considera que esse tipo de inovação é de alto risco, entretanto de grande interesse para as empresas e a sociedade (Hansen et al., 2009). A Produção mais Limpa (P+L) é uma estratégia ambiental preventiva aplicada aos processos, produtos e serviços, em busca de minimizar os impactos sobre o meio ambiente e instrumentalizar os conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável. A P+L é considerada um modelo de produção e tem sido desenvolvido desde a década de 80 pelo PNUMA e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI). A P+L é baseada no conceito de Tecnologia Limpa (Clean Technology) que tem três propósitos distintos: lançar menos poluição ao meio ambiente, gerar menos resíduos e consumir menos recursos naturais, principalmente os não-renováveis (Barbieri, 2004). A ecoeficiência se trata de um modelo de gestão ambiental empresarial introduzido pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD, 1992). Alguns anos após, os ministros dos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) identificaram a ecoeficiência como uma proposta promissora para as empresas, os governos e as famílias reduzirem a poluição e o uso de recursos nas suas atividades e passaram a recomendá-la. Baseia-se na ideia de que a redução de materiais e de energia por unidade de produto ou serviço aumenta a competitividade da empresa. Outro sistema de gestão ambiental aplicável aos bens e serviços refere-se à análise do ciclo de vida (ACV). A ACV refere-se aos aspectos ambientais de um bem ou de um serviço desde a origem dos recursos no meio ambiente até a disposição final dos resíduos de materiais e energia após o uso, passando por todas as etapas intermediárias, como beneficiamento, transporte, estocagem, entre outros. Os rótulos ou selos ambientais visam informar os consumidores ou usuários sobre as características benéficas ao meio ambiente presentes em produtos ou serviços específicos: biodegrabilidade, retornabilidade, uso de material reciclado, eficiência energética e outras características (Barbieri, 2004). Além de informar, esses rótulos podem estimular a procura de produtos e serviços com baixos impactos ambientais através da disponibilização de informação relevante sobre os seus desempenhos ambientais. A adoção desses selos busca também proteger o ambiente; encorajar a inovação ambientalmente saudável na indústria e desenvolver a consciência ambiental dos consumidores, além de diferenciar produtos. A rotulagem ambiental pode se materializar por meio de símbolos, marcas, textos ou gráficos. A diminuição dos impactos ambientais de uma empresa não depende apenas de esforços organizacionais internos. Produtos e os resíduos poluentes também decorrem das características dos insumos obtidos. Assim sendo, incrementar o desempenho ambiental significa conectar esforços entre empresas compradoras e fornecedoras. Parcerias entre integrantes de uma cadeia de suprimentos podem reduzir o risco de acidentes, passivos ambientais, bem como propiciar melhorias em produtos e processos produtivos das organizações envolvidas. Essas iniciativas podem evitar que os problemas ambientais de empresas fornecedoras, distribuidoras e varejistas afetem o desempenho do negócio da organização, seja pela oferta de produtos inadequados, seja perda de legitimidade (Dias et al., 2008). 2.2. Performance EmpresarialO desempenho de um negócio é, a partir de uma visão mais abrangente, um ponto principal das pesquisas concernentes às diversas estratégias administrativas, propiciando uma busca contínua, dos pesquisadores, por um melhor desempenho para a condução das estratégias das organizações, através de uma variedade de métodos que visam a operacionalizar este desempenho (Venkatraman; Ramanujan, 1986). Mensurar o desempenho organizacional se tornou fundamental para que as organizações possam comparar sua gestão ao longo do tempo. Segundo Bititci et al. (1997) as medidas não-financeiras constituem indicadores de tendência e são capazes de oferecer informações que proporcionam algumas projeções, de forma a prevenir, antecipar e influenciar resultados futuros. Essas medidas conseguem interpretar a complexidade e os valores contidos no ambiente empresarial, ao contrário das financeiras. Quando o objetivo das empresas é avaliar as estratégias organizacionais, identificar oportunidades, mensurar a velocidade de aprendizado, a inovação, a flexibilidade, a confiabilidade e a capacidade de resposta, o uso dessas medidas é fundamental. Originado pela organização holandesa Global Reporting Initiative, o modelo Global Reporting Initiative (GRI), define um padrão internacional para elaboração de relatórios de desempenho sustentável, propondo uma discussão com stakeholders para a determinação dos indicadores relevantes. Busca fornecer uma estrutura confiável para relatar a sustentabilidade que pode ser usada por organizações de qualquer tamanho, setor ou localização. Os indicadores estruturados pelo GRI para avaliação da sustentabilidade se dividem em três grupos: sociais, econômicos e ambientais (GRI, 2006).
O modelo de mensuração da sustentabilidade empresarial Global Reporting Initiative apresenta abrangência em suas dimensões e é utilizado mundialmente em empresas de diversos segmentos e países proporcionando um entendimento global dos efeitos sustentáveis nas organizações. 3. MetodologiaA pesquisa caracterizou-se como uma investigação de natureza quantitativa, por meio de uma pesquisa survey, que de acordo com Babbie (1999) permite analisar de forma descritiva uma população. A pesquisa descritiva visa, além de detalhar as características de uma população e fenômeno, estabelecer a relação entre variáveis (Gil, 1999). Para realização do estudo foi adotado um modelo conceitual relacionando as variáveis que compõem a dimensão da gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável e a dimensão da performance empresarial. Sua execução se deu por meio da aplicação de um instrumento de coleta de dados, composto por questões fechadas, em empresas industriais do setor químico brasileiro, visando a identificar principais estratégias de inovação orientadas para o desenvolvimento sustentável e os principais indicadores que compõem a performance empresarial. Para alcançar os objetivos da pesquisa as variáveis do modelo foram definidas e categorizadas em grupos de análise apresentados no quadro a seguir. O Quadro 1 apresenta a descrição da dimensão de gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável. Quadro 1
Fonte: Baseado em Hansen et al. (2009) Para avaliar a performance empresarial das empresas do estudo, o Quadro 2 apresenta a descrição das variáveis e indicadores utilizados. Quadro 2 - Variáveis e indicadores da dimensão performance empresarial
Fonte: Baseado em GRI (2006) O universo da pesquisa foi constituído de empresas industriais do setor químico brasileiro. Ao todo, foram contatadas 486 empresas industriais de vários segmentos desse setor e o número de questionários respondidos foi de 34. As bases cadastrais utilizadas foram: ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química); SINPROQUIM (Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo); SINDIQUIM (Sindicato das Indústrias Químicas no Estado do Rio Grande do Sul); ASSOCIQUIM (Associação Brasileira dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquímicos); ABIPLA (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins); e NEI (Cadastro de Fornecedores e Produtos Industriais - FIESP). A escolha dessa população como foco de investigação é justificada pela sua elevada representatividade nacional e internacional, potencial de inovação tecnológica, importância na cadeia de produção industrial, impacto ambiental e natureza das atividades industriais. A aplicação do instrumento de coleta de dados ocorreu no período de janeiro à junho de 2011 e os dados foram coletados junto aos departamentos responsáveis pelas áreas de inovação e/ou de desenvolvimento sustentável. A coleta de dados foi iniciada a partir da utilização do utilizado o banco de dados da ABIQUIM, sendo os questionários enviados diretamente via associação para as indústrias. Devido ao baixo índice de retorno obtido nessa fase, o banco de dados foi ampliado e os contatos com as empresas passaram a ser efetuados através de contato telefônico com posterior envio do instrumento via e-mail, visando a obter maior número de respostas e ampliar a representatividade da amostra. Para a análise, os dados inicialmente obtidos foram tabulados e processados com o auxílio dos softwares Excel e SPSS. A análise foi efetuada de forma univariada, através de estatísticas descritivas com o uso de média, desvio-padrão, coeficiente de variação e a determinação da frequência observada e percentual. As estatísticas descritivas foram aplicadas para descrever a amostra, assim como verificar a intensidade da gestão das práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável e os principais indicadores para a avaliação de performance empresarial. 4. Análise dos resultadosA análise dos resultados parte inicialmente da descrição das características que constituem o perfil das empresas que fazem parte do universo pesquisado. Na sequência são apresentados os valores assumidos pelas variáveis. As análises são efetuadas de forma univariada buscando abranger detalhes específicos dos dados, assim como a obter uma visão integrada das variáveis estudadas. 4.1. Caracterização do perfil das empresasA maioria das indústrias pesquisadas caracteriza-se como sendo de pequeno e médio porte; investem, em média, 2,07% do faturamento bruto na atividade de P&D e não atuam no exterior. Além disso, observa-se que, na maioria dos casos analisados, são desenvolvidas atividades de inovação tecnológica, sendo que a própria empresa, a principal responsável pela atividade inovativa. As atividades de inovação em produto e em processo são desenvolvidas por uma parcela significativa das empresas, seguida da inovação somente em produto (29,41%). Esse dado encontra-se alinhado com dados da pesquisa do IPEA (2005) que indicam a tendência das empresas em inovar em produtos e em processos de forma conjunta. Esses resultados são pertinentes, na medida em que confirmam a existência de atividade inovativa na maioria das empresas analisadas, atestando a adequação desse grupo de empresas para a aplicação do estudo proposto. A revisão de literatura efetuada evidenciou a interface existente entre a atividade inovativa e as estratégias e práticas relacionadas a sustentabilidade. Ressalte-se, entretanto, que uma parcela das empresas pesquisadas não possui atividade de inovação. A atividade de inovação em cooperação com outras empresas, institutos de pesquisa ou universidades ainda pode ser considerada uma prática restrita a uma pequena parcela de empresas (26,47%), revelando baixo investimento na realização de parcerias para o desenvolvimento da atividade inovativa. Esse resultado contraria a versão teórica que argumenta sobre a importância de descentralizar a responsabilidade pela atividade inovativa e expandir os mercados para o uso externo das inovações, possibilitando avanço tecnológico (Chesbrough et al. 2006). Ainda, esse tipo de parceria são as principais modalidades de acesso às tecnologias adotadas, visando à obtenção de um nível tecnológico superior (Gomes; Kruglianskas, 2009). De acordo com os dados apontados pela PINTEC (2008) a atividade inovativa em cooperação com outras empresas ou com outras instituições consiste em uma prática que ainda tem de ser desenvolvida na indústria brasileira e que essa preocupação tende a ser ampliada na medida em que aumenta o número de pessoal ocupado. As indústrias que compõem a amostra da pesquisa são de pequeno e médio porte, em sua maioria, o que pode explicar inclusive o fato de a responsabilidade principal pela inovação ser da empresa. 4.2. Gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentávelA gestão da inovação tecnológica orientada para o desenvolvimento sustentável foi analisada por meio das variáveis: integração do critério da sustentabilidade, integração de stakeholders e usuários, marketing direcionado para a inovação sustentável e sensibilização no contexto da sustentabilidade. A seguir, a Tabela 1 apresenta os dados da variável integração do critério de sustentabilidade. Tabela 1
Os dados obtidos na pesquisa evidenciam que as empresas avaliam o possível impacto do desenvolvimento de seus produtos e processos no capital natural (38,20%) e social (32,40%), o permite concluir que as empresas têm se preocupado com o risco direcional que as inovações podem desencadear. Para Hansen, Grosse-Dunker e Reichwald (2009) os critérios de sustentabilidade devem ser integrados no processo de inovação de forma a orientar o desenvolvimento e a concepção de inovações e ampliar as possibilidades de que a sustentabilidade seja levada em consideração durante as etapas de produção, incluindo critérios sociais e ambientais. A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos da variável integração de stakeholders e usuários. Tabela 2
De acordo com os dados apresentados, as empresas pesquisadas têm como característica o desenvolvimento ativo de parcerias com clientes/consumidores (44,10%), empregados (47,10%), fornecedores (32,40%) e organizações e institutos (29,40%). Ou seja, em sua maioria, a participação desses stakeholders na tomada de decisões relacionadas aos investimentos em inovações sustentáveis é frequente. Essa característica é confirmada pelos resultados da PINTEC (2008) que identificou essa mesma relação de parceria, com fornecedores, clientes ou consumidores. A importância do envolvimento dos stakeholders nas atividades de inovação empresarial é corroborada por diversos autores na revisão da literatura, em função de propiciar às empresas a compreender a sua gestão tecnológica a gestão socioambiental, o que pode resultar em uma mudança na cultura e nos valores organizacionais, convertendo esse novo conceito em um critério de desenvolvimento dos negócios. Cabe ressaltar a elevada intensidade de não respostas (não se aplica), o que evidencia dificuldades na aplicação das práticas sugeridas pelo referido modelo teórico. Esse dado pode ser resultado da falta de internalização de conhecimentos sobre práticas de inovação tecnológica e de desenvolvimento sustentável, especialmente por se tratarem, em sua maioria, de empresas de pequeno e médio porte. Os resultados obtidos da variável marketing direcionado para a inovação sustentável são apresentados na Tabela 3 a seguir. Tabela 3
As empresas analisadas apresentam alta concordância com relação à adoção das práticas relacionadas ao marketing direcionado para a inovação sustentável (acima de 35%). Os indicadores utilizados foram avaliados como de elevada frequência. Dentre esses indicadores, apenas a adoção de rotulagem ambiental apareceu em menor frequência (23,50%). A baixa frequência observada em a adaptação dos produtos às normas ambientais do país importador (41,20%) se justifica pelo fato de uma parcela significativa de empresas pesquisadas não apresentarem atividades no mercado internacional. Os resultados da variável sensibilização no contexto da sustentabilidade são apresentados na Tabela 4. Tabela 4
As empresas apresentam elevada frequência em relação ao investimento na compreensão dos conceitos relacionados à sustentabilidade por parte do seu corpo de colaboradores e gestores (em torno de 30%). Porém a avaliação do grau de compreensão e interatividade desses conceitos apresentou intensidade média (26,50% das empresas pesquisadas). Esses investimentos refletem o quanto o tema tem se tornado estratégico para as empresas, principalmente para as pessoas que são responsáveis pela tomada de decisão sobre novos produtos ou processos nas organizações. 4.3 Performance empresarialA dimensão da performance empresarial foi analisada por meio das variáveis: impactos econômicos e financeiros, impactos sociais e impactos ambientais. São apresentados por meio da intensidade em que seus efeitos são percebidos nas empresas. Os resultados da variável impactos econômicos e financeiros são apresentados na Tabela 5. Tabela 5 – Valores assumidos pela variável impactos econômicos e financeiros
De acordo com os dados, percebe-se que poucas empresas entendem a elevação no valor econômico direto gerado e distribuído como impactos relevantes. Essa elevação inclui incremento das receitas, redução dos custos operacionais, melhor remuneração de empregados, doações e outros investimentos na comunidade, lucros acumulados e pagamentos para provedores de capital e governos, além de desenvolvimento e impacto de investimentos em infra-estrutura e serviços oferecidos. Porém, essas organizações podem não apresentar indicadores que mensurem seu desempenho econômico de uma forma mais abrangente, devido aos altos índices de não resposta. Essa situação pode ser respondida pelo argumento de que as empresas do estudo são, em sua maioria, de pequeno e médio porte e os indicadores de performance desta pesquisa, baseados no GRI, têm sido mais utilizados por empresas de porte maior. A seguir a Tabela 6 apresenta os resultados da variável impactos sociais. Tabela 6 – Valores assumidos pela variável impactos sociais
De uma forma geral há concordância, por parte das indústrias pesquisadas, de que os impactos sociais são intensos. Essa percepção positiva pode estar relacionada à existência de maior adequação das empresas em termos de legislação trabalhista, mas também revelam um nível elevado de comprometimento com a adoção de práticas dessa natureza. É possível observar ainda que a adequação das informações quanto às exigências nos procedimentos de rotulagem dos produtos obteve um percentual elevado de resposta das indústrias. Esse dado reflete a relevância dada à informação de seus clientes e consumidores. Os indicadores de investimento em medidas anticorrupção, participação na elaboração de políticas públicas e redução de multas significativas e de sanções não-monetárias resultantes da não-conformidade com leis e regulamentos da sociedade, obtiveram maior frequência de não respostas. Isso pode significar que as empresas não apresentam indicadores para mensurar essas questões ou que essas práticas não costumam ocorrer na empresa. Os resultados da variável impactos ambientais são apresentados na Tabela 7. Tabela 7 – Valores assumidos pela variável impactos ambientais
A preocupação com a minimização dos riscos e de impactos ambientais se constitui em uma importante preocupação das empresas, que se reflete, inclusive, pela necessidade de se adequar à legislação ambiental. Os impactos ambientais são altamente percebidos, de uma forma geral, pelas indústrias analisadas. Ou seja, a redução de consumo de energia e água, emissão de efluentes, entre outros, são resultados que as empresas pesquisadas percebem em maior intensidade. Ressalte-se que dentre os oito indicadores de impactos ambientais considerados no estudo, seis apresentaram concordância total de grande parte das empresas. Essa característica revela um elevado nível de comprometimento com a gestão ambiental, a exemplo do comportamento obtido em relação da avaliação dos impactos sociais. 5. Considerações finaisO objetivo da presente pesquisa é identificar as principais estratégias de inovação orientadas para o desenvolvimento sustentável e os principais impactos referentes à performance empresarial das empresas industriais do setor químico brasileiro. Com base na análise dos resultados pode-se concluir que a maior parte das empresas industriais do setor químico, que compõe a amostra do estudo, desenvolve as práticas de gestão da inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável de forma intensa. Os dados evidenciam que a maioria das empresas avalia o possível impacto do desenvolvimento de seus produtos e processos no capital natural e social; desenvolve ativamente parcerias com clientes/consumidores, empregados, fornecedores e organizações e institutos para geração de inovações; adotam práticas que buscam a criação e a projeção de novas necessidades sustentáveis no mercado; e investe na disseminação dos conceitos relacionados à sustentabilidade por parte de gestores e de colaboradores. Essas ações, de acordo com o modelo conceitual de Hansen et al. (2009), são implicações para a gestão das práticas de inovação tecnológica orientadas para o desenvolvimento sustentável. A análise descritiva das variáveis de performance empresarial apresenta menor convergência entre o modelo teórico subjacente e dados empíricos obtidos na survey. Sobre os impactos econômicos e financeiros, a característica que se sobressai reflete que essas organizações podem não apresentar indicadores para a mensuração do seu desempenho econômico de uma forma mais abrangente. As indústrias pesquisadas parecem perceber e concordar acerca da relevância dos impactos sociais. Nesse sentido, destaca-se a adequação das informações quanto às exigências nos procedimentos de rotulagem dos produtos. Os indicadores relativos aos impactos ambientais parecem ser mais significativos para as empresas em função da sua preocupação constante em relação ao meio ambiente, trazendo, consequentemente, maiores investimentos nessa área. De modo geral, foi possível observar que as empresas que compõem o estudo, pouco informaram acerca dos indicadores utilizados para avaliar os impactos referentes à performance empresarial. Esse comportamento diverge dos pressupostos teóricos que afirmam que apresentar meios para mensurar suas atividades é o ponto de partida para o aperfeiçoamento da própria empresa, visto que permitem ao administrador compreender e visualizar quais são as metas da organização (Harrington, 1993). Esse comportamento pode se justificar pela inexistência de indicadores capazes de mensurar a performance. As limitações do estudo são decorrentes do número de empresas pesquisadas, pois apesar do longo processo de coleta de dados, o número de empresas que se disponibilizaram a responder o questionário da pesquisa foi pouco representativo em relação à população pesquisada. Nesse sentido não é possível fazer generalizações das conclusões obtidas com relação aos respondentes para toda a população. As conclusões e análises se referem apenas ao conjunto de empresas participantes da amostra. 6. Referencial bibliográficoABIQUIM – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA QUÍMICA. 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1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Brasil E-mail: uiara.menezes@gmail.com |