Espacios. Vol. 31 (2) 2010. Pág. 21
Daniele Penteado Gonçalves Braga, Alexandre Xavier Vieira Braga y Marcos Antonio de Souza
Baseando-se nos critérios de Lakatos e Marconi (2002) e Hair (2005), a pesquisa é classificada como exploratória, pois busca maior familiaridade com um tema ainda não abundante na literatura, ou seja, a análise de empresas no contexto da rede de empresas. Também é classificada como descritiva, ainda segundo Lakatos e Marconi (2002), porque, derivado de observações empíricas, descreve como a realidade é. O aspecto de pesquisa qualitativa também está presente na natureza do estudo, dada a não utilização de técnicas estatísticas avançadas de análise (BEUREN, 2003).
Foi utilizada a abordagem de uma survey, definida por Pinsonneault e Kraemer (1993), como a maneira de coletar dados ou informações sobre particularidades, ações ou opiniões de um determinado grupo de pessoas, representantes de uma determinada população-alvo, por meio do instrumento questionário.
Quanto à temporalidade a pesquisa é do tipo cross-sectional (BRYMAN, 1988), dado que a coleta foi realizada em um ponto único no tempo, no primeiro semestre de 2008. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se de um questionário respondido pelo representante de cada uma das 16 empresas pertencentes à rede. O questionário constituiu-se de questões fechadas e com o uso de escalas métricas, conhecidas como escala de Likert, considerando-se a escala 5 como o melhor desempenho possível.
Os indicadores foram identificados a partir de reuniões semanais na sede da rede, nas quais se discutiu com os gestores das empresas as variáveis de desempenho a serem aferidas.
Os questionários foram validados por meio da realização de pré-testes, aplicados a três gestores de empresas que não fazem parte da amostra. Os pré-testes serviram para verificar a clareza das questões bem como coletar sugestões de melhorias para o instrumento final
Para análise de dados utilizou-se da representatividade percentual das respostas analisadas em relação ao total de respostas obtidas. Comentários interpretativos foram elaborados com vista a apresentar o significado qualitativo dos dados coletados.
Informações adicionais sobre a natureza e atuação da rede foram obtidas mediante entrevista realizada com o presidente da organização.
A Redetur é a primeira rede de agências de viagens e turismo do Brasil, formada pelo Programa Redes de Cooperação do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, com o apoio técnico da Universidade Católica de Pelotas, através da metodologia da SEDAI (Secretaria Estadual de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais).
Sua criação deu-se em junho de 2005, sendo composta por 16 empresas de agências de viagens e turismo, presentes em 11 municípios gaúchos, conforme apresentado no Quadro 1.
Cidade/região do RS |
Tempo de atuação no mercado (anos) |
Nº. de colaboradores |
Rio Grande - Metade Sul | 25 |
6 |
Pelotas - Metade Sul | 25 |
7 |
Pelotas - Metade Sul | 35 |
6 |
Santa Maria - Central | 4 |
9 |
Porto Alegre - Metropolitana | 35 |
6 |
Porto Alegre - Metropolitana | 25 |
6 |
Porto Alegre - Metropolitana | 1 |
9 |
Porto Alegre - Metropolitana | 25 |
6 |
Canoas - Metropolitana | 6 |
10 |
São Leopoldo - Vale dos Sinos | 15 |
7 |
Novo Hamburgo - Vale dos Sinos | 7 |
6 |
Santa Cruz | 45 |
15 |
Lageado | 6 |
8 |
Caxias do Sul - Serra | 10 |
20 |
Caxias do Sul - Serra | 6 |
12 |
Passo Fundo | 15 |
6 |
Quadro 1 - Caracterização Geral das Empresas da Rede
A forma jurídica da rede é de associação sem fins lucrativos, registrada em cartório com Estatuto Social, Regimento Interno e Código de Ética. Há Conselhos Administrativo, Fiscal e de Ética, os quais cumprem o papel de auxiliar a diretoria na condução dos interesses da rede.
A identificação dos indicadores de desempenho foi feita em conjunto com os gestores das empresas. Foram escolhidos 32 indicadores, agrupados de acordo com as áreas de atividades das empresas.
Para cada área de atividade das organizações analisadas buscou-se listar os indicadores que pudessem evidenciar o desempenho das atividades. O Quadro 2 apresenta os indicadores sugeridos em conjunto com os gestores para avaliação de desempenho das empresas.
Ordem |
Denominação |
1 |
Disponibilidade de linhas de crédito para a empresa |
2 |
Acesso a novas tecnologias de sistemas de emissão de passagens aéreas |
3 |
Realização de cursos de capacitação para gestores |
4 |
Participação em feiras e eventos do segmento |
5 |
Comportamento empreendedor |
6 |
Utilização de ferramentas de processos gerenciais |
7 |
Relações e parcerias com outras empresas do mesmo segmento |
8 |
Vantagem competitiva frente à concorrência |
9 |
Grau de confiança em seu próprio negócio |
10 |
Capacitação dos colaboradores dentro das agências |
11 |
Comunicação interna entre gestor e colaborador |
12 |
Grau de satisfação e motivação dos colaboradores |
13 |
Participação em treinamentos e capacitação externa dos colaboradores |
14 |
Troca de informações entre colaboradores de agências diferentes |
15 |
Padrões de atendimento e procedimentos |
16 |
Satisfação do atendimento prestado pelo fornecedor |
17 |
Agilidade no tempo de resposta dos serviços prestados por fornecedores |
18 |
Benefícios gerados pelos fornecedores (viagens e brindes) |
19 |
Aumento nas comissões geradas pelos fornecedores |
20 |
Aumento na quantidade de clientes |
21 |
Diversidade de produtos ofertados para os clientes |
22 |
Participação em associações e entidades |
23 |
Elaboração de planejamento organizacional |
24 |
Número de filiais |
25 |
Número de fornecedores de produtos comercializados |
26 |
Aumento do poder de negociação com fornecedores |
27 |
Número Total de colaboradores das empresas |
28 |
Número de colaboradores na área administrativa da empresa |
29 |
Número de colaboradores no atendimento ao público |
30 |
Aumento salarial dos colaboradores (excluindo benefícios) |
31 |
Faturamento médio mensal bruto da empresa |
32 |
Lucratividade média mensal da empresa (% sobre o faturamento) |
Quadro 2 - Indicadores de Desempenho e melhoria da competitividade
Observa-se que do total de 32 indicadores somente 5 deles (1, 19 e 30 a 32) têm um foco especificamente financeiro e bastante objetivos. Assim, na interpretação dos gestores são os indicadores não financeiros que melhor representam o desempenho e a competitividade da empresa. Conforme apontado pelos gestores, esses indicadores não-financeiros são de fácil entendimento e auto-explicativos, ao contrário dos complexos indicadores financeiros extraídos das demonstrações contábeis, aqui não utilizados. Assim, com base na entrevista com o presidente da rede e nos questionários respondidos pelos gestores das empresas são apresentados na seqüência uma consolidação da interpretação dos resultados encontrados.
Inicia-se com os sete indicadores que apresentaram as mais significativas mudanças pós-migração para redes.
Gráfico 1 – Indicador 5: Comportamento empreendedor
Antes de fazer parte da Redetur, conforme Gráfico 1, as empresas consideravam grau 3 em seu comportamento. A partir da participação na rede evoluiu-se para o grau 5.
Ocorreram mudanças no comportamento empreendedor dos gestores das empresas, principalmente na mentalidade dos gestores e na maneira como estes passaram a enxergar as empresas e o seu negócio ou empreendimento.
Os gestores das agências evoluíram de uma visão individualista para um conceito mais amplo do mercado, com aumento das relações, externas ou internas à empresa, seja com fornecedores, funcionários ou no relacionamento com o meio de trabalho.
Gráfico 2 – Indicador 7: Relações e parcerias com outras empresas do mesmo segmento
Nas relações e parcerias com outras empresas do mesmo segmento, a principal mudança foi na forma que as outras empresas passaram a enxergar as agências que pertencem à rede. Passaram a ser identificadas como um grupo organizado, de novas idéias, contatos com maior perspectiva de trabalho, que buscam novidades e mudanças para os seus negócios.
No Gráfico 2, o comportamento existente nas agências antes de pertencer á rede era de 33,33% das empresas com grau 2 e 66,67% com grau 3. Observa-se que a totalidade das empresas mudou sua conduta para grau 4.
Gráfico 3 – Indicador 8: Vantagem competitiva frente à concorrência
Comparativamente (antes e depois) houve melhoria na vantagem competitiva frente à concorrência. Conforme Gráfico 3, antes de pertencer à rede 33,33 % consideravam grau 2 e 66,66% grau 3. Após integrar a rede as empresas passaram a se considerar mais competitivas frente ao mercado, mudando em 6,67% para grau 4 e 93,33% para grau 5.
Esta foi uma das mudanças mais evidenciadas porque ela pode ser comprovada através de relatórios de controle gerencial com um aumento de faturamento e rentabilidade, destacando também o acesso à troca antecipada de informações entre as empresas da rede. Isso possibilitou às agências se programarem melhor para as mudanças constantes do mercado, certamente uma vantagem competitiva dentro do segmento do turismo.
Gráfico 4 – Indicador 12: Grau de satisfação e motivação dos colaboradores
Comparativamente entre os períodos pré e pós-ingresso na rede, houve aumento na motivação dos colaboradores para o trabalho. Conforme Gráfico 4, antes de pertencerem à rede 40% das empresas tinham grau de satisfação e motivação grau 2 e 60% grau 3. Após pertencer à rede a totalidade das empresas considera grau 4 de satisfação e motivação dos colaboradores.
Além da melhoria na comunicação interna, os colaboradores passaram a enxergar a empresa em que eles trabalham com diferencial de mercado por pertencerem a uma rede. Consequentemente houve uma melhora no clima organizacional das empresas, porque as equipes de trabalho sentiram que eles e as empresas fazem parte de algo maior.
Gráfico 5 – Indicador 18: Benefícios gerados pelos fornecedores (viagens e brindes)
Constatou-se que houve diminuição nos benefícios gerados pelos fornecedores para as empresas da rede de cooperação, pois eles passaram a ser entregues para a rede e não mais para as empresas de forma individualizada. Isso está comprovado no Gráfico 5, constando que antes da rede 40% as empresas situavam-se no grau 3 e 60% grau 4. Após integrarem a rede ocorreu o inverso: 60% passou a considerar grau 3 e 40% grau 4.
Gráfico 6 – Indicador 19: Aumento nas comissões geradas pelos fornecedores
Já no que diz respeito ao comissionamento, evidencia-se conforme Gráfico 6 que a totalidade das empresas depois de pertencerem à rede passaram a considerar grau 5 para o aumento nas comissões geradas pelos fornecedores. Antes de pertencerem á rede a evidência era de 46,7% considerando grau 3 e 53,3% considerando grau 4.
Gráfico 7 – Indicador 25: Nº de fornecedores de produtos comercializado
Houve aumento significativo dos fornecedores de produtos comercializados, conforme mostra o Gráfico 7, considerando-se que a tabulação utilizada, inclusive para o próximo gráfico, significa: (1) aumento, (2) manutenção, (3) (redução).
As agências passaram a incentivar mais a venda dos produtos dos fornecedores parceiros da rede e esses parceiros passaram a se preocupar mais com os produtos que eles ofertam visando atender às necessidades dos clientes, o que conseqüentemente fez com que eles diversificassem mais a variedade dos produtos.
Existiam algumas empresas que não vendiam e nem tinham conhecimento de alguns fornecedores que hoje são parceiros da rede, com as empresas passando a vender também os seus produtos, inclusive em parceira com outras agências integrantes da rede.
Gráfico 8 – Indicador 31: Faturamento médio mensal bruto da empresa
Comparativamente (antes e depois), a totalidade das empresas considera que houve aumento no faturamento médio mensal bruto das empresas a partir da participação destas na rede, conforme ilustra o Gráfico 7.
[anterior] [inicio] [siguiente]
Vol. 31 (2) 2010
[Índice]