Hábitos alimenticios y religiosos en Brasil: Consumo utilitario vs consumo hedónico
Maria de Fátima Evangelista Menonça Lima* y Dario de Oliveira Lima-Filho**
Recibido: 18-02-2009 - Aprobado: 10-09-2009
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RESUMEN: El objetivo de este artículo es entender los hábitos alimentarios de dos grupos de personas que pertenezcan a las religiones católicas y protestantes, en la ciudad de Campo grande, sudoeste brasileño. Por ello, fue desarrollado un estudio exploratorio-cualitativo con una muestra de 20 personas, siendo diez de cada grupo. Los resultados mostraron: a) Ambas religiones tienen un carácter utilitario durante la semana y hedonistas durante los fines de semana o fechas especiales y b) la suposición mostrada por la literatura especializada que los individuos protestantes tienen hábitos alimentarios utilitarios y que los individuos católicos tienen hábitos hedonistas no fue observada. Key words: Cultura alimentaria, hábitos alimentarios, católicos y Protestantes |
A alimentação pode ser compreendida como um fato da cultura material, da infraestrutura da sociedade, do comércio de bens, da história econômica e social; em outras palavras, faz parte da estrutura da sociedade. A alimentação também é um fato ideológico, das representações sociais (religiosa, artísticas e morais). Enfim, a alimentação é um objeto histórico de grande complexidde (Carneiro, 2003).
De fato, a alimentação desempenha um papel importante como atividade humana, por envolver aspectos biológicos, sociais, psicológicos, emocionais, políticos e econômicos, elementos fundamentais na dinâmica da sociedade. Uma das razões é que a alimentação é uma prática de grande absorção de recursos financeiros com montantes superiores a outros setores, como o eletrônico e entretenimento (Proença, 2001).
A prática alimentar constitui-se em um dos grandes desafios dos tempos atuais, pois nota-se a busca de padronização do alimento, menosprezando fatores sócio-culturais dos povos, bem como operações simbólicas envolvidas (Poulan, 2004).
A literatura observa dois tipos de comportamento na prática da alimentação: hedônico e utilitário-funcionalista (Rondinelli, 2006; Weber, 1905 / 1987). Segundo o dicionário eletrônico Priberam (2006), a expressão hedonismo vem do grego hedoné (prazer) e remete ao antigo sistema filosófico que considerava o prazer como único fim da vida; doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida moral. Por outro lado, a palavra utilitarismo refere-se a tudo o que visa exclusivamente à utilidade; modo de agir do utilitarista; ou seja, quando se observa somente a alimentação como fonte de sobrevivência do indivíduo.
Em nossa sociedade atual, alimentar-se é um processo complexo, como mostra Carneiro (2003, p. 1-2):
A fome biológica distingue-se dos apetites, expressões dos varáveis desejos humanos e cuja satisfação não obedece apenas ao curto trajeto que vai do prato à boca, mas se materializa em hábitos, costumes, rituais, etiquetas. [...] O que se come é tão importante quanto quando se come, onde se come e com quem se come.
No tocante ao campo das religiões, a alimentação tem um papel importante no dia-a-dia de seus seguidores: permissões, proibições e jejuns são normas religiosas simbólicas comumente absorvidas. As religiões católica e protestante, segundo Max Weber (1905 / 1987), apresentam tendências ao consumo hedônico e funcionalista, respectivamente.
O objetivo deste artigo é buscar desvelar a prática alimentar de seguidores das doutrinas católica e protestante.
Valores são crenças partilhadas ou normas de grupos internalizadas pelos indivíduos, adquiridas através do processo de socialização do ser humano. A adoção de alguns valores presume que determinados objetivos ou condutas sejam preferíveis a outra; pode-se dizer que os valores determinam o quê e como nos emocionamos, da mesma forma que a resposta emocional orienta o valor. Por isso, aquilo que uma pessoa ou grupo preconiza como ideal e recomendável pode ser considerado um valor, já que os valores estabelecem as posturas e condutas consideradas positivas e negativas, atribuindo-lhes, também, diferentes níveis de importância (Montenegro, 2001; D’Angelo, 2004).
A importância dos valores em uma sociedade está no fato de que eles guiam ações, comportamentos, julgamentos, comparações, atitudes e objetivos das pessoas e dos grupos, guardando relativa estabilidade ao longo do tempo. Destas definições e características, depreende-se que os valores influenciam o comportamento das pessoas, ajudando a moldar preferências, escolhas e modos de uso dos produtos. Desse modo, quando é colocada a intenção de conhecer os valores do consumo de produtos de luxo, por exemplo, está-se supondo que determinado grupo de indivíduos enxerga nesses objetos elementos congruentes com suas crenças e normas (Montenegro, 2001; D’Angelo, 2004).
As pessoas que vivem em uma determinada sociedade tendem a preservar muitos valores e crenças. As crenças e os valores são transmitidos de pais para filhos e reforçados por importantes instituições sociais – escolas, igrejas, empresas e governo (Spanhol, Lima-Filho & Lima, 2008).
O ponto de partida para a compreensão do comportamento humano é a constatação de que boa parte do que o ser humano faz não pode ser explicado sem buscar as relações da pessoa com outras pessoas e com a natureza, sendo ele produto e produtor dessas relações num processo histórico. Isso significa dizer que o homem é um ser social, pois se constitui nas relações sociais. Nessas relações o sujeito apropria-se da cultura do universo social em que está inserida sua ação (Lane, 1986).
DaMatta (1984) assegura que a cultura é o principal determinante do comportamento da pessoa e que cada cultura é constituída por subculturas, abrangendo: nacionalidade, religião, grupos raciais e regiões geográficas. Dessa forma, é comum que a prática alimentar seja diretamente afetada pela religião em termos dos produtos que são simbólica e ritualisticamente associados à comemoração de vários preceitos e eventos religiosos (Schiffman & Kanuk, 2000).
As noções de hedonismo e utilitarismo vêm da Grécia antiga tendo como seus símbolos, respectivamente, Dionísio, deus do vinho e do prazer, e Apolo, deus do equilíbrio e da razão (Albornoz, 2006).
Hirschman e Holbrook (1982, p. 92) definem hedonismo como os “aspectos multisensoriais, fantasiosos e emotivos da experiência de uma pessoa com um produto”. O hedonismo é referido, preponderantemente, sob sua forma interna, sendo, nesse caso, fortemente dependente da subjetividade do consumidor, devido ao seu caráter “imaginativo” e de “desfrute mental” de prazeres (Campbell, 2001). Utilitarismo é definido como o envolvimento apenas com os benefícios funcionais do produto, como utilidade, praticidade, rapidez e outros (Foxall & Yani-de-Soriano, 2005).
Segundo Okada (2005), as preferências relativas entre alternativas hedônicas e utilitaristas podem reverter-se dependendo de como a situação se apresenta. Uma alternativa hedônica tende a ser mais bem qualificada em relação à alternativa utilitarista quando cada uma é apresentada individualmente, mas a alternativa utilitarista tende a ser preferida quando as duas são apresentadas em conjunto. Para esse autor, as pessoas são motivadas a ter prazer. Entretanto, ter prazer também levanta questões como culpa e a necessidade de uma justificativa. Conseqüentemente, as pessoas estarão mais predispostas a consumir bens hedônicos quando o contexto de decisão lhes permite a flexibilidade de justificar o seu consumo. As alternativas hedonista e utilitarista são benéficas, no sentido de que ambas oferecem benefícios, e de nenhuma espera-se receber, diretamente, dano óbvio.
Assim, tanto os produtos hedônicos quanto os utilitário-funcionalistas oferecem benefícios ao consumidor. Os primeiros no que diz respeito à apreciação experiencial e os últimos na funcionalidade prática. Por causa dessa diferença, há um sentimento de culpa associado com o consumo hedônico. Por causa dessa culpa é mais difícil justificar despesas em produtos hedônicos e mais fácil justificar gastos em produtos funcionalistas.
Intuitivamente, a culpa e a justificativa são conceitos relacionados competindo para explicar a escolha de produtos utilitário-funcionalistas sobre hedônicos. Um sentimento de culpa pode levantar-se antecipadamente ou em conseqüência de fazer uma escolha injustificável. Uma alternativa pode parecer injustificável se houver um sentimento de culpa associado a ele (Okada, 2005).